Neste mundo conturbado de hoje, vivemos um imediatismo que cada vez mais afronta a ordem normal das coisas.
Com o a chegada do WhatsApp, não se escrevem mais cartas; a figura do telegrama quase acabou, porque só é utilizado para comprovação de que alguém foi avisado de um fato, sem falarmos em outras inovações tecnológicas que mudaram radicalmente nosso dia-a-dia, em função de estarmos sempre com pressa de conseguir o que queremos. E tudo isto nos leva a um imediatismo que há vinte anos, ou menos, sequer existia.
Não cultivamos mais o dom da paciência. Não sabemos esperar: quando desejamos uma coisa, pois queremos que ela venha de imediato.
Embora nós, da família Póvoa, sejamos conhecidos pela impaciência, que deseja “tudo pra ontem”, a vida me ensinou a esperar, pois a paciência nos ajuda a tomar decisões certas na hora certa e nos dá tempo para ouvir a voz de Deus. Quem se apressa comete erros, mas quem tem paciência alcança seus objetivos.
Deus é paciente conosco. Ele nos dá muitas chances para nos arrependermos e nos perdoa quando erramos. Nós também precisamos de paciência com outras pessoas, confiando em que Deus vai agir no tempo certo. Quem não tem paciência pode pedir a Deus, que vai ajudá-lo a ter.
Embora eu não seja um leitor assíduo e fanático da Bíblia Sagrada, sempre colhi em suas páginas preciosos ensinamentos, e os que dizem respeito à paciência ensinaram-me e anda me ensinam muita coisa, que estou procurando aplicar no dia-a-dia.
O livro Eclesiastes exprime isto, pois diz que tudo tem seu tempo, e nada acontece por acaso: “1. Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu; 2. há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; 3. tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; 4. tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; 5. tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; 6. tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; 7. tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; 8. tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”. (Eclesiastes 3:1-8).
O Salmo 37:7-9, por exemplo, preleciona: “7. Descanse no Senhor e aguarde por ele com paciência; não se aborreça com o sucesso dos outros nem com aqueles que maquinam o mal. 8. Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal. 9. Pois os maus serão eliminados, mas os que esperam no Senhor receberão a terra por herança”.
Muitas vezes, queremos ver reparado um mal que sofremos, mas nossa vontade de cultivar esse imediatismo a nada nos leva. E até exclamamos, querendo revidar e “descontar”, dizendo: "Eu o farei pagar pelo mal que me fez!". Mas lá no Livro da Sabedoria recomenda: “Espere pelo Senhor, e ele dará a vitória a você” (Provérbios 20:22.), e nos ensina que “. A sabedoria do homem lhe dá paciência; sua glória é ignorar as ofensas (Provérbios 19:11).
O livro de Jó é o mais eloquente exemplo de que confiar em Deus e saber esperar por Ele é a grande filosofia.
Todos meus amigos e conhecidos sabem o calvário que me aconteceu: sem nada dever, fui submetido ao constrangimento de ser afastado, no auge de minha carreira, do Tribunal a que servi por quase trinta anos e ser tachado de desonesto, quando todos sabem que nada tenho, que meu patrimônio até fica a dever pelo que ganho. Não satisfeitos, meus detratores jogaram-me nas costas nada menos que quarenta e dois processos, dos quais me livrei, provando minha inocência, mas, enquanto o tempo passava eu perdia meus dias até me aposentar, apesar de terem inutilmente tentado me “punir” com uma aposentadoria compulsória, por mais de sete anos de angústia, sendo monitorado pela Polícia Federal.
Até o jornal de Palmas em que escrevi por quase vinte anos fechou-me as portas; e - pior - ele integrou a imprensa que me detratava a cada dia e foi talvez quem mais me atacou. Mas Deus me abriu uma porta maior, no “Diário da Manhã”, onde escrevo o que quero, sem aquela censura a que era submetido na imprensa tocantinense, quando meus artigos eram desvirtuados e sofriam cortes quando o que escrevia poderia desagradar o governo e a Rede Globo.
Deus sabe o que faz. Conformei-me e apesar de tudo, entreguei a Deus. E já estou vendo o resultado: graças a Ele sou sadio, vivo modestamente, mas tranquilo, em paz, e durmo a noite inteira sem remédio e sem os pesadelos que normalmente assaltam o sono dos que devem. E por tudo isto, agradeço a Deus por me ter ensinado a suportar e a esperar a Providência Divina.
E Deus não me fez esperar muito: enquanto estou cumprindo minha missão em paz e sem nada para me assaltar em termos de pagar algum mal que eventualmente fiz, aqueles que tentaram acabar comigo estão caindo, pois Deus sabe o que faz: uns estão com a saúde abalada; outros com a carreira política praticamente acabada e sem as mínimas condições morais de prosseguir sua carreira. É bem verdade que não recuperei a vida antiga, onde ocupei todos os cargos possíveis na magistratura estadual e deixei um nome no setor literário, com mais de duas dezenas de obras, e em outros campos de expressão no Estado.
Isto me faz lembrar uma espécie de parábola, de alegoria que li não sei onde, mas vem a calhar:
“Um homem pediu a Deus que lhe desse uma flor e uma borboleta. Sem nada explicar, Deus deu-lhe um cacto espinhoso e uma lagarta.
Triste e sem entender, o homem recebeu, embora no íntimo ficasse descontente.
Dias depois, do cacto brotou uma linda flor, e a lagarta transformou-se em uma colorida e esvoaçante borboleta”.
Não devemos ficar tristes ou murmurar quando Deus nos dá algo diferente do que se esperou Isto me ensinou que Deus nunca nos abandona: Ele é fiel e sempre nos atende na hora certa e no tempo que Ele marca. Resta-nos apenas ter paciência, fé e confiança.
Nas nossas angústias, às vezes pensamos que Deus não nos ouve, mas Ele pode transformar o espinho do sofrimento e a repugnância de um inseto em bênçãos.
(Liberato Póvoa, Desembargador aposentado do TJ-TO, Membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])