Dirigido pelo jovem e talentoso Damien Chazelle, o filme ‘O primeiro homem’ pode despertar descrédito naqueles que defendem que o homem não foi para a lua e que tudo não passou de uma armação norte-americana. De qualquer modo, a obra emociona por mostrar a capacidade de sonhar e de se aventurar.
A película questiona o dinheiro e as mortes ocorridas no processo, inclusive porque podemos pensar quais benefícios concretos decorreram dessa jornada. Um fato artístico, porém, é que o filme, pontuado pela bela trilha sonora de Justin Hurwitz, o mesmo de “La La Land’, aborda a saga do astronauta Neil Armstrong, que deixou a primeira pegada humana no satélite, com sensibilidade.
A obra enfatiza a perda da filha de Neil, ainda criança, por um câncer no cérebro, o relacionamento dele com seus dois filhos pequenos e enfatiza seu temperamento introvertido e a sua frieza técnica, que muito o ajudaram a ser escolhido como comandante da missão, já que tinha sangue frio em situações de crise e para lidar com a imprensa mundial, tanto nos fracassos como nos sucessos das missões espaciais.
O papel da esposa, brilhantemente interpretada por Claire Foy, é um dos pontos altos do filme, já que lidar com duas crianças e com o cotidiano de um marido que podia morrer a qualquer momento a colocavam emocionalmente em xeque o tempo todo. Isso sem contar os complexos elos de solidariedade com as esposas dos outros nove astronautas que participavam do projeto.
Neil e a esposa, nesse contexto, são muito menos heróis e mais peças de um grande sistema que, fortemente estimulado desde o governo de J. F. Kennedy, tinha na corrida espacial uma obsessão contra a supremacia da URSS no espaço. Nessa guerra ideológica, pessoas individualmente e investimentos astronômicos com um retorno discutível, desempenharam infelizmente um papel secundário.
Em tempo: após a viagem da Apolo 11, em 1969, mais cinco missões pousaram na lua e dez astronautas lá teriam pisado. Se tudo isso é mentira, como alguns acreditam, pelo menos temos que concordar que tudo é muito bem contado. E, de uma forma ou de outra, a capacidade e o direito de sonhar permanecem inalienáveis. Preservar esse espírito é o mais importante!
(Oscar D’Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo)