A princípio faremos um preâmbulo a respeito das palavras: propósitos, feitos e Deus.
Propósito é algo que se pretende fazer ou conseguir; intenção, intento.
Feitos são atos e ações, no sentido de fazer, provar e de comprovar as realizações de determinadas coisas.
Deus é o princípio supremo considerado pelas religiões como superior à natureza. Ser infinito, perfeito, criador do Universo.
Passamos agora a começar a escrever o artigo do título acima. Senão vejamos:
Deus faz. Ele opera milagres, faz maravilhas, atende orações, age poderosamente em fazer dos homens. Mas porque Ele faz? Qual é o propósito dos seus feitos? O propósito dos feitos de Deus é revelar o caminho? Deus nos atrai mediante seus feitos, e quando chegamos a Ele, Ele nos mostra o seu caminho. Os feitos divinos não apenas atraem aqueles que foram diretamente tocados, mas servem para afrontar o caminho a outros também: “Seja Deus gracioso para conosco, e nos abençoe e faça resplandecer sobre nós o Teu rosto, para que se conheça na terra o Teu caminho; em toda as nações a Tua salvação” Salmos 67:1-2.
Observe que quando o salmista ora pedindo a benção do Senhor (Deus fazendo algo em seu favor), ele justifica que isto faria o seu caminho conhecido.
No ministério de Jesus vemos isto acontecendo. Seus milagres atraiam a multidões, e então Jesus ensinava a esta multidão os caminhos de Deus. As pessoas vinham atrás dos milagres do que Jesus podia fazer por elas. Ele as curava, mas sempre ensinava que havia algo mais. Não devemos deixar de pregar e operar os milagres. O que não podemos é deixar de dizer às pessoas que há algo mais. Cristo deixou estes exemplos:
“Grandes multidões o acompanhavam, e Ele, voltando-se, lhes disse: Se alguém vem a mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo” Lucas 14:25-27.
Às vezes, quando enfatizamos os caminhos, vemos pessoas descompromissadas se afastarem, mas isto não é fracasso, caso contrário Jesus teria fracassado, pois isto aconteceu com Ele também. João nos narra que quando Cristo começou a ensinar sobre compromisso, muitos disseram: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir?” E o abandonaram (Jo 6:60,66). Certas pessoas não querem os caminhos, só os feitos de Deus.
Precisamos ensinar e proclamar as duas coisas juntas. Este outro lado da mensagem dos milagres tem sido deixado de lado, e não podemos aceitar isto. É lógico que mesmo pregando os caminhos, teremos aqueles que só querem os feitos. Não estou dizendo que mudaremos todas as pessoas com esta ênfase. Sempre haverá aqueles que, à despeito do ensino que recebem, se recusam a andar nos caminhos do Senhor. Mas temos que fazer nossa parte.
Lembro-me de certa ocasião, no início de meu ministério, em que fui convidado a pregar numa pequena igreja de um bairro de Goiânia, Goiás. Falei sobre o poder de Deus e o que Ele poderia fazer por cada um de nós. Enquanto pregava, um homem em pé na porta me encarava com um semblante de desaprovação; ele não entrou e nem tampouco se sentou, mas não foi embora, ficou até o fim da mensagem.
Concluída a pregação, chamei à frente aqueles que queriam receber imposição de mãos e oração por cura, e este homem veio com os demais que queriam ser curados pelo Senhor. A julgar por seu comportamento, imaginei que não fosse cristão, portanto, a primeira coisa que lhe perguntei antes de orar foi se ele já havia entregado sua vida a Cristo. Ele respondeu que não e comecei a falar sobre a importância deste ato, mas fui interrompido pelo homem dizendo que não queria entregar sua vida a Jesus. Sustei com ele, alegando que talvez ele não houvesse entendido bem o que isto significava, mas ele me interrompeu de novo e disse que não era necessário eu perder tempo com ele, pois não mudaria sua decisão. Perguntei-lhe mais uma vez para me certificar do que ele dizia:
- “Você não quer mesmo entregar sua vida a Jesus Cristo?”
Ele respondeu:
- “Não.”
Tornei a perguntar-lhe:
- “E você quer que Jesus te cure mesmo assim?”
Ele me retornou:
- “Eu sei que se você orar comigo eu serei curado mesmo assim”.
Então impus minhas mãos sobre ele e declarei:
- “Que isto te seja para juízo perante Deus! Sê curado em nome de Jesus”.
E o homem foi embora, curado e nunca mais voltou.
Aprendi com este episódio (que nunca vou me esquecer) que não há como deixar este tipo de gente. Contudo, não é por causa deste que deixaremos de ensinar aos demais.
O caminho tem que ser apresentado e sua mensagem é comprovada pelos feitos, mas o propósito de Deus é que cada um chegue a conhecer seus caminhos. Sem os caminhos, os próprios feitos perdem sua razão de ser!
Existem pessoas que vão às igrejas a procura de bênçãos, mas não a procura do abençoador, e o abençoador é Deus.
Essa é a verdade. A mais cristalina de todas as verdades.
(Hamilton Alves Machado, pastor, professor, advogado, teólogo, com mestrado em Teologia e articulista do Diário da Manhã)