“Se quiser ser amado, ame.”
Sêneca
Encontrava-me distraído, o pensamento longe, quando um amigo poeta se aproximou e, inesperadamente, de chofre, me disse:
"Hoje, para mim, é um dia especial. Meu coração está saltitante de alegria. Age como um pequeno pássaro canoro ao raiar do sol, que, percorrendo aos pulinhos os mais altos galhos de um imponente jatobá frondoso, vai soltando alegres e belos gorjeios prazerosos, comemorando e ao mesmo tempo agradecendo o nascer de um novo dia, grato a Deus por sua liberdade selvática e, especialmente, pelo prazer de espalhar, aos quatro cantos do seu aconchegante mundinho, ao mesmo tempo tão grande e tão pequeno, aquela alegria d'alma estonteante, ao ponto de dar a impressão de lhe querer arrebentar o peito".
Fiquei mais pensativo ainda: afinal, o coração e a alma parecem ter uma "ligação" direta e invisível, porém muito forte, com irradiações intensas e recíprocas por todo o campo emocional e espiritual, que envolve qualquer ser humano. Será mesmo? Certeza absoluta?!
É algo inexplicável, do ponto de vista físico, racional e estritamente material. Isto só pode ser fruto de uma daquelas situações em que o amor fala mais alto, e o coração não se preocupa em buscar razões, justificativas ou explicações para algo que --não entendendo bem--, vai apenas sentindo, deixando fluir naturalmente.
A pessoa fica envolta por uma misteriosa aura mágica, estranhamente benfazeja, leve, como que flutuando dentro de uma nuvem branca, possuída por várias sensações incompreensíveis e díspares. Contudo, muito agradáveis.
Ao mesmo tempo seu corpo físico nada sente de desconfortável, podendo passar pelo impacto táctil e "doloroso" de qualquer objeto contundente, cortante ou perfurante contra a pele --como a picada de uma abelha, por exemplo--, sem sentir nenhuma dor. Dá para entender?!...
Cabe aqui, como uma luva (êta lugar-comum danado!), a famosa frase de Blaise Pascal, que ora soa como uma verdade incontestável: " O coração tem razões que a própria razão desconhece".
Por tais motivos, este tema universal (O AMOR) é tão recorrente entre os poetas, especialmente dentre aqueles que se dedicam à feitura de belas e inolvidáveis músicas, como aquela que alardeia: "Ah! O amor! É um capitoso vinho, que nos embriaga, que nos embriaga, com um só tiquinho".
Simples, não? Ou será algo inexplicável? Incompreensível mesmo?
Esta crônica não tem o propósito de revelar os nomes dos amantes envolvidos na eufórica e real situação descrita pelo vate meu amigo, no segundo parágrafo do texto. Conto o milagre, mas... não digo os nomes dos "santos" envolvidos na milagrosa e verdadeira história. Tampouco possui o condão de explicar (ou ao menos tentar jogar luz sobre) esta questão dúbia e secular. Lanço no ar a indagação e deixo a resposta por conta dos queridos leitores e leitoras, pedindo aos mesmos que me perdoem por deixar este imbróglio em suas mãos. Ou melhor, em seus pensamentos.
Se algum paciente leitor, ou leitora, conseguir chegar até o final destas quimeras e, ao término da leitura, exibir um ar pensativo, alheado e distante, é um sinal evidente (bom ou mau?) de que...
Está lançado o desafio agudo, nada sutil.
(Waltides Passos, juiz de Direito aposentado e escritor; membro da Diretoria da União Brasileira de Escritores - UBE/GO. E mail: waltides.pas[email protected])