Governos sem estratégias são como navios sem direção nos oceanos. As estratégias são necessárias para apontar qual é o melhor caminho que evita as tempestades e aproveita as boas marés que conduzem esses navios para onde querem chegar.
Que seria dos aviões sem um plano de voo? Certamente, cairiam. Com um plano de voo (materializado nos instrumentos), o piloto evita colidir com outro avião, passar por turbulências, obstáculos ou, até mesmo, pousar no aeroporto mais próximo em que pode aterrissar em caso de emergência.
Assim como os navios, os aviões necessitam de estratégias que direcionem o melhor, entre uma infinidade, caminho para chegar a um porto seguro que, no caso, é o destino final do voo.
O raciocínio acima é absolutamente válido para o mundo das organizações (empresas). E, antes de seguirmos em frente, façamos a seguinte distinção entre empresa e organização: toda empresa é uma organização, mas nem toda organização é uma empresa. A empresa tem por objetivo o lucro, já as organizações podem ou não objetivar o lucro. A Enel é uma empresa; o Estado, uma organização. Enquanto o objetivo da Enel gira em torno do lucro, o objetivo do Estado é o de induzir o desenvolvimento econômico e social.
Posto isso, avaliemos a falta que fizeram as estratégias de desenvolvimento no momento que o Estado decidiu, politicamente, dispor de seu maior ativo: a privatização da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. Quanto a isso, vejamos o que apresenta o relatório da CPI criada em 2003 para apontar possíveis irregularidades na aplicação dos recursos.
Despesas sem comprovação de destino (aproximadamente dois milhões, oitocentos e quatro mil reais), pagamento de pessoal por parte da Secretaria da Solidariedade (em torno de setenta e cinco mil reais), falta de esclarecimento da entrada e saída de dinheiro da conta c/c 0070813- (mais de 10 milhões de reais). Fiquemos por aqui, pois a lista é grande.
Ante os fatos é oportuno o seguinte questionamento: por que ocorreu tanto “desperdício” com os recursos provenientes da privatização da Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada? Eis a resposta: por falta de estratégias. Sem estas, o governo ficou a cavaleiro para dispor dos recursos como bem entendesse. A falta de estratégias fertiliza a corrupção.
É por essa razão que, na condição de cidadãos, devemos exigir do atual governo, nestas eleições, que explicite para a sociedade que vive no Estado Democrático de Direito quais são suas estratégias de aplicação dos mais de dois bilhões provenientes da privatização da Celg. Sem estratégias, o “desperdício” é certo. Sem estas, o dinheiro some e deixa a sociedade a ver navios perante o uso político que pode ocorrer com recursos dessa natureza. Que nestas eleições apareça a luz do Sol sobre esse assunto! Onde foram gastos os recursos provenientes da privatização da Celg?
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético pela Unicamp. É autor, entre outros livros, de Goiás a globalização e o Futuro. E-mail:salatielcorreia1@hotmail.com)