Começar na advocacia em Goiás é ser largado de um barco em alto-mar, sem salva-vidas, com a água infestada de tubarões. Parece exagerado, mas é assim que me senti nos três primeiros anos logo após minha inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção de Goiás (OAB-GO).
As dificuldades e inseguranças surgem logo no início, pois falta orientação sobre qual caminho escolher: montar o próprio escritório ou trabalhar como empregada. Por medo de não conseguir me manter sozinha, escolhi a segunda opção, mas é exatamente aí que começaram os problemas.
Em grandes escritórios, o salário raramente ultrapassa R$ 1,5 mil, valor que é irrisório e que impossibilita que o jovem advogado se sustente. Além disso, não há garantias trabalhistas como férias e carteira assinada, além de ficarmos ocupados com tarefas que ninguém mais quer fazer.
Sei que minha situação não foi caso isolado, pois ouço relatos de colegas de faculdade que sofrem com os mesmos percalços. Claro que nenhum de nós esperava começar de cima, mas tínhamos esperança de que a OAB-GO até pela anuidade cara que cobra, pudesse dar algum tipo de orientação.
A ajuda dela, porém, se limita a indicar cursos de aperfeiçoamento, mas, francamente, que profissional em início de carreira tem recursos financeiros para pagar esses cursos? Seria mais eficaz brigar por um piso salarial e pelo respeito a garantias trabalhistas, medidas simples e que dariam condições muito melhores para quem está começando a carreira.
O que mais indigna é que, por mais óbvias que essas medidas soem, falta alguém com coragem suficiente para defende-las. De novo, a esperança era que a OAB Goiás e seu presidente, Lúcio Flávio Siqueira de Paiva, encampassem essa briga, como ele mesmo havia prometido na campanha de 2015.
Engana-se quem acha que brigar pelas jovens advogadas e advogados é lutar apenas pela dignidade no salário. É preciso jovens em cargos na OAB-GO, o que só seria possível com a retirada da cláusula de barreira de cinco anos. Essa é outra decepção com Lúcio Flávio, que prometeu comprar essa briga em nosso nome, mas deixou de lado assim que assumiu a presidência. E, como se não bastasse, assinou a Carta de Goiânia, documento no qual declarou repúdio ao Projeto de Lei 8.289/2017, apresentado à Câmara dos Deputados por solicitação do conselheiro federal Leon Deniz para a extinção da cláusula de barreira “por se tratar de assunto contrário aos interesses da advocacia e com objetivos meramente eleitoreiros”. Quer dizer então que quando prometeu lutar por isso Lúcio Flávio o fez por motivos eleitoreiros? Bom saber.
Todo esse cenário prova que, para mudar de verdade, é preciso ter compromisso com a advocacia. Só alguém que já passou pelas situações vivenciadas pela jovem advogada e pelo jovem advogado pode ter a noção de como é importante ter uma OAB-GO que esteja ao nosso lado, nos orientando, aconselhando e preparando para o mercado de trabalho.
Na eleição de 2015, a advocacia jovem confiou em alguém que prometia uma revolução. O discurso de apoio aos jovens, porém, morreu no dia que o presidente assumiu o cargo. Quase três anos depois, ele continua sentado em cima das próprias promessas e não teve o menor pudor em abandonar a advocacia jovem, que, além de continuar desamparada por quem deveria defendê-la, agora se sente também traída.
(Bruna Rezende, advogada)