Considerada como uma das profissões mais nobres e ao mesmo tempo mais desvalorizada, um paradoxo esquisito, mas puramente verdadeiro, ser professor torna-se a cada dia uma missão difícil de ser desempenhada.
Claro que seria muito mais fácil escrever que ser professor é uma vocação, que trabalhamos por amor, que somos educadores, que trabalhamos para o engrandecimento da nação... Não que tudo isto seja mentira, mas não deveríamos aceitar como sendo somente esta a verdade.
Ser professor em um país que não valoriza a educação é um desafio constante, pois o professor é uma das peças da engrenagem que se chama educação no seu sentido mais amplo; e não o único responsável por ela como se apregoa constantemente. No Brasil em que a educação é renegada e nunca foi tratada como deveria, tudo que a envolve é visto com pouco caso e descrédito.
Nas salas de aula deixou de ser incomum a agressão aos professores; o desrespeito tornou-se a regra; a desvalorização em todos os âmbitos uma constante; vive-se como nunca a era da desmotivação profissional. Tudo isto junto acaba alimentando de certa forma o que se torna a educação no país.
Precisamos urgentemente rever o que queremos. Reavaliar nossos paradigmas educacionais e ter a coragem de admitir que assim não dá mais, que do jeito que está nunca chegaremos a lugar nenhum. Basta de papo furado e viver no mundo do politicamente correto. É preciso admitir que ser professor no Brasil é uma profissão que chegou ao fundo do poço, desde seu processo de formação até sua prática nos milhares de sala de aula.
Há exceções, claro que há. Mas o que adianta ter exceções se elas são tão poucas. Precisamos mudar as características do que é geral, comum à grande maioria da população brasileira, precisamos imediatamente, se quisermos mudar nossa realidade, valorizar de fato a educação escolar brasileira.
E valorizar o professor é essencial. Vocação, amor, missão... forma um cenário muito lindo e primordial, mas nunca será o suficiente para pagar as contas, para evitar doenças como a Síndrome de Burnout e depressão, algo tão comum entre os professores.
Valorizar o professor, entre outras coisas, é dar a ele condições de trabalho; permitir o seu desenvolvimento permanente; estabelecer condutas mínimas de relações humanas para todos os envolvidos nas práticas escolares; oferecer um salário que o dignifique. Mas mesmo assim nada disto adiantará se nossa sociedade continuar desprezando as escolas e a educação.
Sei que tudo isto da boca pra fora já acontece, pois preferimos tampar o sol com a peneira. Mas só mudaremos de fato nossa realidade no dia que tivermos a coragem de admitir que precisamos mudar, quebrar paradigmas, renovar não somente as ideias, mas principalmente as condutas, que se manifestam nas nossas atitudes.
(Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor)