Depois de muitas promessas e baixarias chegamos na semana dos próximos quatro anos em que seremos mais enganados: a semana da eleição.
Em toda parte deste País gigante atado como Gulliver na ilha lilliputiana seguimos patrioticamente como se indo ao abatedouro, o coração batendo na contagem regressiva da passividade bovina.
Entre um espanto e outro trazido por notícias falsas e verdadeiras e verdadeiras e falsas -quem vai saber?, ruminamos calmamente as últimas horas do fim de um tempo chave sem portas para abrir, na forquilha de uma encruzilhada sem saber direito se temos caminhos ou abismos a escolher.
Pois pela primeira vez sentimos que não se trata de votar pelos méritos de um candidato de partido totalmente desconhecido, mas pelos desméritos do outro candidato afundado até a última massa de lama do seu partido.
Dizem que há no mundo mais de 6 mil idiomas e só no português o Aurélio registra 435 mil palavras. Para quê tudo isso? Não existe a palavra certa para essa hora. Palavras e mais palavras, e só as perguntas são reais. Quantas vezes o seu voto realmente mudou alguma coisa? Quantas vezes você já escutou este discurso de um Brasil mais justo e seguro? Quantas vezes você já teve que votar no menos pior?
Por vezes percebemos de forma mais aguda que fomos inseridos em um sistema de grades e horizontes desde o dia em que nascemos. Uma semana como essa surge de tempos em tempos e pode tudo, pelo bem ou mal. O sentimento de angústia e a antevisão das dificuldades que ela prenuncia são, para os fortes, alavancas da inspiração. Ela é ao mesmo tempo sombria e alegre, de ruínas e nascimentos. Um tempo terrível que esgarça as margens da percepção e nos fortalece o espírito para seguir engajado com a vida.
“A Revolução dos Fujões” preconizada no artigo de primeira página deste jornal no dia de ontem, fala do futuro que nascerá nas urnas deste próximo domingo. A “oligarquia das ideologias” citada pelo seu autor, Batista Custódio, é a degeneração que contamina os nossos sonhos, que estão entre os muitos sonhos do jornalista: “Sonho do reencontro do Brasil no idealismo liberal dos políticos”, “sonho de um Goiás liberto da parentalha política”, “sonho do País livrado de outra sucessão presidencial exalando ódios”, sonho que não mais exista “a frente ampla de corrupção estruturada nos três poderes da República” e “nas células neurais que controlam a conduta moral na vida das pessoas”.
Os que nos encontramos diariamente nestas páginas vindas pelo correio do humanismo, testemunhamos a força que emana dos artigos do seu jornalista maior, porta voz da consciência histórica dos goianos. É muita boa esta luz que pelas manhãs palmilha nossos caminhos e faz com que não estejamos a sós no passar desta semana via-sacra.
Batista Custódio soa como um Atlas carregando às costas o incalculável peso da história recente de desleixos e perdas de oportunidades dos verdadeiros políticos se darem as mãos.
Há alguns anos passados presenciamos nas dependências do Diário da Manhã o abraço fraterno induzido por Batista e que reunia governadores goianos do passado, do presente e do futuro. E de nada resultou, pois cada um preferiu seguir seus próprios caminhos sem se dar conta de que juntos tudo seria diferente para todos e para o povo. Embora homens públicos, a verdade é que só pensam na vida, nos interesses e na carreira deles mesmos.
Feliz e infelizmente, é essa desunião reveladora de ambições ocultas e sua disputa insana pelo poder que fortalecem o Diário da Manhã, todos os dias lançado nas bancas contendo um enxame de ideias que picam indignações para todos os lados. Abrir suas páginas é dar conta do perigo e da beleza que acontece lá fora. E da impotência de saber que somos parte da engrenagem humana que segue à nossa revelia e seu voto não vai mudar nada. Sigamos, no entanto.
(Px Silveira Instituto ArteCidadania, presidente pxsilvei[email protected])