Quem nunca foi paciente que atire a primeira pedra! Quem nunca ficou fascinado pelo trabalho de um cirurgião atire a segunda! E quem nunca criticou a ação de um assessor de imprensa atire a terceira! Se você não atirou pedras nessas três situações, assista ao filme ‘O paciente’, de Sergio Rezende.
A obra, lançada em setembro, conta os últimos dias de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil, eleito pelo colégio eleitoral no Congresso Nacional, depois da ditadura militar. O foco está na doença do presidente eleito e nunca empossado, falecido em 21 de abril de 1985.
Deixando de lado o tom ufanista em alguns momentos e o final abrupto, que não comprometem as marcantes atuações de Othon Bastos e Esther Góes, nos papeis do político e de sua esposa, Risoleta, a obra levanta importantes questões. Entre elas, destacam-se o erro médico, a vaidade dos cirurgiões e a relação entre a área médica e a de comunicação.
O diretor enfatiza como, no momento da doença, uma pessoa famosa é igual a qualquer outro ser humano. Também condena os egos hiperdesenvolvidos presentes nas salas de cirurgia e nas juntas médicas, onde, muitas vezes, opiniões pessoais são colocadas acima da saúde do paciente. E, ainda, enfatiza como tratar a assessoria de imprensa com respeito e profissionalismo é saudável para todo o processo de comunicação com a família e com a sociedade no caso de celebridades.
Por tudo isso, o filme lembra que todos nós somos pacientes potenciais de um sistema de saúde nem sempre competente para lidar com as questões apontadas. A base de tudo parece estar na humanidade das relações. Enquanto doentes, médicos e jornalistas agirem como deuses, o resultado será a ira do destino, ele exista ou não.
(Oscar D'Ambrosio, mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo)