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OPINIÃO

Era uma vez um 11 de setembro

As décadas de 60 e 70 do século XX foram manchadas por sangrentas e estúpidas disputas, que custaram inúmeras vidas inocentes e tenras. Neste funesto 11 de setembro, os algozes sempre diante de argumentos injustificáveis, fizeram verter o sangue da mesma cor – capitalistas ou socialistas; direita ou esquerda; cristãos ou muçulmanos; judeus ou ateus; negros ou brancos - ceifando sonhos e paralisando corações latentes. Como afirmou Eduardo Galeano, “na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre”.

Os maiores líderes mundiais, reunidos na gélida Crimeia em fevereiro de 1945, Conferência de Yalta, descortinavam o chamado mundo bipolar (1945–91). Que se erguia cambaleante, sobre a hecatombe da Segunda Guerra Mundial (1939-45), entre as nuvens cancerígenas e radioativas das bombas de Hiroxima e Nagasaqui. Dividiram o planeta em duas áreas de interesses e influências ideológicas, capitalista sob a batuta dos Estados Unidos e outra socialista sob a égide da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Durante todo período, buscaram ampliar seus poderes e suas respectivas áreas de intervenção, fazendo da Guerra Fria, uma “Guerra Quentíssima”!

Entre outras, as principais características que marcaram o período, foi à corrida armamentista, espacial e a espionagem. Uma disputa psicológica, ideológica e tecnológica, que a guerra de propaganda, encarregou-se de difundir mentiras que se tornaram verdades ou vice-versa! Colocando o mundo na mira de mísseis apocalípticos e insanos, numa demonstração da lucrativa indústria bélica e sua capacidade de aperfeiçoamento de técnicas e estratégias de extermínio cada vez mais rápidas e eficientes.

A corrida iniciada pelos Estados Unidos no Japão em agosto de 1945, quando a “Little Boy” e a “Fat Man” – respectivamente nome dado às bombas lançadas em Hiroxima e Nagasaki - ainda com aroma mortífero no ar de corpos calcinados e da chuva ácida cancerígena espalhada pelo cogumelo atômico. Diante de olhos estupefatos e incrédulos, letárgicos e indignados, capitalistas ou não, religiosos ou não, demonstravam a assustadora capacidade intelectual humana e desumana, que muito mais que arrasar vidas, nos coloca agora diante de nós mesmos e de como chegamos nesse estágio de evolução ou involução. “A banalidade do mal” de Hannah Arendt.

A Doutrina Truman (1947) oficializou a Guerra Fria, numa espécie de “declaração de guerra ideológica” às ideias soviéticas. Em resposta, a URSS lança o Kominform, com a finalidade de unificar e uniformizar as ações comunistas no Leste Europeu, sob o controle de Moscou. Desta forma, diante da “Cortina de Ferro” os dois lados buscavam um expansionismo ideológico, sob a vigilância secreta e incessante da CIA e KGB. Em 1949, com a detonação da bomba atômica soviética, a corrida armamentista tinha um novo episódio, com a formação da OTAN pelos Estados Unidos. Que em 1955, a URSS criou o Pacto de Varsóvia, acirrando ainda mais as relações leste-oeste.

O papel das superpotências direta e indiretamente no cenário mundial, descortinou a temporada de caça – Guerra da Caxemira (1947-...); Guerra da Coreia (1950-53); Guerra do Vietnã (1955-75); Guerra Irã x Iraque (1980-88); Revolução Chinesa (1949); Revolução Cubana (1959); Primavera de Praga (1968); que resultaram numa demonstração explícita e estúpida da crueldade humana, em nome do fanatismo ideológico político e religioso.

Um capítulo especial deste período ficou para o avanço das ditaduras de direita, com o aval e o financiamento estadunidense, com o incondicional apoio das elites latifundiárias e ligadas ao capital internacional na América Latina. Com um discurso imoral e em nome do combate a uma suposta “ameaça”, tomaram o poder, num tsunami de golpes militares e suas baionetas cravadas na democracia e no coração do povo, que bravamente resistiram aos patifes que se apresentavam como “salvadores da Pátria”. Iniciava-se a escrita de uma das páginas mais brutais e sórdidas de nossa História, em defesa da “Família com Deus pela Liberdade”.

No pleito de 1970, Salvador Allende venceu Jorge Alessandri candidato da direita, com uma plataforma de governo, que propunha entre outras, transformar o Chile em um regime socialista, mas pela chamada “via chilena ao socialismo”. Naquilo que foi qualificado de estilo “empanadas e vinho tinto” - por meios pacíficos, democráticos, assegurando a liberdade de imprensa e o respeito à Constituição. Foi inicialmente bem vista por parte dos adeptos da Democracia Cristã, que também se envolviam em processos reformistas como a reforma agrária, por exemplo.

Os grupos de ultradireita, agrupados no Partido Nacional, nos movimentos Patria Y Libertad e Poder Femenino, tentaram por todos os meios derrubar o Allende eleito democraticamente, com respaldo financeiro e material da CIA, que também conspirava para destituir o governo da Unidade Popular, por não convir aos interesses dos Estados Unidos. Todas as tentativas democráticas para derrubar o governo não foram exitosas e indiscutivelmente pelo grande apoio que recebia da população. Uma possível alternativa para o impasse político seria um plebiscito, que não aconteceu.

Portanto, não nos esqueçamos de também do 11 de setembro de 1973, quando um golpe militar de direita, solapou um regime democrático, constitucional e seu presidente Salvador Allende, no Chile. Tendo sido articulado conjuntamente por oficiais sediciosos da Marinha e do Exército, com apoio militar e financeiro dos Estados Unidos e da CIA. Bem como seus pares não menos covardes e carniceiros, organizações terroristas chilenas de tendências nacionalistas-neofascistas e liderada pelo mais canalha de todos, general Augusto Pinochet. Que bombardeou o Palácio La Moneda em Santiago, naquela manhã não menos cinzenta, pungente, asquerosa e inesquecível, como aquela em New York em 11 de setembro 2001.

As vítimas inocentes assassinadas pela covardia e a intolerância da ditadura militar no Chile, não são menos valorosas que as mesmas vítimas dos atentados ao WTC nos Estados Unidos. Intolerância ideológica política ou religiosa são igualmente detestáveis e injustificáveis! À direita ou esquerda, a religião ou sua ausência, não nos torna melhores ou piores. Nossas ações e nosso caráter, que serão determinantes para que haja respeito e mudanças!

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