“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, é uma expressão conhecida há séculos porque constata uma dura realidade: as pessoas têm grande tendência a falar muito, mas escutam pouco. Ouvidos, temos dois, um de cada lado da cabeça. Boca, apenas uma. Mas qual desses órgãos, de fato, gere a nossa vida?
Hoje, está claro que nossos maiores problemas de relacionamento giram em torno da dificuldade de comunicação e diversas pesquisas demonstram que o que falamos não é o mesmo que os outros escutam. As palavras ditas podem ser compreendidas de forma diversa da que gostaríamos que fossem interpretadas, pois ressoam no universo dos significantes de quem ouve.
Em razão disso há tantos desencontros nas conversas… Aquela máxima “é conversando que a gente se entende” pode acabar se tornando “é conversando que a gente se desencontra”. Tudo depende de como ouvimos o que o outro fala e se checamos como ele ouve o que dissemos.
Entre as técnicas de comunicação há uma muito importante: a de parafrasear. Através dela, fazemos um pequeno resumo do que a pessoa disse: “Estou entendendo que você me disse isso e aquilo”. E quantas vezes nos surpreendemos porque a pessoa afirma não ter dito nada do que pensamos ter ouvido! E completa: “Eu disse na verdade que…”
Treinar a técnica de parafrasear pode nos ajudar a resolver vários mal-entendidos.
Perguntar também ajuda bastante. Sim, perguntar o que tal coisa significa para a pessoa e nos mantermos curiosos por sua resposta, em vez de interpretar apressadamente o que achamos que ela quis dizer. Quantas vezes, nas nossas conversas, agimos como o aplicativo do Whatsapp que completa e corrige o que estamos escrevendo?
Saber escutar também é conceder à pessoa que está falando o tempo que ela precisa para completar o seu raciocínio, sem interrompermos, completarmos ou corrigir apressadamente. Quantos encontros ou reuniões acabam em discussões sem fim porque as pessoas simplesmente não se sentem ouvidas e ficam repetindo o que pensam que ninguém entendeu.
O indivíduo que silencia para escutar, desenvolve a curiosidade sobre o que o outro quer realmente dizer, perguntando para esclarecer, sem interromper bruscamente o raciocínio de quem está falando. Assim, demonstra interesse no que está sendo dito, exercitando seu senso de análise e colaboração. Ele realmente tem ouvidos para ouvir e não apenas para se distrair!