A pandemia está a se esvair, encaminhando-se para sua fase endêmica, tal qual a Influenza. Graças ao Senhor Jeová. Louvemo-LO e O glorifiquemos. Falemos, então, de epidemia de costumes (linguística) em nosso quotidiano brasileiro, suavizando o ambiente carregado que ainda nos envolve, resquício da Covid-19. Há cidadãos e cidadãs, aqui e alhures, sem nenhuma clemência à ortografia, dizendo “Goiais”, “Goiais”, Goiais”, especialmente no âmbito televisivo. E até naturais do pedaço expressando-se assim. Que pena!
Ora, não se trata de ditongo a última sílaba do substantivo Goiás; não existe a vogal “i” após a similar “a”, formando esse pseudoditongo e essa talvez preconceituosa sílaba na dicção do nome de nosso maravilhoso Estado. Cuida-se, sim, se não equivocado estou, de um vocábulo dissílabo, s.m., com acento agudo na última sílaba, assim denominado oxítono, na grafia de nosso acolhedor espaço federativo. Ainda que forte no que enfoco, não há aqui nenhuma pretensão didático-pedagógica e tampouco caráter de ofensa àqueles que dizem “Petrobrais”,
“Fieis”, “Suis”, “Jesuis”, “Bebeis” e por aí vai, tratando-se da empresa petrolífera, o fundo
estudantil, o sistema de saúde, o filho de Deus e os recém-nascidos.
O nome de uma entidade, seja física ou jurídica, é seu patrimônio, não pode ser alardeado vulgar e aleatoriamente, como in casu, ferindo – pelo desleixo – o bom e digno povo goiano. É simples, é ajustar-se à ortografia. E cabe dizer: nenhuma relação com sotaque ou regionalismo, sincretismo, mas neologismo, fator de perturbação ao sistema ortográfico. Diz-se “Rio de Janero” (suprimindo-se o “i”), e então, ali, uma síncope, e cá, um acréscimo. Todavia, idiossincrasia ou não, ouçamo-los respeitosamente. Entretanto, com todas as vênias, reitero – e a Ortografia agradeceria muito, tomo a liberdade de sugerir novo conceito nessa injustificável postura, porque, fundamentalmente, em homenagem aos símbolos e tradições desta grandiosa unidade federada e sua gente. Vejo com reserva propagandas de órgãos do governo, com pessoas contratadas, alienígenas, dizendo “Goiais”. Nada mais incongruente.
Intolerância, não, por certo, é que sou goiano e aprecio a excelência: o deleite da música erudita, ouvir a quem domina e ama o vernáculo e beber na fonte daqueles cuja verve encanta, daí minha dificuldade para lidar com isso. Indo mais longe, é bom lembrar que as primeiras “entradas” por estas bandas, efetuadas por bandeirantes há mais de 300 anos (1680 /1720), autorizadas pelo Rei de Portugal D. João V, aqui encontraram gentios bárbaros, listados como caiapós, arachás, quirichás, bareris – e, vejam só, os guoiás, e não guoiais. Desde antanho, ainda umbilicalmente ligado ao atual Estado do Tocantins, não há essa vogal “i”, sequer bastarda, incrustada em seu nome. Portanto, sem qualquer sentido atribuir, pejorativamente ou não, a designação de “Goiais” à nossa linda e formosa terra. E até “do Goiais”, ouve-se sempre. Vê-se que...
Verdade é que historiadores já aqui chamaram de “Província de Goyaz” e” Capitania de Goyaz”, a exemplo, àquela época, das chamadas Capitania de São Paulo e Vila de São Paulo de Piratininga,
esta hoje a metrópole de São paulo, e de onde partiram as bandeiras. Mas, atente-se e vale dizer também, cá se chamou “Goyaz”, e não “Goyaiz”; não herdamos essa dita vogal “i” e nem introduzida fora a posteriori por qualquer mudança ortográfica, quando então jamais seria “Goiais” a pronúncia em nossos dias, e que se configura, perdão, invencionice. O nobre leitor e a atenta e inteligente leitora, goianos notadamente, ouvem sempre isso – e, possivelmente, creio, com algum desconforto. Sem dúvida, algo estranho à pronúncia culta da língua e inexistente na grafia da divisão política da região Centro-Oeste (não há “Goiais” ali).
Tenho para mim que algo há de preconceito (meios sócio-econômicos evoluídos), não tanto descuido/despreparo, e, por certo, exibicionismo/ilusão de neófitos profissionais à busca de notoriedade, especialmente nos veículos de comunicação. Entretanto, observam-se mudanças sociais significativas neste mundo absolutamente destrambelhado, tanto para melhor, quanto para o pior. Há pouco, Goiás era sinônimo de atraso, e falar dele (já com o DF encravado em seu território), nada significava ou motivo de chacota era. Para nossa felicidade, tem brotado um arremedo de melhor consideração, e o Estado, pela pujança, desenvolvimento e localização estratégica – com consequente importância no cenário nacional – será citado corretamente, com tratamento igualitário, sem preconceito e sofismas.
Vejamos: ostenta vigor, pelo fortíssimo agronegócio, mineração; crescimento/progresso, por fatores diversos – montadoras de automóveis, metalurgia, indústria farmoquímica, têxtil, da alimentação, do vestuário etc. Rodovias duplicadas, ensino universitário, lembrando aos não otimistas que muito há a fazer ainda. Turismo em franca evolução, com pontos admiráveis em todos os quadrantes, apreciados e conhecidos nacionalmente. Não, pois, a preconceitos étnicos, sócio-culturais e geopolíticos. É oportuno voltar no tempo novamente, recordando que Wagner, compositor alemão do “bel canto”, há 200 anos, já dizia do “apreço e respeito que deviam os povos ao seu torrão natal, às suas origens”. E o modo de falar, a simplicidade, o “jeitão” de nós, goianos, é outra história – nenhum reparo. Estamos tratando de ortografia agredida, linguajar chulo relativos ao nosso Estado, aviltando nossa goianidade.
E olhe que coisa: da capital – a beleza, conhecida além-fronteiras, pelas lindas mulheres, o verde dominante, a suntuosidade de seus edifícios, luxuosos condomínios, shoppings e adensamento digno de metrópole, por moderna construção civil, praças e logradouros esportivos, albergando o prestigiado Estádio Serra Dourada e o badalado AIG – Autódromo Internacional de Goiânia, que encantam, medicina de 1º mundo. A revitalização do centro histórico e um transporte público decente (BRT já chegando) ainda acontecerão, pois contrastam fortemente com a outra realidade, são promessas e clamores antigos, ferindo nossa suscetibilidade. E bom lembrar da imperial, histórica e cosmopolita Cidade de Goiás, antiga capital, habitat da não menos laureada poetisa e escritora Cora Coralina, e hoje terra do importante e concorrido Festival Internacional de Cinema – o FICA.
Não faz tempo, administrada e modernizada ela, nossa bela Goiânia, e representado o notável Estado, por dois extraordinários gestores, tendo, lamentavelmente, um deles, deixado a vida
pública, com imensurável legado (tão grande quanto sua biografia), vindo a falecer, ambos,posteriormente, para o nosso mais profundo pesar, perdas essas, sim, irreparáveis, tanto quanto para a cidade. Cuidar da coisa pública, era o dom deles.
Destarte, e por último, vamos abraçar esta causa, sublime por demais, com orgulho: identidade respeitada já ao nosso chão. Parabéns, insigne Goiás!