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Pé de Flor: ícone da música goiana

“Floresceu, pé de flor flora. Flor e céu, rio e mel, meu. No lugar onde o amor mora. Manheceu, sorriso seu...” Durante o histórico movimento, declarado patrimônio cultural imaterial, que tornou Goiânia, a Capital Brasileira da MPB ao vivo nos bares (segunda metade da década de 1970 até o início dos anos 90), os artistas goianos criaram uma produção autoral impressionante.

O repertório era formado, não apenas por músicas estouradas de artistas, como, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Gal Costa, Maria Bethânia, Gonzaguinha, Elis Regina, Taiguara, João Bosco, Djavan, Zé Ramalho, Alceu Valença, Ivan Lins, Jorge Benjor, Tom Jobim, Carlos Lyra, Baden Powell, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho e Vinicius, dentre outros. Havia também canções no estilo MPB, que gostaram o público goianiense, de excelente qualidade, de autoria de artistas da terra.

Dentre elas, podemos citar: De Dois (Gustavo Veiga e Carlos Brandão), Pega e Roda Gigante (João Caetano e Otávio Daher), Último Sopro (Fernando Perillo, Bororó e Carlos Ribeiro), Araguaia (Rinaldo Barra e Luiz Junqueira), Avesso (Nilton Perillo), Louca Magia (Pádua), O que será de nós (Cesinha Canedo), Cantiga Boa (Itamar Correia), Dodói (Juraíldes da Cruz), Aragem (Lucas Faria), Manakereki (Wanda D´Almeida e Adalto Bento Leal e tantas outras.

Mas, “Pé de Flor”, de Carlos Brandão e Flávio Dell’Isola tornou-se, no âmbito da cultura musical, a obra mais gravada e em diferentes versões, de todos os tempos em Goiás. Nesse ineditismo já são contabilizadas até agora dez versões: (1989) LP Gosto De Sol, com Luiz Augusto e Amauri Garcia (estilo regional); (1995) CD Dom De Navegar, com Flávio Dell’Isola em duas versões: o disco abre com ela no estilo balada e fecha na versão pop/funk; (1999) CD Noites Goianas, com Gilberto Correia (pop); (2003) CD Som e Ar, com Marcos Morgado (instrumental jazz); (2008) CD Deep Brasil, com Deep Forest et Flávio Dell’Isola (world music); (2016) DVD, com Carlos Brandão (MPB); (2016) CD João Canta Brandão, com João Lucas, diretor artístico do Vaca Amarela (indie); (2021) Giana Cervi (estilo bossa/jazz) e, em breve, no idioma francês, com Flávio Dell’Isola (jazz).

“Feito alguém sonhando. Em algum lugar. Me guardei, coração só. Feito alguém brincando. Sonhos de voar...” Essa obra-prima, criada em 1983 (letra de Carlos Brandão e música de Flávio Dell’Isola) seria digna de abrir exposições dos grandes mestres das artes visuais. Dos bares, palcos e discos, ela se transformou em quase 40 anos numa espécie de hino do melhor da MPB goiana. Uma referência obrigatória para todos que queiram conhecer ou contemplar o que existe de mais extraordinário na produção autoral em Goiás.

Quem não é daqui ou desconhece os cantores goianos, imagina tratar-se de uma música de Caetano Veloso, Chico Buarque, Alceu Valença, Djavan, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Zeca Baleiro, Wanessa da Mata ou da banda Melim, tal a qualidade primorosa dessa obra, inspirada na paixão de Flávio, sob influência da musicalidade do Clube da Esquina, então com 19 anos, por uma garota e da sensibilidade poética do seu parceiro, Carlos Brandão, natural de Mossâmedes.

Naquela época, conforme relata Flávio Dell´Isola, nascido em Uberlândia, mas goiano de coração - 5 meses após conceber esse clássico, mudou-se para a Europa e mora em Roubaix (norte da França) -, as melodias eram gravadas em fita cassete, com violão e, depois, repassadas ao letrista. Flávio chegou numa casa de amigos pegou o violão e fez a música inteira, sem interrupção, enquanto os amigos conversavam. No dia seguinte, gravou numa cassete e passou pro Brandão, criador da letra.

“Tantas fiz que brotei. De manhã por querer. Renascer como o sol faz. Se você entender. Que acordei de sonhar. E se o amor lhe bastar. Vem...” E, das cabeças dos artistas da música cultural goiana, de todos os estilos, continuam brotando obras fascinantes, que deveriam merecer mais atenção das emissoras de rádio e web em Goiás. Pena que a maioria da população no Estado ainda não conheça a qualidade fabulosa, sobretudo, da nossa MPB.

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