Opinião

A crise econômica

Redação

Publicado em 2 de abril de 2015 às 02:29 | Atualizado há 10 anos

Valdivino de Oliveira ,Especial para Opinião Pública

Ah! É a crise econômica. A desculpa para qualquer resultado ruim, tanto no setor público quanto no setor privado, é a crise econômica. 2015 será um ano perdido? Para muitos, será. Para outros não será um ano perdido. Para aqueles, é fácil transferir ao desequilíbrio atual da economia, o resultado de um trabalho exercido com pessimismo e acomodação. Para aqueles que trabalham com criatividade, otimismo e confiança a crise é passageira e é possível vencê-la.

Às vezes, em sala de aula temos que responder perguntas que colocam em cheque nossa capacidade de vencer a crise. O conhecimento teórico e a prática do trabalho, principalmente de nós, que exercemos o direito à crítica, como político ou professor, são constantemente testados. Nesta semana, durante minhas aulas de macroeconomia, quando analisava a crise econômica de 2015, um aluno perguntou: “Professor, o que você recomenda como políticas para sairmos desta crise?”

Antes de responder, vamos analisar como a crise surgiu em nossa economia. Nos quatro anos anteriores, a política econômica do governo foi duramente criticada pela oposição. Como deputado federal e professor, por diversas vezes critiquei e apontei os equívocos destas políticas. Se no campo real, a política macroeconômica deveria buscar o crescimento e a estabilidade da economia e no campo monetário, o fortalecimento do sistema financeiro, no campo político as ações do governo visava o sucesso eleitoral. Foram advertidos, mas insistiram na política econômica planejada.

No campo real da economia a produção vem caindo ano após ano. O custo Brasil tornou nosso produto industrial sem competitividade, relativamente aos produtos gerados no resto do mundo, e instalamos um longo período de desindustrialização. Não há perspectivas econômicas que possibilitem a retomada do processo de industrialização. Tornamos-nos exportadores de matéria prima, principalmente de commodities e de produtos primários, com forte atuação do setor de agricultura e minerais. Passamos a importar bens elaborados ou semi elaborados, fechando indústrias e inibindo o investimento privado tanto em modernização quanto em novas implantações industriais. Os Países do grupo econômico do Brasil investem cerca de 30% do PIB. Investimos em 2010 só 20,6%. Em 2014, 19,7%. Exportamos produtos com pouco valor adicionado e importamos os de muito valor adicionado.

Os formuladores da política econômica no Brasil, levando em conta a queda dos investimentos e que as exportações líquidas se tornavam cada vez mais negativas, apostaram em promover o crescimento da economia através do consumo e do gasto do governo. Politicamente, era mais interessante a política do bem estar da população e os avanços das políticas sociais deveria ser alcançados, principalmente pelo consumo, mesmo que para isso fosse necessário deteriorar as contas públicas e fragilizar o sistema financeiro. Desoneraram de parte dos impostos, bens de consumo duráveis, tais como automóveis, geladeiras, televisores, fogões, materiais de construção, etc. Reduziram juros, por decreto, não pelas livres forças do mercado financeiro, e adotaram a política de preços administrados, principalmente de combustíveis e de energia, com subsídios públicos. Fragilizaram o setor energético. O único objetivo da Política econômica, neste caso, era aliviar o orçamento do consumidor proporcionando-lhe mais oportunidade de consumo. Dava mais voto. Construíram a imagem de um País com equilíbrio econômico e com inclusão social, cujo marketing agora é chamado de estelionato eleitoral. Venderam um Brasil e entregaram outro.

A política de incentivo ao consumo e de aumento dos gastos públicos, combinadas com a redução das receitas tributárias, acabou reduzindo, cada vez mais, o superávit primário do setor público. O programa de liberação de recursos do sistema financeiro para incentivo do gasto público ou de consumo das famílias, lastreados por emissão de títulos públicos elevaram nossa dívida pública para 64,4% do PIB, uma das maiores do mundo. Assim, estas políticas econômicas provocaram a aceleração da inflação. A Inflação anualizada chegou rapidamente a casa de 8%, enquanto o crescimento da nossa economia, segundo dados publicados recentemente pelo IBGE, só registrou crescimento de 0,1% (melhor dizer estagnação e não crescimento). Hoje vivemos um momento de estagflação, como bem define a teoria econômica.

O déficit público e o consumismo submetido à nossa economia trouxeram um problema ainda maior: A queda na formação de poupança. A poupança de uma economia, em equilíbrio, deve ser suficiente para financiar o investimento. Em 2010, a nossa formação de poupança bruta foi de 19,2% do PIB. Em 2014 só 15,8%. O Brasil vem recorrendo à poupança externa como fonte de financiamento para o investimento e para financiar o saldo negativo de exportações. Os juros internos se elevam e se elevarão mais se o risco Brasil aumentar.

Vejam a armadilha econômica a que vamos nos submeter em 2015 e nos próximos anos. Como evitar a recessão, o desemprego, à inflação alta, e, como dar qualidade ao gasto público, com superávit primário de 1,2% do PIB e como revitalizar o setor financeiro do País? Na próxima semana vamos tentar responder estas questões.

 

(Valdivino de Oliveira,ex-deputado federal (PSDB/GO) e professor de Economia (PUC/GO)

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