Opinião

A Lava Jato na terra do Anhanguera

Diário da Manhã

Publicado em 19 de abril de 2016 às 03:36 | Atualizado há 9 anos

Contou-me um ex-professor certo episódio que ora exponho. O assunto me parece oportuno para retratar o atual momento em que a lavagem de dinheiro no exterior vem sendo evidenciada pela operação Lava Jato. Para isso, todavia, voltemos à França do pós- guerra.

Naquela ocasião, um amigo político confidenciava a outro companheiro de partido: “Você vai ser ministro”, disse. Ao receber a notícia, o outro político prontamente respondeu: “Ótimo. Vou ficar rico!”.

Convém lembrar qual era o mundo daquela época, que dava a certeza ao futuro ministro de Estado de que ele ficaria rico à custa do dinheiro fácil da corrupção – mesmo num país desenvolvido como a França. Era o mundo pré-globalizado, em que esconder fortunas em paraísos fiscais e em contas codificadas na Suíça fazia a alegria do primeiro e do terceiro mundo, este, perante absoluta fragilidade de suas instituições, fomentava ditaduras sanguinárias que enriqueciam uns poucos à custa da miséria de seus povos.

Os bancos suíços e suas contas numeradas sem nomes se tornaram um polo de atração para o dinheiro advindo da corrupção de todos os recantos do planeta. Nos paraísos fiscais altamente dependentes desse tipo de capital, a coisa era ainda mais facilitada pela total conivência dos governos locais. Sigilo garantido fazia a alegria, aqui mesmo na terra de corruptos. Com isso, fortunas e mais fortunas fluíam para os paraísos fiscais.

Dizem os sábios que as realidades mudam como mudam as figuras do caleidoscópio. E o exemplo de ocultar dinheiro no exterior parece estar com seus dias contados. Na Suíça, o governo, refletindo a indignação de seu evoluído povo, não quer mais ver sua imagem associada ao sigilo que acoberta a corrupção. Prova disso é a intensa colaboração que vem dando aquele país revelando informações das contas numeradas.

Outro fator que evidencia esta nova realidade é a nova sociedade em rede de informações que se comunica de um canto a outro do planeta, com isso, munindo de informação o judiciário dos países que combatem a corrupção.

Aqui no Brasil, basta observarmos os peixes graúdos da política nacional, expostos que estão à justiça e ao bombardeamento da mídia – completamente livre no Estado Democrático de Direito. O poder da nova sociedade que se evidencia e manifesta-se no rigor de suas instituições que, hoje, combatem a corrupção.

Cá na terra do Anhanguera, iludem-se aqueles que pensam que ficarão impunes. Caixas pretas serão abertas. Cortar a cabeça da cobra significa que o rabo aparecerá, assim, liquidando a carreira política e colocando na cadeia quem se aventure a amar o que sempre amou: o dinheiro público.

 

(Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético, autor, entre outras obras, de Cheiro de Biblioteca)

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias