Opinião

A parábola da dracma perdida

Diário da Manhã

Publicado em 5 de março de 2017 às 01:28 | Atualizado há 8 anos

“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa e procura diligentemente até encontrá-la?

E achando-a, convoca as amigas e vizinhas e lhes diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que havia perdido!’

Assim, eu vos digo que, do mesmo modo, há grande alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende”.

(Evangelho de Lucas, cap. 15, vv. 8 a 10).

 

Jesus narrou três parábolas para demonstrar a importância do soerguimento espiritual dos que se desviam do caminho reto. Por isso, o Mestre usou das metáforas da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho que se perdeu em seus equívocos e imprevidências. Nessa trilogia, Jesus revela os júbilos do reencontro e da comemoração dos que trabalham em favor do bem e do progresso espiritual.

Nesta parábola, que é uma continuidade da parábola da ovelha perdida, uma mulher possui dez dracmas e Jesus verifica a hipótese da perda de uma delas.

A dracma era uma moeda de prata grega equivalente ao denário romano, a qual valia seis óbulos. O óbulo era a moeda grega de menor valor. A dracma, assim como o denário, era o pagamento de um dia de trabalho no campo.

Champlin e Bentes (1997, vol. 2, p.231, Candeia), autores da Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, assim elucidam:

“Na Grécia antiga, a dracma era tanto uma unidade monetária como a unidade padrão de peso para a prata. Em Atenas, a dracma pesava 4,37 gramas, e a moeda padrão de prata era uma peça de quatro dracmas (…). No entanto, em Corinto a dracma pesava 2,8 gramas, e a moeda principal era uma peça de prata de três dracmas, chamada estáter”. O que comprova que não existia uma unidade padrão para a dracma.

Dez dracmas correspondiam, portanto, a dez dias de trabalho no campo. Perder uma dracma correspondia à perda de um dia de trabalho, o que representa as perdas de tempo e de energias física e mental. Tal simbologia também é extensiva à perda de uma ou de mais encarnações devido à imprudência ou à negligência no proceder.

O Mestre nos ensina que para encontrar a moeda perdida serão necessárias três virtudes:

I – Consciência iluminada. Isso, por meio do cumprimento dos deveres morais, do cultivo de bons hábitos e do conhecimento das verdades espirituais.

Não se deve procurar o que está perdido sem acender a candeia consciencial, sempre por meio dos desapegos do materialismo e do personalismo associado aos combustíveis do amor, da justiça e da caridade.

II – Organização, tanto de natureza material quanto espiritual, para saber viver com o necessário, com simplicidade e sabedoria.

Não se deve procurar o que está perdido sem varrer a casa mental dos maus pensamentos. Necessária providência organizacional para se alcançar a “pureza de coração”.

III – Perseverança no agir, para atingir os objetivos evolutivos delineados, sem desistir devido aos obstáculos transponíveis.

Não se recupera o que está perdido sem esforço, sem disciplina e sem abnegação, virtudes básicas para se “perseverar até o fim” até o reencontro consigo mesmo e com Deus.

A mulher nesta parábola simboliza a Vida. As moedas gregas representam os valores estabelecidos por Deus. As dez dracmas representam as leis de Deus. A perda de uma moeda representa a falta de observação de uma das leis do Pai. Estar em harmonia com todas as leis de Deus é a felicidade plena, a qual deve ser compartilhada com todos aqueles que também estão em harmonia com Deus.

O Espírito imortal é o maior valor da Criação divina. Quando, pelo mau uso do livre-arbítrio, um Espírito se desvia do Caminho da Evolução, grande lamento se abate sobre aqueles que o amam. Somente depois que se volta aos ditames do Senhor, esse Espírito recobra as energias para percorrer o caminho reto, temporariamente menosprezado ou esquecido. Esse retorno causa grande alegria à Comunidade Celeste porquanto o batismo do arrependimento inundou um Espírito cansado dos descaminhos da amargura e da insensatez.

Ainda que não os percebamos, somos observados com frequência por incontáveis espíritos de diversos matizes evolutivos. Eles nos procuram e a sintonia se estabelecerá com os que vibram nas mesmas sintonias espirituais que as nossas. Somos as ovelhas e as moedas procuradas e, ainda, os filhos pródigos esperados. No entanto, o esforço do retorno para a Casa do Pai dependerá exclusivamente de nós. Iniciemos, portanto, ainda hoje, esse sublime e tão esperado regresso.

O divino Messias também nos informa que muitos anjos de Deus velam por nós e esperam por nossa redenção. Muitos desses anjos são familiares ou entes queridos que alcançaram grande elevação espiritual, ao longo dos séculos ou milênios, mas não pudemos acompanhá-los.

Acendamos a candeia consciencial com os combustíveis do amor e da verdade. Organizemos as nossas vidas tanto no plano moral quando no plano material, perseverando no Bem e superando medos e obstáculos.

Cantemos hinos de louvor ao Pai Eterno que nos deu a vida e agora almeja nos proporcionar a felicidade plena. Isso, por meio do suor do trabalho evolutivo para que mereçamos a nossa dracma espiritual que nunca será perdida.

 

(Emídio Silva Falcão Brasileiro é autor das obras Um dia em Jerusalém, A Caminho do Deserto e Sabedoria)


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