A verdade
Diário da Manhã
Publicado em 23 de agosto de 2016 às 02:20 | Atualizado há 9 anosÉ o que todo mundo busca. A verdade. O canal para se conhecer os fatos. A ela só se chega sem passionalismo. Por isso, difícil conhecê-la de imediato porque somos movidos por paixões. As mais variadas, e por muitos motivos. O que me leva a acreditar que não existe verdade a olho nu.
Por sermos dotados de fortes doses de ciúme, desconfiança, medo, raiva e discórdia, nos tornamos cegos, e são nesses exatos momentos que a paixão entra em contradição com a razão. No entanto, razão é do que mais o homem precisa. Quando esta falta, vem o desequilíbrio.
Entendo, de modo simples, que a razão é a habilidade para fazer avaliações de maneira correta; em que há juízo; bom senso. Um exemplo, também simples: o álcool acaba com a razão de qualquer um. Alcoolizado eu não analiso como se deve enxergar os acontecimentos, porque estou fora da razão.
E tem mais. O ser humano quer saber a verdade, contando que a verdade que ele procura seja a verdade que ele quer ou a que ele mesmo construiu em sua mente.
A prova da verdade é ela em si. No resto, é dissimulação da verdade. A verdade até pode ser contestada, mas não perde o seu conteúdo.
Nada pior do que uma verdade construída, com testemunhos e tudo, para se ocultar a verdadeira face da verdade. Lamentável, mas é o que mais existe. O homem em nome do seu interesse é um mentiroso. As exceções deixo por conta das exceções. Raríssimas, diga-se.
Da necessidade de se provar a verdade é que nasceu a justiça. O danado é que a justiça ficou nas mãos do homem. E como eu disse, ele é um mentiroso.
A frieza deste cronista ao falar da verdade prende-se ao fato de ele ver a cada instante a mentira triunfar.
Leitor amigo, existe a sua verdade, existe a minha verdade, existe a verdade dos outros. Então, melhor relativizar a verdade se é que queremos acabar com as nossas guerras interiores. Para mim, nada é absoluto. Portanto… vou caminhando com os meus pecados e pretendo não ser a correção dos pecados de ninguém. Cada um sabe porque fez ou deixou de fazer alguma coisa. O seu juízo é o seu julgador.
Termino esta crônica com a “maldade” bíblica: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”, Mateus, capítulo 7, versículo 5.
(Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)