Opinião

Bispo goiano recebe carta do Papa

Diário da Manhã

Publicado em 4 de janeiro de 2016 às 22:23 | Atualizado há 9 anos

O bispo goiano Dom Tomás Balduíno, se estivesse ainda entre nós, teria completado neste 31 último de 2015, 93 anos de idade. No dia 12 de junho de 1998, ao completar seus 50 anos de sacerdócio, recebeu uma carta histórica do Papa João Paulo II, que certamente hoje está ao seu lado na Corte celestial.

Pela primeira vez um sacerdote recebera uma carta desse gênero, assim dirigida pessoalmente. Foi um fato episódico que deixou Dom Tomás Balduíno naturalmente emocionado. Nascido na cidade de Posse, o menino Paulo, que se tornaria bispo com o nome de Tomás, foi ordenado padre aos 25 anos no Convento de Estudos da Ordem Dominicana, na França. Voltou para o Brasil onde viveu e exerceu importantes missões eclesiásticas e destacou-se como um dos maiores bispos da América Latina na defesa das causas indígenas.

A carta do Papa revela não só uma deferência a Dom Tomás, mas também uma consideração especial ao povo goiano. À época, comentou Dom Tomás que essa não era uma atitude comum aos demais papas. João Paulo II, conforme explicou, dava grande importância aos encontros coletivos geralmente promovidos com os bispos em todo o mundo, sínodo que acontece a cada cinco anos. Trata-se de um evento próprio da Igreja católica em busca da comunhão e da fraternidade entre seus membros.

A carta então dirigida a Dom Tomás não possui caráter protocolar, ao contrário, é espontânea e cordial. No fundo, o papa define o ato como sendo um testemunho do seu afeto pelo bispo goiano, ao celebrar o seu jubileu. Esse gesto colheu Dom Tomás de surpresa, pela revelação de um lado mais familiar, que não era comum à pessoa do papa. Certamente hoje Dom Tomás Balduíno estaria recebendo também do Papa Francisco a mesma manifestação de apreço, pelas suas afinidades no sentido do combate à pobreza e às injustiças sociais.

Dom Tomás Balduíno é o mais ilustre possense, filho do juiz de direito José Balduíno de Souza Décio e da senhora Felicidade Ortiz, prima de Monteiro Lobato, os quais tiveram onze filhos, todos nascidos em Posse: José Décio (o poeta), Álvaro (o compositor), Maria Aparecida, Maria de Lourdes, Ana, Teresa, Isabel Cristina, Zélia, Anunciata e Márcia. Dom Tomás herdou a verve literária do pai, que foi também jornalista, e destacou-se como orador extraordinário. A seu respeito se pode ler a obra “Uma vida a serviço da humanidade / diálogos com Dom Tomás Balduíno”, de vários autores, editado em São Paulo, em 2002.

 

A carta na versão em português

Ao venerável Irmão Tomás Balduíno, bispo de Goiás.

Dentro em breve a Ordem Dominicana dos Frades Pregadores no Brasil se alegrará com o teu diuturno sacro ministério, seja no seio da tua família religiosa, seja entre as comunidades eclesiais. Alegrar-se-á, também, sem dúvida, o povo da Igreja de Goiás, ao qual, por mais de vinte anos, serves com solicitude em nome de Cristo.

Com efeito, no próximo mês de julho, no dia quatro, se Deus quiser, te será dado comemorar o quinquagésimo aniversário do teu presbiterato e, ao mesmo tempo, darás graças ao Divino Pastor pela abundância dos bens celestiais que, pelo teu trabalho pastoral, foram concedidos ao povo de Deus.

Por isto que escrevemos esta carta, para que, com ânimo fraterno, nos congratulemos contigo por este ditoso evento da tua vida.

De bom grado unimos esta nossa congratulação às vozes e sentimentos de muitos outros irmãos bispos e ministros que te conheceram e puderam apreciar teu zelo, primeiramente na tua ordem dominicana, nas tuas funções em iniciativas, depois no pastoreio do caríssimo povo unido da Diocese de Goiás.

Embora longe, mas ligado contigo no Senhor, nossos votos, venerável irmão, e que este dia aniversário do teu sacerdócio seja uma alvorada muito feliz. São estes os sentimentos de alegres felicitações que, em breves palavras, quisemos manifestar-te.

Esta nossa carta a ti dirigida quer ser também o testemunho do nosso afeto. E enviamos-te nossa bênção apostólica como penhor de perpétuo favor celestial para teu conforto e robustez nos teus anos vindouros.

Vaticano, 12 de junho do ano de 1998, vigésimo do nosso pontificado. JOÃO PAULO II.

 

Carta original em latim

Segue-se reprodução da carta original em latim, conforme publicada no jornal O Popular, de Goiânia, 12 de julho de 1998, contendo a versão em português. Texto também publicado no livro “A Saga da Posse & Álbum das famílias”, de Emílio Vieira (Goiânia, Cegraf/UFG, 2005, p. 188 a 191).

 

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa – E-mail: [email protected])


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