Opinião

Brasil precisa continuar a sair do quadrado

Diário da Manhã

Publicado em 26 de agosto de 2021 às 13:05 | Atualizado há 4 anos

Ao citar Hegel, «grandes fatos e personagens são encenados duas vezes, ao longo da história», na introdução de «18 de Brumário», Karl Marx aperfeiçoa a máxima, «a primeira vez como história, a segunda, como farsa», no que é aperfeiçoado por Marcuse, «a farsa é mais terrível do que a tragédia a qual ela se segue». A inteligência do povo brasileiro vai ser desafiada em nova eleição. Alguns procuram sequestrar o processo, como sempre, para que se acredite que o jogo esteja com final antecipada. Cabe à inteligência coletiva se libertar desse sequestro. Ou continuar se ferrando.

Herbert Marcuse, no mesmo prefácio, lembrando outro momento da história, é quem melhor resume o dilema do Brasil hoje. «O único que pode salvar a igreja católica é o diabo em pessoa e vos rogais por anjos?», teria respondido o cardeal Pierre D’Ailly aos defensores da reforma dos costumes. O cardeal francês, com sua retórica diversionista, conseguiu apenas adiar alguns anos a derrocada da Igreja de Roma, de onde nasceria o protestantismo e o mundo moderno.

Desde o fim do regime militar, o Brasil teve duas eleições realmente mais  democráticas, pois vieram após rupturas. Na primeira foi eleito Collor; na segunda, o atual presidente. As outras foram mais «armadas» ou compradas. A primeira de FHC foi armada com o poder que o presidente Itamar Franco tinha, e a popularidade de ter implantado o tal Plano Real. O mineiro logo se arrependeu e o acadêmico comandou uma das eras mais corruptas. Todos os dias passo na porta do super-apartamento que o « professor » tem em Paris e que a ex-amante, mãe de um filho seu, vai disputar com seus filhos, quando ele partir dessa para outra. O apartamento foi apenas um dos presentes de empreiteiras que ele ganhou para sua aposentadoria. E tem escritura. Internacional.

Depois do acadêmico, cujo livro mais famoso foi assinado junto com um chileno(o verdadeiro autor?), tivemos outra eleição armada, a do Luís Inácio, paga com dinheiro desviado do FAT, das prefeituras de Santo André, de São Paulo e outras tais, além até de dinheiro do exterior (obrigado Kadafi). Com o «puder», o então presidente comprou sua reeleição e a de sua sucessora, que acabou dando no que deu…

O Brasil não teve uma «democracia» depois do regime militiar, mas sim a continuidade de uma cleptocracia, em que o dinheiro público é utilizado por quem está no «puder» para comprar «institutos de pesquisas», «aliados», «partidos» e assim montar artificialmente uma disputa, no bom estilo dos jogos armados por cartolas desonestos. Para a próxima eleição a armação é a de que apenas um ex-presidiário (por corrupção) pode vencer o atual desastre, candidato também ao presídio, se o Brasil  trilhar um caminho de seriedade.

Nas últimas eleições, conseguimos que uma terceira via fosse a mais votada entre os eleitores brasileiros que vivem na França (logicamente não são os mais idiotas ou menos informados), fugindo do duelo que deixou o povo brasileiro no desespero e resultou no atual governo.

Ao final da campanha ficamos surpresos quando, em entrevista, « nosso » candidato disse que «os juízes e procuradores deveriam voltar ao seu quadrado», referindo-se à atuação daqueles bravos servidores para enquadrar a prática política brasileira em patamares mais civilizados de ética, moral e legalidade. Ele repetia a mesma coisa que outro «perseguido», Collor de Mello, falava em outra entrevista, publicada quase ao mesmo tempo, quando foi acuado pela Justiça. Continuamos a apoiá-lo porque já não dava para pular do barco. Mas a verdade é que o Brasil precisa continuar a sair do quadrado.

Três nomes destacaram-se na vida pública brasileira nos últimos anos  que poderiam contribuir, mais e melhor, se assumissem um desafio político e levassem junto princípios éticos e coragem com os quais se destacaram na condução de importantes desafios de suas vidas: Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e Rodrigo Janot, pela ordem.

O ex-ministro Joaquim Barbosa é um quadro que poderia ser a opção para os brasileiros continuarem a sair do quadrado da cleptocracia tradicional. Ele tem obra realizada, apelo popular e um partido estruturado. Mas talvez falte-lhe condições fundamentais para sair da zona de conforto e fazer mais alguma  coisa na vida: vontade e coragem. Rodrigo Janot anuncia que vai sair a deputado e continuar sua vidinha tranquila.

O ex-juiz Sérgio Moro criou a expectativa de decidir sobre candidatura outubro, um ano antes do pleito. Se for por estratégia, é inteligente, o Brasil está cansado daqueles fazem campanha a vida inteira (o ex-presidiário e Ciro, por exemplo).

Um dos dois poderia ser o fato novo.

Pelo clima até agora, acredito mais na vontade e viabilidade do ex-juiz de Curitiba. Tanto assim que, junto a alguns amigos, começamos a articular o «Progressistas com Sérgio Moro», para que sua campanha não seja dominada apenas por conservadores e direitistas, dos quais discordo em alguns pontos mas os quais respeito (hoje e por enquanto) mais do que os adeptos da pseudo-esquerda, que aderiu, sem vergonha e assanhada, à cleptocracia mais cruel, parasita e hipócrita.

Pesquisas internacionais colocam o povo brasileiro como um dos mais «ignorantes» do mundo. A ignorância não é um mal em si, todos somos um pouco, pode até ser um privilégio, pois permite o conhecimento e uma evolução. A burrice, porém, essa é a mãe de todas tragédias. Que não sejamos os mais burros.

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