Carne Fraca: governo faz das tripas coração
Diário da Manhã
Publicado em 28 de março de 2017 às 02:18 | Atualizado há 8 anos
O governo reagiu prontamente para resgatar o mercado da carne em consequência do excesso de holofote provocado pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, destinada a prender fiscais e frigoríficos desonestos. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, deve ter perdido noites de sono com a sua equipe de trabalho para mostrar que os policiais cumpriram sua obrigação. Mas, com a divulgação acintosa, cometeram trapalhadas inusitadas e graves prejuízos à cadeia da carne.
Para autoridades ligadas ao segmento da cadeia produtiva e para os parlamentares do Congresso Nacional, a Polícia Federal deveria ter comunicado ao Ministério da Agricultura que estava monitorando frigoríficos suspeitos de irregularidades na produção de alimentos antes de realizar a Operação Carne Fraca. 99% do volume de exportações foi afetado, segundo dados extra-oficiais emitidos no Senado. A consequência é um prejuízo este ano estimado em U$% 1,5 bilhão.
Graças a reação de inteira transparência do governo, reunindo jornalistas, representações diplomáticas, Congresso Nacional, entre outras autoridades, os esforços governamentais já começam a ser compensados. O presidente Michel Temer chegou a convidar embaixadores de países importadores para um churrasco em Brasília. Uma suculenta picanha de gado nelore foi devorada com voraz apetite presidencial, seguido pelos visitantes ilustres.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou sábado que a China abrirá a importação de carne brasileira, cancelando a suspensão temporária das importações do produto, determinada após a deflagração da Operação Carne Fraca. Em nota, o ministro afirma que o governo brasileiro agradece os chineses pelo “gesto de confiança”.
A determinação de Pequim de retomar a importação de carne brasileira é recebida com alívio pelo governo brasileiro e por toda a cadeia da carne. A China é um dos maiores importadores do produto. Com a posição chinesa os demais países importadores devem seguir o exemplo. Ora, uma cadeia de televisão da China acompanhou o ministro Blairo Maggi a uma das plantas frigoríficas em Rio Verde, no sudoeste de Goiás.
No Senado, Cidinho Campos (PR-MT) cobrou do Ministério da Agricultura uma campanha institucional para mostrar a qualidade do abate de bovinos, de aves e suínos no Brasil. Ele alerta para o fato de que além dos pecuaristas, os agricultores também “terão prejuízos com a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investiga irregularidades em frigoríficos”. O preço da arroba do boi caiu. Da bancada goiana no Congresso Nacional, os senadores Wilder Morais (PP) e Ronaldo Caiado (DEM) se manifestaram com posicionamentos em defesa da qualidade da carne, tanto de frangos, suínos e bovinos.
Wilder Morais apontou alguns dados sobre o quadro no Estado. Segundo o parlamentar, “são 115 indústrias goianas processando carnes. Em 2016, o trabalhador da pecuária, patrão ou empregado, produziu 1 milhão e 700 mil toneladas de carne em Goiás”. A conta é simples: O ideal para a pessoa ficar bem nutrida é comer em média 200 gramas de carne por dia. Resultado: a proteína goiana é capaz de alimentar todos os mais de 7 bilhões de habitantes do Planeta durante um dia e ainda sobra carne para servir ao Brasil inteiro durante um mês.
A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) criticou em Plenário os fiscais agropecuários envolvidos em irregularidades divulgadas pela Polícia Federal, na Operação Carne Fraca. Para ela, a irresponsabilidade dos fiscais envolvidos gerou indignação dos consumidores brasileiros e pode ter consequências desastrosas para a economia do país, uma vez que o setor de carnes ocupa a quarta posição na pauta de exportações do Brasil. A senadora, na realidade, reagiu em aprovação à manifestação de outras entidades nacionais e estaduais do setor, a começar pela ABCZ, CNA, ABAG,Abiec, ABCN, ABPA, SRB, ABA, CNPC, Faeg, SGPA, CRMV –Goiás, entre outras.
O Senado pode criar uma comissão externa para acompanhar as investigações da Polícia Federal na Operação Carne Fraca. O pedido foi feito pelos senadores Kátia Abreu (PMDB-TO) e Renan Calheiros (PMDB-AL). A comissão temporária será formada por seis senadores titulares e funcionará por seis meses para acompanhar os desdobramentos da operação. De acordo com a senadora Kátia Abreu, a ideia é defender a carne brasileira. O requerimento 163/2017 deve ser votado na próxima sessão deliberativa do Senado, marcada para hoje, 28.
(Wandell Seixas é jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)