Desenvolvimento. O que é?
Diário da Manhã
Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 22:11 | Atualizado há 9 anosNão queremos crescimento; exigimos desenvolvimento; ruas empanturradas de carros; avenidas com largos e altos arranha-céus; consumo por cima de consumo o que, como se bem sabe, acarreta em muita degradação ambiental, afinal, a problemática dos lixos é ameaça constante sobretudo, às grandes cidades do planeta. E nada disso, nem ao longe, indica desenvolvimento pra valer!
Não… Para nosso próprio bem, que não nos tornemos uma “São Paulo, uma Belo Horizonte ou outra Goiânia” em menor projeção! Isso não é inteligente, razoável ou sustentável. Somos modernos se nos assumirmos tal qual somos; se não abrirmos mão de nossas melhores tradições, aquelas assentadas na solidariedade, na partilha e na vida comum.
Evidentemente tecnologias são importantes, mas o essencial já está conosco e que é nossa ampla história de vida comunitária, onde grupos operam na construção cotidiana e coletiva de soluções para nossos problemas diários.
Não faz sentido romper com esses valores para dar lugar a formas e modos convivais assentados no pior da competição, no mais degradado estilo de convivência social que tira a espontaneidade, a leveza de se ser o que é e dá lugar para perspectivas individuais feitas e mediadas pelo consumismo puro e simples.
O economista Celso Furtado (1920-2004), autor de obras clássicas como “A Economia Brasileira” (1954); Formação Econômica do Brasil (1959); “Dialética do desenvolvimento” (1964); “Teoria e política do desenvolvimento econômico” (1967) dentre diversos outros irá distinguir muito bem as varianças entre crescimento e desenvolvimento econômico. Irá afirmar que “crescimento econômico, tal como o conhecemos, vem se fundando na preservação de privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização; já o desenvolvimento se caracteriza por seu projeto social subjacente”.
O alemão Wolfgang Sachs (1946) irá afirmar de forma bem mais radical na introdução do seu “Dicionário do Desenvolvimento” (Vozes) que: “O “desenvolvimento” foi por várias décadas, aquela ideia que, como um altíssimo farol orientando marinheiros até a praia, guiava as nações emergentes em sua viagem pela história do pós-guerra. Ao se libertarem do jugo colonial, todos os países do Sul, fossem estes democracias ou ditaduras, proclamavam como sua aspiração primordial o desenvolvimento. Quatro décadas se escoaram, e, no entanto, tanto governos como cidadãos continuam a manter seus olhos fixos naquela luz que apaga e acende à mesma distância em que sempre esteve: para atingir aquela meta, todos os esforços e todos os sacrifícios foram e são justificáveis… no entanto, a luz insiste em recuar, cada vez mais, cada vez mais na escuridão”.
Outro economista, o polonês Ignacy Sachs (1927) em seu “Desenvolvimento includente, sustentável, sustentável” (Garamond) lança importantes olhares sobre o mercado interno e sua importância quando cita que: “…Sem negar a importância da promoção de exportações, é preciso lembrar que nove entre dez pessoas em todo o mundo trabalham para o mercado interno (Ferrer, 2002). Portanto, as potencialidades do mercado interno devem ser aproveitadas como o primeiro passo para revigorar as economias em crise”.
Mas a ideia-motor deste ensaio é dizer que não há consenso sobre o termo desenvolvimento, afora os políticos, sobretudo, os mais à direita e respectivas demagogias corriqueiras, este é tema arenoso e movediço e, de verdade, mais prega peças do que orienta, indica e revela.
Em seguida, pensar em desenvolvimento sem ouvir, estar e aprender com as pessoas do trabalho ou, no dizer do sociólogo Giovanni Alves (Unesp), “pessoas-que-trabalham” é incorrer em erro crasso e grosseiro. Desta feita, desenvolvimento é trabalho social com imaginação, criatividade e controle social e público da própria produção ou nada é além, de discurso protocolar e fácil na boca das elites locais ou alhures.
(Ângelo Cavalcante, economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)