Dignidade e hipocrisia
Diário da Manhã
Publicado em 5 de abril de 2016 às 03:08 | Atualizado há 9 anos
Há pessoas que utilizam da mentira para justificarem pequenos deslizes que, se tivessem dito a verdade, lhes seria mais compensável, pois quem mente no fútil termina oficializando a mentira na seriedade.
Quem tira de outrem o pouco, tira também o muito.
Quem se habitua na mentira, termina por acreditar nas próprias inverdades, acreditando-a serem verdadeiras.
Quem falsifica um documento para enganar o chefe termina, um dia, à frente do tribunal: um documento mentiroso é a prova de que a pessoa não está sendo verossímil.
Quem foge do trabalho, fazendo cenas e simulações, será desmascarado um dia, porque o trabalho é tão sério e útil que por si mesmo não gosta de ser ludibriado.
Se alguém pensa estar sendo esperto escondendo a realidade dos outros, está a cada dia demonstrando que pode enganar aos outros por alguns dias, a mais, não o tempo todo.
Quem finge abraçar uma causa nobre, vestindo a camisa da responsabilidade falsa, não percebe que a camisa é frágil e breve se rasga na farpa da mentira.
É muito bom acreditar na Caridade, procedimento a que muitos crentes discordam e até protestam. Mas todos sabem que a ausência da solidariedade sob qualquer pretexto é atestado de usura e avareza, pois caridade é dever.
Deus não nos isenta do ar que respiramos e que nos lega a vida, pretextando que o ar é apenas um efeito natural do mundo material. Mas o ar não precisa de nome especial para nos assegurar a existência. Não fuja da caridade por desculpa nenhuma. A caridade foi ensinada por Jesus e Paulo de Tarso. Igrejas de pedra e argamassa são inventos de religiosos, alguns hipócritas e gananciosos.
Dignidade vitaliza a personalidade do indivíduo, mas não serve como alimento do corpo.
Dignidade pode ser uma riqueza para o caráter, mas não é um valor com que se adquire o medicamento para a cura de um enfermo.
Dignidade é estrutura para a sua personalidade, mas não substitui a ajuda que você deve ao necessitado.
Solidariedade rima com dignidade, mas apenas rima, pois caridade se identifica com amor, respeito e, sobretudo, muita compreensão.
Dignidade é uma qualidade do espírito, não uma moeda que a gente passa, ajuda e salva.
Aquele que não tem dignidade, e se a recebe de você, poderá um dia lhe encontrar em outra ocasião, estando você precisando de uma ajuda que não se conquista com palavra bonita e rebuscada. Mas com a mão calosa de quem lhe recebeu conselhos de dignidade e, depois de ajudá-lo, nem quererá lhe ouvir a palavra de gratidão. Contudo, lembrará que um dia, querendo um pão lhe deste a dignidade que, por melhor que fosse – não lhe mitigou a fome.
Aprenda meu caro, a ser objetivo e não um dicionário recheado de palavras fugidias à responsabilidade do verdadeiro ato de servir.
Se palavras bonitas resolvessem o problema da plebe rude, o governo distribuiria dicionários em vez de remédios, escolas e hospitais.
Se você se recusa a prestar uma caridade moral ou material, não terá melhorado a condição do infeliz que teve a honra de receber uma Bíblia quando não sabia ler, enquanto sua esposa morria por lhe faltar o necessário socorro à saúde.
Não lhe adianta coisa alguma andar com o Evangelho debaixo do braço quando nem sabe discernir as Leis de Moisés e às de Jesus.
Obrigado pela instrução falha que me oferece, porque diante do Senhor não escutará d’Ele que uso fez de sua dignidade embora sagrada, mas como você empregou o Evangelho de Amor que lhe deixou à disposição.
Acrescentando:
“Se não tiver caridade, não lhe adianta, sequer, falar a voz dos anjos.”
(Iron Junqueira, ecritor)