Eletrobras tornou-se um mastodonte burocrático?
Diário da Manhã
Publicado em 11 de julho de 2017 às 00:14 | Atualizado há 8 anos
Teve grande repercussão o desabafo do presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, no momento em que ele conversava com sindicalistas a respeito dos privilégios de certos gerentes da estatal que dirige. “Vagabundos” e “safados” – assim, referiu-se esse dirigente quanto à inequação de privilégios e a compromissos existentes dentro da empresa.
Não restam dúvidas que Wilson Ferreira Júnior exagerou em suas colocações. Ao generalizar, ele contribui para a revolta, hoje manifestada, do corpo gerencial da empresa, composto de gente competente, mas, também, de nulidades não comprometidas com a missão da instituição. Uma minoria ganhando bem – de 30 a 40 mil reais – sentada no berço esplêndido de uma zona de conforto.
O erro do presidente não invalida sua reconhecida competência de gestor, testada e comprovada nos anos em que dirigiu com sucesso uma das mais eficientes empresas do setor elétrico brasileiro: a privatizada Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL.
Na gigante Eletrobras, com ativos de R$ 170 bilhões, faturamento anual de R$35 bilhões e 13 mil funcionários, os desafios são outros. Entre esses desafios é que entendo a inquietude do presidente da instituição, acostumado a obter resultados numa empresa tão reconhecida pelo mercado como era o caso da CPFL.
Deve ser relativizado o erro desse gestor hábil e carismático. A Eletrobras foi transformando-se com o passar do tempo. Nesse sentido, quem já trabalhou no setor elétrico por mais de 30 anos (como é o caso deste escriba) tem na memória uma grande empresa que integrou o Brasil de norte a sul. Tempos em que se destacavam notáveis tecnocratas, como é o caso do grande engenheiro Mário Bering. Estávamos nas décadas de 1970 e 1980, mas a partir daí o uso político da empresa foi inchando, inchando a Eletrobras até ela se transformar no que hoje é: um mastodonte burocrático composto de gerentes competentes, sim, mas, também, de incompetentes instalados numa zona de conforto e desalinhados dos objetivos da instituição.
A CELG federalizada, sob o comando desse mastodonte burocrático, não foi nenhum modelo de gestão a imitar-se. Em terras goianas, a Eletrobras ficou a dever – e muito. Prova disso é o Plano Estratégico da empresa que jamais se materializou em ações advindas da boa gestão. Os indicadores gerenciais demonstram essa realidade.
E, separando alhos de bugalhos, sou da opinião que a Eletrobras deva caminhar para outro modelo de gestão, como é o caso da empresa brasileira que só cresceu nestes tempos de globalização: a Embraer. Romper a inércia de um sistema altamente burocratizado é, sem dúvida, o grande desafio do engenheiro Wilson Ferreira Júnior.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de A Energia na Região do Agronegócio)