Em Dianópolis, mais um amigo que se vai, para sempre
Diário da Manhã
Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 01:48 | Atualizado há 8 anos
…e aí nosso primo-irmão Vilar Araújo Póvoa acaba de empreender a viagem de volta à Pátria Espiritual. Venho assistindo, vivenciando e testemunhando, em especial nos últimos tempos, nossa querida Dianópolis perder muitos filhos, uns importantes no conceito da sociedade materialista, outros tanto quanto no conceito da verdadeira vida.
É a vida cumprindo o ciclo de renovação no papel que o Criador impõe.
Agora, minha terra natal perde mais um homem bom. E como todas pessoas boas, ele era simples e ao mesmo tempo um gigante de alma.
Nós humanos temos a mania ou quem sabe apenas seguimos a tradição da própria humanidade, que só reconhecem as pessoas quando se vão para sempre, uma realidade que teimamos em não aceitar. Acostumamos escrever belas mensagens tão somente para aqueles que ocuparam cargos importantes, lugares de destaque na sociedade, amealharam bens materiais e assim por diante…
Mas entendendo que existem pessoas anônimas que nos transmitem recados muito mais importantes na vida é que resolvo, nesta oportunidade, prestar uma homenagem especial.
Reconheço e sei que se levar em conta o que meu coração pede, cada um dos que se foram e em especial aqueles que fizeram parte da minha vida, mereceria uma página escrita com amor, dedicação como forma de agradecimento, mas como isso torna-se praticamente impossível, me atenho a escrever sobre determinadas pessoas, essencialmente as que conquistaram uma parte do meu coração de forma mais incisiva.
E Vilar não pode e não foge a essa regra. E assim se fez para meus sentimentos. Filho dos meus tios queridos Zeca e Amelinha, sobrinho de meu inesquecível pai Pery, portanto meu primo em primeiro grau, chegou em nossa terra natal ainda jovem, empreendedor e com ideias avançadas, adquiriu e estabeleceu-se numa fazenda denominada Varjão que foi formada com capricho e dedicação e que por muitos anos serviu de modelo como empreendimento no campo. Com sua companheira, Inez, não menos arrojada, eram exemplos de uma cultura rural de primeira, pois ali concretizou e disseminou os costumes trazidos de Minas Gerais, até então desconhecidos em nossa região, o antigo Nordeste de Goiás, denominado corredor da miséria, mas hoje redimido com a criação do Estado do Tocantins, onde passou a fazer parte do seu Sudeste.
A vida com seus atropelos, acertos e erros, encarregou-se de aos poucos ir desfazendo aquele patrimônio e que não demorou muito, acabou-se, seguindo tão somente o que tempo encarrega-se de fazer com tudo sobre a face da terra.
Sozinho, vivendo avesso às facilidades fúteis do dia a dia, acostumou-se na franqueza dos que entendem os caminhos que a vida nos apresenta, e assim foi até os últimos dias. De franqueza extrema, muitas vezes magoava quem não conseguia entender o seu coração, honesto, cordial, amável, amigo dos amigos. No campo político sempre reafirmava para mim que não concordava com tudo que acontecia, em especial nos últimos tempos e que continuava no MDB, no modeba, como ele bem caracterizava. Tinha colocações interessantes, daquelas que só quem cresceu, interiormente e espiritualmente, na grandeza da solidão que o deserto de pessoas provoca na alma, sabem fazê-las.
Vilar, Vilazinho, como eu costumava denominá-lo, talvez em função da sua pequena estatura física, apenas nos antecede a todos, mas deixa como legado, em especial para os dianopolinos, além do exemplo de pessoa humana, em especial a lição maior quando soube transformar a solidão numa forma alegre de ver e viver os fatos e os percalços desta efêmera vida.
Outra grande lição que nos deixa é saber que sozinho não somos ninguém, pois a colaboração imprescindível de duas pessoas especiais na vida dele, Celeste (nossa Letinha) e Dr. Wilson, sem os quais, talvez ele tivesse abreviado os seus dias aqui na terra.
Que possamos meditar e concluir o quanto a solidariedade e o amor são importantes para aqueles que estão tão próximos ou ao redor de nós e por muitas vezes passam despercebidos e por mais que procuremos não conseguimos vê-los, encantados que somos com as belezas e benesses da vida material, que por si só nos embevece e embriagam, turvando a visão espiritual, deixando que esqueçamos que a solidariedade é elemento essencial para exercermos o verdadeiro amor pelo próximo.
Com a certeza de que nossa Dianópolis sentirá sua ausência física, rogamos ao Divino Mestre, através dos Espíritos de Luz, para que conduzam nosso estimado primo nessa viagem de retorno, aliás, a mais importante de todas… e fica, mais uma vez, a lição que nos conforta: a de que no sentido abstrato da vida, existe algo de muito concreto que por vezes fazemos questão de desconhecer: quando uma pessoa que amamos e está bem próxima de nós, empreende essas viagem de volta à pátria espiritual, iniciando uma nova vida no concerto uníssono do universo, a vida por aqui, embora limitada como é, se manifesta, inexoravelmente na sua transcendentalidade, logo antes ou depois desse evento definitivo, nos oferecendo outra pessoa que ameniza a dor da ausência, isso através do nascimento de um filho(a), de um(a) neto(a), um(a) novo(a) amigo, de um novo amor e por aí afora. É a vida cumprindo o seu ciclo imutável, que para entende-lo necessário se faz o aprofundamento do estudo da Espiritualidade.
(José Cândido Póvoa, poeta, escritor e advogado. Membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis (To/Go). [email protected])