Opinião

Expressões e ditados que nosso povo nos legou na semântica goiano-tocantinense

Redação

Publicado em 17 de julho de 2015 às 23:25 | Atualizado há 10 anos

No último artigo de cunho filológico, listei algumas expressões que o povo ainda usa pelo interior goiano/tocantinense. Muitas expressões tiradas da boca do povo parecem mais adequadas ao momento. É que, ao contrário do que muitos pensam, o sertanejo, o nosso tabaréu, é muito sábio.

Por mero prazer, vivo escarafunchando e garimpando termos e expressões e acho de bom preceito transferi-las ao leitor.

ABAIXAR COM CINCO, LEVANTAR COM DEZ – aforismo que sempre é dito com um gesto expressivo: coloca-se a ponta do polegar na palma da mão e gira os dedos espalmados sobre a palma, indicando que está fazendo uma limpeza em regra. O gesto indica furtar, rapinar. ABAIXAR O FACHO – perder o rompante. À BOCA PEQUENA – em voz baixa; em segredo. ABRIR OS PEITOS – revelar os sentimentos mais sinceros. ACERTAR A MÃO – conseguir algo que era difícil; dar certo; encaminhar. ACERTAR AS CABECEIRAS – acertar as contas; ajustar. A DAR COM PAU – em grande quantidade. ADEUS, VIOLA! – expressão que dá a ideia de que está tudo acabado ou que não tem mais jeito. AFINAR AS CANELAS – fugir; correr; “ensebar as canelas”. AFINAR AS OIÇAS – ficar de espreita para ouvir bem. AFOGAR COM POUCA ÁGUA – comprometer-se a troco de pouca coisa. AGUENTAR A MÃO – enfrentar uma situação difícil e adversa; esperar com paciência. A LEITE-DE-PATO – gratuita¬mente; sem esforço. ALÉM DE QUEDA, COICE! – dois castigos ao mesmo tempo; ocorrerem duas situações desagradáveis simultaneamente; origina-se da situação em que o cavaleiro, além de ser derrubado da montaria ainda recebe desta um coice. AMANHÃ O CARNEIRO PERDEU A LÃ – diz-se quando um serviço é muito urgente e tem que ser feito imediatamente, CUJO INÍCIO não pode ser protelado. AMARRAR A CARA – fechar o cenho; zangar-se. AMARRAR AS ÉGUAS – entender-se. AMARRAR CACHORRO COM LINGUIÇA – lembrar o tempo antigo, quando os costumes eram outros. AMARRAR NO RABO DA CAMPEIRA – perder as esperanças em receber dinheiro emprestado ou recuperar alguma coisa com alguém, em alusão à fêmea do veado campeiro, que é arisca e velocíssima. AMARRAR O BURRO À VONTADE DO DONO – concordar, por se encontrar em situação de inferioridade. AMARRAR O FACÃO – passar a mulher pela menopausa, encerrando o ciclo menstrual. AMASSAR A TAMPA DA BINGA – fracassar; falhar; malograr. AMOLAR OS QUEIXOS – preparar-se para comer; esperar com avidez a hora de comer. A MUQUE – à força. ANDAR CERCANDO FRANGOS – estar embriagado, a ponto de cair; denunciar a própria embriaguez com cambaleios. ANDAR COM A BARRIGA NO ESPINHAÇO – andar faminto. ANDAR DE BANDA – andar de relações cortadas com alguém. ANGU-DE-CAROÇO – confusão em que se degenerou uma situação, a ponto de tornar-se difícil. ANTES LAMBER DO QUE CUSPIR – expressão que é dita diante de uma situação em que temos que nos contentar com pequenas coisas, se não conseguirmos tudo o que queremos. APERTAR O PASSO – apressar-se na caminhada. APERTAR OS OSSOS – cumprimentar com um forte aperto de mãos. APERTAR SEM ABRAÇAR – deixar o interlocutor sem resposta a uma pergunta. A PRAZO – com tempo dispo-nível; sem preocupação com o horário. APROVEITAR O PAU ARCADO PRA DEITAR A FOICE – aproveitar as dificuldades financeiras de alguém para comprar-lhe algo a preço vil, na bacia das almas. O pau arcado, neste caso, é muito adequado à comparação, pois uma vara vergada pode ser facilmente golpeada: do lado oposto da curvatura, as fibras da madeira retesada facilitam o golpe mais eficiente da ferramenta, que não necessita ser brandida com muita força para cortá-la. AREAR CAÇAMBA – bajular, adular poderosos. A RETALHO – no varejo. ARRANCA-RABO – confusão; briga generalizada; rixa. ARRANCAR O COURO – explorar; vender a preço exorbitante. ARRANCAR OS CABELOS – demonstrar grande desespero ou aflição. ARRASTAR A ASA – cortejar; ter inclinação amorosa por alguém. ARRASTAR BAGAÇO – contar vantagem. ARRASTAR O BORORÓ – viajar a pé. ARRASTAR LENÇOL PELA PONTA – chegar ao último grau de pobreza ou miséria; o mesmo que “estar na pindaíba”; “estar de tanga e chapéu de gazeta”. ARRASTAR O RABO NA AREIA – estar perdidamente apaixonado por alguém, a ponto de cometer desatinos; o mesmo que “moer vidro com a bunda”. ARREADO PELO RABO – diz-se da pessoa ignorante, de maus tratos com seus semelhantes. ARREPIAR CAMINHO – voltar na mesma hora. ARROZ-DOCE-DE-FESTA – pessoa que não falta a qual¬quer festa. ASSOBIAR E CHUPAR CANA – fazer duas coisas impossíveis ao mesmo tempo. A TALHO DE FOICE – a propósito; convenientemente; oportunamente; na hora. A TAMPA E O BALAIO – duas pessoas que dão muito certo, que se completam (geralmente em sentido pejorativo). ATÉ CAIR DE COSTAS – até fartar-se. ATÉ DEBAIXO D’ÁGUA – em qualquer situação; em qualquer circunstância. AVANÇAR NA LUA PENSANDO QUE É QUEIJO – cometer engano clamoroso.

Oportunamente voltaremos com a nossa gostosa semântica.

 

(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, escritor, jurista, historiador e advogado – [email protected])

 

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias