Família: escola da alma
Diário da Manhã
Publicado em 18 de outubro de 2018 às 04:29 | Atualizado há 7 anos
Amigos(as) leitores(as), ao fazermos pesquisa no dicionário, podemos encontrar as seguintes definições para o termo família: pessoas aparentadas, que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos; pessoas unidas por laços afetivos, de parentesco, pelo sangue, ou pelo casamento.
Mas será que esse significado comum, de pessoas aparentadas que vivem sob um mesmo teto, é suficiente para compreendermos a relevância desta organização com tantas particularidades que é a família? O que o Espiritismo nos diz a respeito?
A Doutrina Espírita apresenta a família como um instituto abençoado, em que um grupo de Espíritos necessitados, e em compromissos inadiáveis de auxílio ou reparação uns com os outros, em obediência à Lei de Causa e Efeito, reencontram-se, num programa de provas e expiações, graças ao princípio da reencarnação.
O Espírito Thereza de Brito, no livro Vereda Familiar, psicografado por Raul Teixeira, diz que “A família, inquestionavelmente, constitui o mais notável núcleo de libertação e de aprendizagem para os Espíritos chegados ao mundo das densas energias, nas atividades da renovação individual.”
Emmanuel, em Vida e Sexo, psicografia de Chico Xavier, completa: “De todas as associações existentes na Terra – excetuando naturalmente a Humanidade – nenhuma talvez seja mais importante em sua função educadora e regenerativa do que a constituição da família.”
Deste modo, “no pequeno grupo doméstico inicia-se a experiência da fraternidade universal, ensaiando-se os passos para os nobres cometimentos em favor da construção da sociedade equilibrada”, conforme nos ensina Joanna de Ângelis na obra Constelação Familiar, psicografada por Divaldo Franco.
Fica claro, de acordo com a Doutrina Espírita, a importante função educadora e regeneradora da família, diante do processo da edificação moral do homem.
E existem famílias formadas apenas por desafetos do passado?
De acordo com os ensinamentos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no Cap. XIV:
“Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação.”
Está aí a explicação para os desentendimentos que acontecem, às vezes, entre os integrantes da família.
Em virtude de o estágio evolutivo de nosso planeta (de provas e expiações), as famílias que nele se formam, na quase totalidade, são compostas por Espíritos adversos entre si, ou seja, devedores e credores. Unem-se com a finalidade principal de acertarem, perante a lei do Amor, velhas contas de passadas existências.
O venerável espírito Emmanuel nos ensina com muita propriedade, no livro Leis de Amor (psicografia de Chico Xavier) que:
“De modo geral, nas leis do destino, o marido faltoso é aquele mesmo homem que, um dia, inclinamos à crueldade e à mentira.
E a esposa desequilibrada?
(…) é aquela mulher que, certa feita, relegamos à necessidade e à viciação.
E quem são os filhos-problemas?
São aqueles mesmos Espíritos que prejudicamos, desfigurando-lhes o caráter e envenenando-lhes os sentimentos” – conclui.
Sendo assim, “o Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito”, conforme explicações do Cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Pode-se entender, daí, as brigas constantes – e sem explicação, se observarmos apenas o lado material da situação – entre os casais, entre pais e filhos (como, por exemplo, os pais que rejeitam seus filhos ainda bebês, que nunca lhes fizeram mal nesta vida, pois acabaram de nascer), as disputas violentas entre irmãos, entre avós e netos, tios e sobrinhos, etc.
Joanna de Ângelis, novamente na obra Constelação Familiar, ressalta que “a família vem perdendo as características de santuário, de escola, de oficina moral de aprimoramento, para transformar-se em palco de aflições e disparates sem nome, resultando, diversas vezes, em tragédias dolorosas, em face da insensatez dos seus membros.”
E ela tem razão. Atualmente, a convivência familiar dentro do lar se revela cada vez mais egoísta e sem afeto mútuo.
Para alguns psicólogos, especialistas no atendimento às famílias, o termômetro da relação familiar, da harmonia, é o carinho. Quando ele não mais existe nas conversas, no toque, no relacionamento em geral, há com certeza um aviso de rompimento parcial ou total de convivência. Daí surgem sentimentos de culpa e de repulsa; animosidades; indiferenças; competição, ao invés de cooperação; ingratidão dos filhos para com seus pais; incompreensão dos pais com seus filhos, ou seja, a família está doente.
E como resolver as dificuldades de minha família em desequilíbrio? Sair correndo, sem nem olhar para trás? Fugir? Mudar de casa e de família? Afastar-me o mais longe possível de meus parentes?
Para piorar ainda mais: e se a culpa for minha? O que fazer?
A resposta para o questionamento é bastante séria e de fundamental importância para a nossa evolução moral e espiritual.
Amamos nossa família, não amamos? Em geral, as pessoas que mais temos apreço não são justamente nossos entes queridos?
Portanto, a resposta é categoricamente não. Não devemos afastar ou sair correndo de nossos familiares. Isso não resolverá nada, pelo contrário, só adiará a reparação, que, pela bondade divina, deve ser concretizada entre nós.
Existe, de fato, uma quantidade enorme de lares, nos quais ainda reina a desarmonia, impera a desconfiança, e onde os conflitos morais se transformam em dolorosas tragédias. E, muitas vezes, sim, a culpa é minha e não dos meus entes queridos.
Não devemos esquecer, porém, como mencionado no título deste texto, que a família é a escola da alma. Emmanuel, inclusive, diz que “A melhor escola ainda é o Lar.”
E o que fazemos na escola?
Na escola aprendemos!
Como auxílio imediato para as angústias familiares, temos os ensinamentos do Espiritismo, que pela soma de conhecimentos que espalha tem sido meio eficiente para que muitos lares momentaneamente em provação se reajustem e se consolidem, dando os primeiros passos na direção do Infinito Bem.
É na própria família que vamos aprender tudo o que precisamos para convivermos melhor entre os seus integrantes e, consequentemente, entre os membros da sociedade, o nosso próximo.
Citaremos, de forma resumida, breves orientações doutrinárias, retiradas de diversas obras espíritas, para o nosso aprimoramento em família:
– Em primeiro lugar, vigiar e orar, construindo um lar firmado nas bases no Evangelho de Jesus, em harmonia, permitindo que cada um dos seus componentes possa refazer-se;
– Termos boa vontade, tolerância e humildade, colocando o toque mágico do amor e do entendimento em nossa família, pois o lar construído com amor e respeito é o lugar onde os filhos são preparados para a vida no mundo exterior. O Espírito André Luiz afirma: “Somos arquitetos de nossa própria estrada e seremos conhecidos pela influência que projetamos naqueles que nos cercam”;
– Exercer a nossa maturidade emocional e perdoar sempre, exemplificando a indulgência e a tolerância perante os integrantes de nossa família e, também, apaziguando as desavenças que surgirem, sabendo o que falar e quando se faz necessário silenciar. Nunca esqueçamos da máxima do Cristo: “Reconcilia-te com o teu adversário enquanto estás a caminho com ele”;
– Renovar os nossos antigos hábitos e praticar a caridade com os entes queridos, passando a ter a habilidade em lidar com tensões e diferenças, de forma sempre construtiva. Isto com certeza contagiará toda a família, pois “a palavra convence e o exemplo arrasta”;
– Frequentar uma casa espírita séria, onde, além de aprendermos continuamente, através das palestras edificantes e estudando as obras da Doutrina Espírita, receberemos toda a assistência espiritual necessária para nós, nosso lar e todos os familiares;
– Praticar o Culto do Evangelho no lar, o qual propiciará uma reflexão familiar sobre os ensinamentos do mestre Jesus e, ainda, despertará em todos o compromisso da reformulação das ações de cada um;
– Conhecer e aceitar os limites do outro;
– Enfim, façamos a nossa parte com muito afinco e confiemos na providência divina, pois para Deus nada é impossível.
É será que é fácil realizar todas essas mudanças?
A resposta a essa pergunta depende exclusivamente do nosso querer, pois todos temos algo em comum, que é a capacidade de mudar o nosso próprio modo de ser e, por possuirmos essa aptidão, é que podemos nos desenvolver, evoluir e sermos melhores hoje do que fomos ontem. Talvez, falta-nos um pouco de vontade de arregaçar as mangas em busca de nosso progresso individual, para não sermos alunos (na escola da alma) sempre repetindo de ano.
Quando procuramos aprender coisas novas, nos melhoramos como pessoas e somos capazes de ser mais felizes e, como consequência, podemos oferecer momentos felizes aos que nos rodeiam.
E se eu me esforçar muito e conseguir cumprir os desígnios de Deus em família, o que acontecerá? Serei recompensado?
A esse respeito, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos orienta no Cap. V: “Deveis considerar-vos felizes por sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam séculos de sofrimentos na vida futura”. Eis a resposta, a qual devemos guardar como um valoroso estímulo.
Muita paz a todas as famílias!
(Marcelo Arruda, espírita, palestrante do Grupo de Edificação Espírita/GEE e membro ocupante da cadeira nº22 da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás/ACELEG. E-mail: maarru[email protected])