Opinião

Feminicídio: Uma curva crescente durante a pandemia

Diário da Manhã

Publicado em 4 de fevereiro de 2021 às 13:21 | Atualizado há 4 anos


Por Cláudia Gomes de Moraes

Quantos de nós já ouvimos: “Amélia que era mulher de verdade” em referência àquela mulher pacata que tudo sofre e de que nada reclama. Isso tem sido disseminado na mente das mulheres há muito tempo, trazendo consigo, lastimavelmente, consequências vistas a todo momento: a crescente onda de feminicídio, que não é um problema apenas no Brasil.

Pode-se considerá-la também uma pandemia. E, como tal, devem ser adotadas medidas urgentes de contenção desse mal introduzido pelo “patriarcado” e passado de geração em geração. Inegavelmente, algo tem sido feito no Brasil no sentido de proteger as mulheres, como a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), desrespeitada agora por um juiz de São Paulo que disse, literalmente: “Não tô nem aí para a Lei Maria da Penha. Ninguém agride ninguém de graça”. Entretanto, sabe-se que muito precisa ser feito no intuito de resguardar as mulheres em face das atrocidades cometidas contra elas, em salvaguarda à histórica “honra masculina”.

A propósito, falando especificamente da nossa cultura, a música nos traz uma mostra clara sobre a visão que o brasileiro (não todos) tem sobre as mulheres. Tratadas como objeto de posse, como nos é apresentado através desse verdadeiro espelho social que é a canção. Um exemplo disso temos na composição “Oh, Juliana o que tu quer de mim” (Mc Niack e Mc Queiroz -2020), cujos autores adjetivam a protagonista de “ruivinha do rabecão”. E, como se não bastasse complementam “Sei que não sou teu dono, mas tu tá na minha mão. Já falei que passo o rodo” deixando óbvio que a protagonista não passa de ser sem valor emocional, ou seja, apenas um objeto sem qualquer apelo emotivo.

De igual modo, gostaria de frisar que: não afirmo ser esse o pensamento do autor da música e sim que ele apenas contextualiza um retrato social vivido pelas mulheres. Esse modo torto de interpretar a função social da mulher tem concorrido para o enorme número de agressões e mortes. E, como não fosse isso o bastante, a pandemia causada pelo coronavírus veio acentuar ainda mais essa crescente onda de violência contra as mulheres, uma vez que elas se encontram mais vulneráveis, econômica e emocionalmente, tornando-se mesmo cativas de seus agressores.

Logo, por estarem nesse isolamento social, a pergunta que mais ecoa é “que tiro foi esse?” (Jojó Mariotini – 2017) que, apesar de seu estampido ensurdecedor, tem emudecido uma sociedade “acostumada” à tanta violência contra as mulheres e que passa a enxergá-las não mais como um rosto no meio da multidão, e sim como mais um número dentro das estatísticas fornecidas pelos órgãos de segurança pública.

Portanto, afirmo que não basta apenas a intervenção do Estado com imposições punitivas em desfavor dos agressores, apesar de serem de extrema eficácia, faz-se necessário também uma maior conscientização da sociedade com relação à situação de violência enfrentada pelas mulheres. E isso passando desde um olhar mais atento de familiares, colegas de trabalho e amigos que, percebendo a situação de risco, possam ajudá-las a sair de um relacionamento abusivo que pode ser mostrar uma verdadeira tragédia anunciada.

Não de outro modo, deve também haver uma reeducação social, na qual não apenas as mulheres aprendam a se valorizar como ser social detentoras de direitos e deveres, conforme postulado constitucionalmente, mas que, além disso, os homens aprendam que respeito é bom e a gente gosta “# fica a dica #”. Somente assim poderemos, enfim, ver essa curva crescente do feminicídio em decréscimo.

Texto orientado pela profa. Ma. Camila Santiago Ribeiro – Cláudia Gomes de Moraes discente 4.º Período Noturno Centro Univeristario Araguaia – Unidade Bueno


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