Jesus dá testemunho de João Batista
Redação
Publicado em 12 de abril de 2015 às 00:00 | Atualizado há 10 anosEmídio Brasileiro Especial para Opiniãopública
Quando João, que estava no cárcere, ouviu falar a respeito das obras de Cristo, chamou dois dos seus discípulos e os enviou a Jesus para lhe perguntarem: És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?”
Quando esses homens chegaram a Jesus, disseram:
“João Batista nos enviou para te perguntar: ‘És aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?’ ”
Na mesma hora Jesus curou a muitos de enfermidades, de chagas que sofriam, de espíritos malignos, e restituiu a vista a muitos cegos.
E Jesus lhes respondeu:
“Ide anunciar a João o que estais vendo e ouvindo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos se levantam e aos pobres é anunciada a Boa Nova; e bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!”
Tendo partido os enviados de João, começou Jesus a falar ao povo a respeito de João:
“Que foste ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que vestem roupas suntuosas e vivem em delícias estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta. É dele que está escrito:
Eis que envio o meu mensageiro a tua frente, ele preparará o teu caminho diante de ti’.
Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior do que João, o Batista. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele.
Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus padece violência, e violentos se apoderam dele. Porque todos os profetas e também a Lei profetizaram até João.
E, se o quereis compreender, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Ao ouvir estas palavras, o povo e os publicanos que tinham recebido o batismo de João, proclamaram a justiça de Deus. Mas os fariseus e os doutores da Lei, que tinham recusado este batismo, desprezaram os desígnios de Deus sobre eles.
Então disse o Senhor:
“A quem, pois, compararei os homens desta geração, ou a quem são eles semelhantes? São semelhantes a meninos que, sentados numa praça, gritam uns para os outros, dizendo: ‘Nós vos tocamos flauta e não dançastes! Entoamos cantos de luto e não chorastes!’
Porque veio João Batista, que não come pão e não bebe vinho, e dizeis: “O demônio está nele!” Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores’. Mas a Sabedoria é justificada por todos os seus filhos”. (Evangelhos de: Mateus, cap. 11, vv. 2 a 19 – Lucas, cap. 7, vv. 19 a 35).
Não é crível que em alguns momentos João Batista duvidasse que Jesus fosse o Messias tão esperado. A história dos dois desde as anunciações pelo anjo Gabriel, o grau de parentesco, as preocupações de seus familiares com as suas formações para o cumprimento dos desígnios de Deus, os acontecimentos e os testemunhos de João durante e depois do batismo de Jesus nas águas do Jordão, o conhecimento do precursor quanto aos poderes do Cristo, são alguns dos fatores, dentre outros, que tornam ilógica qualquer dúvida advinda de um profeta messiânico. João tomou essa providência para convencer os seus discípulos mais renitentes a seguir o Mestre. Principalmente devido ao ciúme, sentimento entre os que amavam João, agora preso na fortaleza de Maqueronte, e por Jesus não adotar o comportamento asceta do profeta do deserto. Quando alguns desses discípulos presenciaram as inúmeras curas operadas por Jesus, obtiveram a certeza de que necessitavam, satisfazendo, assim, a vontade de João. Para os discípulos de João que ainda pudessem duvidar, Jesus afirma: “bem-aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim”, isto é, feliz aquele que não duvidar de suas palavras, ainda que não compreenda plenamente a sua missão.
Jesus ao compreender as razões do precursor, soube impedir que alguém pensasse numa suposta dúvida de João quanto ao seu ministério, dizendo palavras de apoio, de solidariedade, de amor e de sabedoria, referindo-se a João da maneira mais elevada possível. Palavras que consolariam o seu virtuoso primo, que se encontrava preso, aguardando o momento final do sacrifício redentor.
Nesse episódio, Jesus mais uma vez confirma a natureza da missão espiritual de João Batista. Não foi ele apenas um profeta e sim um mensageiro designado a preparar as consciências e os corações para elevados níveis de compreensão da vontade soberana de Deus. Os ensinos e o batismo de João representaram as colunas da verdade e da renovação interior para o devido amadurecimento espiritual, tão necessário ao entendimento dos ensinos do amor e do perdão, da caridade e da fé, ministrados pelo Cristo de Deus.
Depois da divina missão de Jesus, a missão de João Batista foi a mais bela missão assumida por um espírito na Terra. O divino Mestre revela que “entre os nascidos de mulher”, ou seja, entre os espíritos ainda vinculados aos ciclos encarnatórios no mundo terreno, João foi o de maior evolução espiritual. No entanto, o Mestre também revela que João Batista, na escala evolutiva, estava abaixo do menor entre os espíritos superiores em intelectualidade de moralidade. Isso, para que saibamos a respeito da existência de infinitos graus de evolução espiritual, tema estudado com detalhes por Allan Kardec na obra “O Livro dos Espíritos”.
Jesus assevera que depois de João Batista fechava-se o ciclo dos profetas messiânicos. Isso, para evitar a crença em falsos profetas e falsos messias, que apareciam com freqüência naquela época. Jesus também revela que João Batista era o profeta Elias reencarnado e ainda assevera: “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, isto é, só quem tem nível intelecto-moral para compreender da realidade da Lei da Reencarnação poderá aceitar essa verdade. Naquela encarnação, ao ser decapitado (Mt, 14:10-11), João resgataria suas dívidas morais perante a Lei Natural de Justiça, contraídas quando, como o profeta Elias, ordenou a execução, por meio da espada, dos sacerdotes do deus pagão Baal (1 Reis, 18:40 e 19:1). Jesus e João conheciam plenamente os mecanismos da Justiça da Lei Natural e eram obedientes aos seus desígnios.
Ao censurar a incredulidade humana diante de tantas evidências da autenticidade de sua missão, o divino Mestre demonstra, que, para certos incrédulos, somente os mecanismos das leis divinas poderão despertar cada um ao seu tempo, não bastavam os seus exemplos e as suas obras. Porque o incrédulo e o iníquo contumazes sempre terão justificativas para não acreditarem nas lições eternas, criticando mensageiros de Deus e os seus ensinos sob alegações ingênuas e descabidas, características de espíritos pseudo-sábios e viciosos.
João Batista não tinha a menor dúvida diante da missão de Jesus, mas desejou uma demonstração destinada exclusivamente aos seus discípulos incrédulos, os quais mantinham resistência ao Messias. E nós? Ainda paira alguma dúvida a respeito do Cristo ou ele terá de operar algumas curas em nossa presença para nos convencermos dos seus ensinos, do seu poder e do seu amor? Necessitamos de mais sinais? Somos um caniço agitado pelo vento, ou seja, a nossa fé é vacilante e frágil? Estamos ainda vestidos com roupas finas e suntuosas, vivendo em delícias nos palácios do egoísmo, da iniquidade e do desamor? Somos, ainda, semelhantes a meninos sentados nas praças das vivências terrenas, reclamando de tudo e de todos, sem qualquer iniciativa que justifique a bela oportunidade de uma vida em evolução?
Jesus e João Batista foram insubstituíveis e eram conscientes de seus ministérios. Eles se conheciam e se respeitavam. Eram fiéis aos seus deveres. Eram obedientes as determinações de Deus. Em termos absolutos, todos nós somos insubstituíveis, mas no campo da relatividade, não, exceto ao que tange ao trabalho que nos foi predestinado. Em quase todos os papeis que assumimos numa existência, somos substituíveis, menos no papel que somente nos cabe.
Somos predestinados a evoluir, mas nesse processo evolutivo teremos de encontrar o trabalho que somente nos compete realizar, o trabalho que assumimos e que nos foi confiado com exclusividade. Se não realizarmos esse trabalho ninguém o fará. É o trabalho da graça e da confiança de Deus, mesmo sendo nós, diante do Pai, apenas servos inúteis. Não devemos adiar ou esperar que outros realizem as obras que somente nos foi confiado. Isso porque, como afirma Jesus, somente há sabedoria onde há trabalho e somente há trabalho onde se produz bons resultados. É evidente que, em muitos casos, Deus pode delegar os mesmos trabalhos para diferentes missionários. No entanto, cada um de nós, aos olhos de Deus, é parte de um mecanismo poderoso no campo da evolução e temos funções espirituais e sociais insubstituíveis. Ao receber a indagação de João Batista, Jesus não se negou a provar para que veio. Enviou como resposta indireta aos discípulos renitentes do Batista, a sua obra, o seu trabalho, a sua compreensão, o seu amor, mas exigiu respeito. Isso porque acima de qualquer testemunho que Jesus poderia ter dado de João, de seus familiares e de seus discípulos, havia uma fidelidade suprema ao trabalho da predestinação que lhe foi outorgada por Deus, o qual não aceitará desculpas para não ser feito, porque sempre oferece todas as condições e oportunidades para a consecução dos seus supremos propósitos.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro, escritor, advogado, professor universitário, orador e conferencista brasileiro. Membro da Academia Goianiense de Letras, da Academia Aparecidense de Letras e da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás. E-mail: [email protected])