Jesus profetiza a destruição de Jerusalém
Diário da Manhã
Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 23:12 | Atualizado há 7 anos“Quando virdes Jerusalém sitiada de exércitos, então sabei que está próxima a sua devastação. Quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, onde não devia estar — quem lê, entenda! — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes, os que se encontrarem dentro da cidade saiam e os que estiverem nos campos não entrem nela. Naquele Dia quem estiver no terraço e tiver os seus bens em casa, não desça nem entre para pegá-los ou para apanhar alguma coisa em sua casa. E quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua veste!
Lembrai-vos da mulher de Ló. Quem procurar salvar a sua vida, a perderá, e quem a perder, a salvará. Digo-vos que, naquela noite, dois estarão num leito; um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será tomada e a outra deixada. Dois estarão no campo; um será tomado e o outro deixado. Porque esses dias serão dias de punição, nos quais deverá cumprir-se tudo o que foi escrito.
Ai das grávidas e das que amamentarem nesses dias! Porque haverá grande miséria sobre a terra e cólera contra este povo. E cairão ao fio da espada, levados cativos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem.
Rogai para que a vossa fuga não ocorra no inverno ou em dia de sábado. Pois nesses dias haverá uma grande tribulação, tal como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora, nem haverá jamais. E se o Senhor não abreviasse esses dias, ninguém se salvaria. Mas, por causa dos eleitos que escolheu, ele abreviou esses dias.
Então, se alguém vos disser: ‘Eis aqui o Cristo!’ ou ‘Ei-lo ali!’, não acrediteis. Pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas que farão grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, até os eleitos. Vós, porém, tende cuidado. Vede que tudo vos tenho predito.
“Se então vos disserem: ‘Ei-lo no deserto!’, não saiais; ‘Ei-lo no interior da casa’, não acrediteis. Porque assim como o relâmpago sai do oriente e brilha até o ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem”.
Tomando a palavra, perguntaram-lhe os discípulos: “Onde, Senhor?”
Jesus lhes respondeu: “Onde estiver o cadáver, aí também se ajuntarão os abutres”.
(Evangelhos de: Mateus, cap. 24, vv. 15 a 28 – Marcos, cap. 13, vv. 14 a 23 – Lucas, cap. 17, vv. 31 a 37; cap. 21, vv. 20 a 24).
O Mestre prossegue com as profecias a respeito da destruição de Jerusalém, que ocorreria no ano 70, sob o comando do futuro imperador romano Tito, e faz referência ao que disse o profeta Daniel (9:26-27):
“E o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será como uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. Ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até a consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador”.
O Mestre ainda lembra Daniel (11:31) ao falar da profanação do altar do templo:
“E braços serão colocados sobre ele, que profanarão o santuário e a fortaleza, e tirarão o sacrifício contínuo, estabelecendo abominação desoladora”.
Possivelmente Daniel designava com essa expressão um altar pagão que o rei helenista Antíoco Epífanes ergueu no templo de Jerusalém em 168 a.C. ao instalar uma estátua do deus grego Zeus.
Torna-se evidente que a expressão “quem lê, entenda” advém dos narradores porquanto o Mestre falou, mas não escreveu os evangelhos.
Pastorino, em sua obra Sabedoria do Evangelho, vol.7, no item Dias Calamitosos, assim comenta a respeito do termo “fujam para os montes”:
“… quem mora na Judeia, que fuja para os montes de além Jordão (o Moab e o Ammon), em cujas grutas terão segurança. Desde a época de Davi esses eram lugares seguros. Quando em 60 as legiões romanas iam fechando o cerco, ocupando Jericó, Emaús, Betel, Hebron… os cristãos de Jerusalém acompanharam Simeão, inspetor que sucedeu a Tiago o menor nessa cidade, e refugiaram-se em Pella (hoje Tabakát-Fahil) na Transjordânia (cfr. Eusébio, Hist. Eccl. 3.5.3.)”.
Diante da Jerusalém sitiada, Jesus aconselha que todos os seus habitantes se retirem e não voltem para ela e durante a fuga nada levem. Isso porque o momento será gravíssimo e exigirá agilidade. O Mestre ainda menciona a mulher de Ló, sobrinho de Abraão, que, com sua família, mulher e duas filhas, fugiram de Sodoma, mas sua mulher fora transformada em estátua de sal por haver olhado para trás, desrespeitando as orientações dos mensageiros de Deus (Gênesis, 18, 19:26).
O divino Amigo ainda lembra o princípio do desprendimento dos bens terrenos: “Quem procurar salvar a sua vida, a perderá, e quem a perder, a salvará”. Em Marcos (8:35) o Mestre complementa: “…mas quem perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, a salvará”.
Jesus também descreve a natureza das dores expiatórias que avassalarão os habitantes de Jerusalém e seus entes queridos por meio de separações trágicas e abruptas. Muitas dessas dores serão resultantes da ação da Lei Natural de Justiça sobre os incautos e iníquos.
Jesus chama os romanos de gentios, ou seja, povos sem fé e sem Deus. Mesmo com tanto poder gerador de guerras e de escravidão, o Mestre preconiza que o tempo do domínio romano teria seu fim: “até que o tempo dos gentios se completem”. Embora as tiranias humanas sejam usadas pela Justiça divina, os tiranos responderão a essa Justiça por suas iniquidades porque a Lei Natural de Justiça não necessita de injustiças humanas para que se manifeste.
Além de relatar a respeito da ruína de Jerusalém, do holocausto e da escravidão aos seus habitantes, o divino Messias recomenda que a fuga não ocorra no inverno quando a chuva e a neve dificultavam as viagens e no sábado porque era proibido andar mais de novecentos metros.
Nesta profecia, Jesus ressalta a importância dos generosos e justos numa sociedade quando informa que os dias de sofrimentos incomparáveis e atrozes aos habitantes de Jerusalém somente seriam abreviados “por causa dos eleitos” que habitavam nessa cidade, sem os quais “ninguém se salvaria”.
As profecias de Jesus a respeito de Jerusalém servem para toda comunidade presa às ilusões do materialismo, do egocentrismo, da hipocrisia e da insensatez.
O Mestre prossegue com a sua preocupação com os falsos profetas porque sabe o quanto eles podem prejudicar àqueles que os seguem ao anestesiar suas consciências, justificando equívocos morais, e endurecer seus corações, sendo indiferentes ao sofrimento alheio.
Mais uma vez, Jesus se refere à vinda do Filho do Homem. Como já foi dito, o Filho do Homem representa a perfeição do Espírito que transitou pelos caminhos evolutivos da espécie humana.
A vinda do Filho do Homem também significa o nosso encontro com Jesus onde ele determinar, seja nas esferas superiores, seja na Terra ou na intimidade consciencial. Esse encontro ocorre como um relâmpago, ou seja, de forma inesperada.
Quando os discípulos indagaram ao Mestre onde ocorreria a vinda do Filho do Homem, ele respondeu: “Onde estiver o cadáver, aí também se ajuntarão os abutres (algumas traduções preferem ‘águias’)”. O significado desta simbologia diz respeito à ação das Leis de Deus com a Humanidade terrena. O abutre simboliza a promoção da limpeza moral da Humanidade. A águia representa a elevação da Humanidade às alturas da redenção espiritual. É o resultado da Lei Moral do Progresso, a qual é impossível de ser evitada. Igualmente, é a consequência da Lei Moral de Destruição para os inevitáveis fechamentos de ciclos evolutivos, que objetivam estabelecer a ordem moral de todas as coisas. Ninguém poderá resistir ao poderoso eflúvio dos mecanismos da evolução espiritual, os quais promovem a pureza do Espírito por intermédio de superlativo e irresistível Amor e indescritível e divina Sabedoria.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é educador, escritor e jurista. Autor do livro “Um Dia em Jerusalém”. Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)