Opinião

Nação Zumbi e os Caranguejos com Cérebro

Diário da Manhã

Publicado em 19 de fevereiro de 2016 às 23:33 | Atualizado há 9 anos

Na década de 1990 uma explosão cultural se organiza, desorganiza, reorganiza e finalmente se concretiza na capital de Pernambuco, Recife. Toda essa confusão cultural se refere à banda Nação Zumbi. Ao falarmos em Nação Zumbi não estamos glorificando exclusivamente o fato de ser uma das bandas mais influentes no Brasil, mas também por se posicionarem enquanto uma das principais representações de um movimento chamando: Caranguejos com Cérebro.

A Nação Zumbi lançou seu primeiro disco, Da Lama ao Caos, em 1994 e juntamente com a gravadora Sony os mangueboys foram longe. Um álbum com uma fluidez natural que contemplou vários elementos como; teatralidade nos palcos e diversidade de ritmos, não havia limites para a produção musical, como disseram em uma das músicas do álbum “Modernizar o passado é um evolução musical, cadê as notas que estavam aqui? Não preciso delas, basta deixar tudo soando bem aos ouvidos”. Tinham até mesmo um estilo próprio incluindo chapéu de palha e camisetas estampadas, mas o principal elemento que se destacava nesta banda era a forte crítica em suas letras. Do início ao fim cantavam, dançavam e expressavam uma grande revolta social. Citaram figuras históricas como Lampião, Zumbi e Sandino que em suas épocas eram considerados perversos, indivíduos contra a lei, mas atualmente são heróis pelo fato de terem lutado pelos pobres, afinal, lutar por uma população oprimida sempre foi e é visto como algo perverso. Eles expressavam a real situação que é viver na até então quarta pior cidade do mundo, Recife, e demonstravam que os não beneficiados nesta sociedade de classes vivem constantemente ameaçados e condenados à pobreza.

Ao falarmos sobre Nação Zumbi e o seu disco Da Lama ao Caos, uma peça chave se destaca, Francisco de Assis França, mais conhecido como Chico Science, vocalista da banda. Chico foi um dos principais responsáveis por toda essa movimentação cultural que acontecia em Recife e juntamente com o Fred Zero Quatro, integrante da banda Mundo Livre SA, iniciaram o movimento dos Caranguejos com Cérebro. Escreveram um manifesto e então a ação começou. Outros participantes tiverem papeis fundamentais na concretização desta onda cultural em Recife como; Gilmar Bola 08, Helder Aragão, Otto, dentre outros. Os principais objetivos deste movimento era iniciar uma articulação cultural na cidade, queriam ter um escape de toda opressão e conservadorismo que presenciavam, buscavam melhorar a sociedade em que viviam e também preservar o mangue, ecossistema presente em Pernambuco.

Durante uma tarde ensolarada no ano de 1997 o grande caranguejo Chico Science faleceu em um acidente de carro. Sem dúvidas foi uma grande perda e até hoje muitos lamentam esta morte. A banda Nação Zumbi com a presença de Chico deixou mais um disco para a história, com uma onda mais experimental lançaram Afrociberdelia, com a participação especial dos artistas: Marcelo D2, Gilberto Gil e Fred Zero Quatro. Até hoje os mangueboys continuam trabalhando no ramo da música, mas ainda falta aquela peça insubstituível que é o Chico.

 

(Isabela Crispim é professora da instituição privada e estudante de história pela UEG. Email: [email protected])

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