Opinião

Ódio ou aversão extravasada

Diário da Manhã

Publicado em 5 de abril de 2016 às 03:24 | Atualizado há 9 anos

O sentimento odioso, profundamente impregnado de racismos e incríveis intolerâncias raciais, religiosas, xenofóbicas… não é novidade no universo. Nem no Brasil. Onde, posso afirmar, está escancarado, agravando-se cada dia mais pelo fato de, não farto contra os humanos, investe, desbriado, sem-vergonha, contra as instituições, sobretudo políticas, já sendo “bola da vez” da maldade da direita atrasada, o Partido dos Trabalhadores (PT), por décadas existente no país, assim como alguns outros, com bons serviços prestados, inclusive tentando consolidar a democracia que temos.

Interpretar o Brasil nunca foi fácil, notando-se que nem o notável Caio Prado Júnior, com o oportuno livro “Formação do Brasil Contemporâneo” (1942), conseguiu evitar que em pleno século XXI persistissem no Brasil certos anacronismos e até tradições, retardando o pleno desenvolvimento do país, como se fosse possível retornarmos à escravidão. Por que o Brasil é assim? Por que nesse tempo do papa Francisco, diariamente pregando a paz e a justiça, ainda há pessoas e até instituições propagando e tentando eliminar pessoas e até partido político, como acontece inclusive na televisão, no horário nobre de hoje em dia? Vejam a arrogância do que falam. A idiotice do que propagam. Será que para prostrar ou derrubar um presidente da República, seria necessário eliminar seu partido político, seu ideal, seu programa de governo? Como ficaria o princípio pluripartidário da Constituição Federal?

O desabafo exposto, por estranho que pareça, é imprescindível. Tornou-se intolerável a abrangente onda de ódio, propagação de muitas ações de pessoas, por vezes falando em nome de instituições, não importa se de ordem pública ou privada.  É chocante o caso da médica, drª Maria Dolores Bressan, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul que, no dia 17 de março findo, houve por bem interromper atendimento a uma criança, “porque a mãe dela é petista”, segundo informa o DM de 31 do mês citado. A médica Maria Dolores chega a mandar uma mensagem para Ariane Leitão, certamente mãe da criança, dizendo que estava “declinando, em caráter irrevogável, da condição de pediatra” da criança. “Ela não quer mais ser pediatra do meu filho porque sou filiada ao PT. Isso é uma discriminação proibitiva. O direito do meu filho foi violado.”

Como se não bastasse, chamou-me também muita atenção, a atitude tomada pelo aluno da PUC-GO, Marco Rossi Medeiros, da “direita católica”, insurgindo-se contra a CNBB e Reitor Wolmir Amado, chamando-o de “cara de pau”, cobrando sua exoneração, ofendendo a CNBB e outras pessoas da Igreja, tendo como motivo básico, o fato do professor Wolmir, pertencer ao Partido dos Trabalhadores (PT), vendo-se, conforme reportagem do jornalista Hélmiton Prateado, DM, 28/03/2016, que a capa do perfil do facebook de Marco Rossi traz uma arma, a Bíblia e a bandeira dos Estados Unidos. Em inglês é dito: “Deus, armas e o país! Foi isso que fez a América grande!”

É de se imaginar o que acontece nas redes sociais.

Pelo visto, o jovem Marcos Rossi, em razão da forma intolerante como agiu contra a doutrina da Igreja, recebeu merecida admoestação. Mais que isso: um Comunicado Oficial, na íntegra, merecedor de transcrição:

“Em razão dos posicionamentos públicos de Marco Rossi Medeiros contra a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e vários irmãos no episcopado, bem como, recentemente, contra a Pontifícia Universidade Católica de Goiás, seu reitor, reitoria e corpo docente, no cumprimento da responsabilidade de nosso ministério, tornamos pública nossa reprovação a suas palavras, atitudes e métodos difamatórios, que intentam macular instituições, organizações e vidas de pessoas.”

Em suas investidas, embora se declare católico, Marco Rossi Medeiros não fala e nem age em nome da Igreja Católica.

Lembramos oportunamente que ao bispo da Igreja arquidiocesana – e somente a ele, dentro de sua circunscrição eclesiástica – compete a responsabilidade canônica de promover e garantir a unidade e a retidão da doutrina e da fé. Somente do arcebispo é a competência para discernir, decidir, nomear, destituir e acompanhar o governo das instituições eclesiais da Arquidiocese de Goiânia.

Todo e qualquer católico que se outorga ilegítimos direitos de suscitar rupturas na unidade da Igreja, está por isso mesmo atentando contra a comunhão e se colocando fora dela “latae sententiae”, prosseguindo:

“Reiteramos nosso apoio, solidariedade e gratidão à PUC Goiás, ao reitor e à reitoria, aos gestores, professores e funcionários, pelo serviço e pelo bem que prestam à Educação Superior, à nossa querida Pontifícia Universidade Católica e à Arquidiocese de Goiânia.

No Ano da Misericórdia, oremos ardentemente pela paz e pela harmonia do povo brasileiro. Recusemos e reprovemos, com firmeza, qualquer prática acusatória e ofensiva que incite ao ódio e à divisão, na família, na Igreja e na sociedade.

No fiel discipulado missionário, unidos à paixão de Cristo, como Igreja, continuemos perseverantes, rumo ao Reino definitivo.

“Rezemos por este irmão, para que seja tocado pela ação do Espírito Santo e tenha a proteção da Santa Mãe de Deus”, assinando Dom Washington Cruz, arcebispo de Goiânia e Grão Chanceler da PUC Goiás; Dom Levi Bonatto, bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia.

Segundo texto chamado “Misericórdia Petista”, autoria do próprio Marcos Rossi, publicado no jornal aludido, edição de 1º de abril corrente, consta ter havido Nota de Desagravo em favor de Marcos, através de abaixo-assinados. Espero encontrar o nome ou nomes do autor ou autores da Nota de Desagravo, para publicá-la, “ipsis literis” neste jornal.

 

(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego, mestre em história social pela UFG, professor universitário, articulista do DM ([email protected]))

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