Opinião

PT e PMDB: uma aliança imoral

Diário da Manhã

Publicado em 14 de março de 2017 às 01:51 | Atualizado há 8 anos

Aquele sectarismo do PT incipiente nos anos 80 tinha algo de saudável. Contribuía para a construção da indentidade partidária. O PT não se misturava com os outros porque não queria ser farinha do mesmo saco. É claro que a soberba postura isolacionista da legenda dificultava o seu crescimento quantitativo. Mas era necessário que esta doença infantil, o esquerdismo sectário, acometesse o PT, para vaciná-lo, torná-lo imune às tentações das alianças fisiológicas.

Mais de 10 anos se passaram antes de o PT, em Goiás, adimir aliança. Foi em l992, quando Darci Accorsi, candidato a prefeito, teve como companheiro de chapa o tucano Jovair Arantes, atualmente no PTB. Havia afinidades entre o PT dos tempos heroicos com os tucanos goianos, que eram, antes de mais nada, correligionários do ex-governador Henrique Santillo. Muitos santillistas ajudaram a fundar o PT, e ainda hoje tem muito tucano que começou na escola petista.

O PT apoiou discretamente a eleição de Marconi em 98. Deputados petistas tiveram, em relação ao primor governo dele, uma extraordinária boa vontade. O afastamento viria depois, por conta do Mensalão, quando Marconi e Lula se tornam desafetos, mais até do que adversários.

Já a aproximação com o PMDB derivou da questão nacional. O PMDB foi cooptado para a base lulista. Com o PT já na oposição em Goiás, a aliança tática como irismo se deu naturalmente, ou quase. Peemedebistas e petistas não têm nada a ver, em Goiás. Nunca se viram com bons olhos. Os modebras goianos se identificam muito mais com Ronaldo Caiado, no plano filosófico, do que com o PT. Petistas têm sua origem na baixa classe média e no proletariado. Os peemedebistas hodiernos, aqueles que mandam, são todos burgueses com origem na velha aristocracia rural. Vem daí a vocação oligárquica da sigla em Goiás.

O PMDB traiu miseravelmente o PT em Brasília. E o traiu miseravelmente em Goiânia. Ainda agora, os cardeais, os bispos, os padres e até os coroinhas do PMDB enchem a boca para escaralhar o ex-prefeito Paulo Garcia. Ele pode não ter sido um bom prefeito. Concordo. Mas é um homem de bem, honesto e probo. Não merece os insultos que vem sofrendo por parte do irismo rancoroso.

Mas a velhacaria peemedebista sempre botou olho grande no tempo de TV que o PT possui. Aliás, não só o PT. Eles querem os espaços televisivos dos demais partidos para aumentar o tempo de TV do candidato peemedebista, para que seus marqueteiros possam encher linguiça à vontade. Tirando, porém, o tempo de TV dos pequenos e médios partidos, não há nada no PMDB que interesse os peemedebistas. No fundo, sempre foram tão ou mais sectários do que qualquer outro partido.

Esse sectarismo enrustido, envergonhado, determina o comportamento do PMDB em face de seus aliados. O PMDB nunca quis aliados de verdade. Quer vassalos, que lhes prestem homenagem e beijem a mão de seus chefes de guerra. Em troca, recebem migalhas, cargos irrelevantes na administração peemedebista.

Por isso o deputado Federal Rubens Otoni está coberto de razão ao condicionar qualquer acordo com o PMDB goiano a que os peemedebistas abracem a candidatura de Lula para presidente, em 2018. Mas o deputado petista foi muito tímido em seu posicionamento, conforme sua entrevista a Marcus Vinícius para o Diário da Manhã de segunda-feira.

Como o PMDB não terá candidato a presidente em 2018 – tudo indica que apoiará um tucano – , é até capaz de algum peemedebista mais afastado do Írismo topar a parada. Maguito Viella sempre teve alguma aproximação com o PT, tanto na sua atuação política como na sua postura ideológica. Mas não é uma aproximação assim tão estreita. Não duvido que Maguito até se posicione pró-Lula para ganhar o espaço televisão do PT goiano, pois ele é candidatíssimo e vem trabalhando dia e noite para fazer valer, dentro da sigla peemedebista, sua pretensão eleitoral.

E tanto vem trabalhando este projeto que passa todo o tempo proseando com alguns próceres petistas. Os deputados estaduais do PT, por exemplo, amam Maguito. São petistas honrados, bem intencionados, mas absolutamente ingênuos e desfibrados.

A entrevista de Otoni é um recado para esses petistas sem brio que, apesar de todas as ofensas, de todos os abusos, de todas as humilhações públicas, ainda acham que seria bom negócio aliar-se ao PMDB de Goiás. É claro que os peemedebistas preferem Ronaldo Caiado ao PT. Ronaldo tem mais pegada eleitoral e o PT, em termos de prestígio, anda na maior urucubaca. Mas o PT tem mais tempo de TV que o DEM. Resumindo: as cassandras peemedebistas querem casamento de interesse com o PMDB e união estável, por amor, com Ronaldo Caiado.

Se o PT goiano quiser honrar suas tradições, suas bandeiras de luta, seu patrimônio moral ( não existe um único petista goiano envolvido na Lava-jato. Delúbio não conta porque há décadas foi morar em São Paulo e fazer política por lá). Otoni perdeu uma ótima oportunidade de submeter os peemedebistas a um teste público: o PMDB estaria disposto a ceder ao PT goiano a vice-governadoria e uma das senatórias? Pois meu palpite é que o PMDB não cederá em nada. Para os peemedebistas, aceitar a participação co PT em sua aliança, em posição perpetuamente subalterna, já seria uma caridade pela qual os petistas teriam que agradecer de joelhos.

O PT goiano não precisa passar por esta humilhação. Não tem que mendigar nada ao PMDB goiano. Pelo contrário, deveria denunciá-lo, cobrar caro a desfeita com que trataram a gestão Paulo Garcia. Talvez os deputados petistas tenham interesse pessoal nesta aliança, pois é próprio dos detentores de mandato pensar primeiro em seus interesses eleitorais, subordinando a eles o interesse de toda a coletividade partidária. Se a hipótese estiver correta, fica fácil compreender o porque desta mórbida insistência em beijar os pés de quem tanto tem pisado nos petistas.

É na hora da desgraça mais negra que se deve erguer a cabeça e partir para a luta. Chegou o momento do PT seguir sozinho, ou aliado a outras forças mais à sua esquerda, e romper de uma vez por todas com o PMDB. Ou pula fora do saco de farinha ou…

 

Helvécio Cardoso, jornalista

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