Sonho do pai ou do aluno?
Diário da Manhã
Publicado em 24 de agosto de 2018 às 03:44 | Atualizado há 7 anos
O que significa a escola para o aluno? Uma pergunta que pode parecer muito simples, mas é apenas a ponta do fio de uma extensa meada que pode tanto seguir reta e transparente assim como pode se transformar em nós quase impossíveis de desatar.
Isso ocorre porque a formação do significado da escola para ele não começa na própria instituição nem na idade escolar, mas sim nos primeiros anos de vida, em casa, quando esta criança assiste aos que estão a sua volta dar valores e conceitos, nem sempre os melhores, sobre o que é a escola e o que é estudar. Este primeiro contato marca a criança. Nos primeiros dias, meses e até anos de escola, imagens criadas na infância sobre isso vão assombrar ou estimular seu desenvolvimento – mesmo que seja subliminarmente.
Por isso, no ambiente escolar cabe ao grupo de operação – diretoria, professores e colaboradores – transformar ou retransformar o ambiente, criando um clima pacífico e amigável, substituindo interpretações acumuladas fora deste ambiente pela escola de fato. Outro problema, dentro deste mesmo ambiente, pode ser a própria abordagem pedagógica que muitas vezes pecam na forma de definir, apresentar e desenvolver os estudos para a criança. A escola não pode cometer o mesmo erro da família. Não entrar no discurso fácil do ganho futuro, do financeiro, já seria um bom caminho.
Em casa, naturalmente, na conversa entre adultos, o estudo é apresentado (e a criança capta isso) como uma escada para o futuro, sempre focada no ganho financeiro, bens de consumo, entre outras motivações ligadas à monetização. As comparações com primos e amigos só vão reforçando, durante a formação, que o desejo é que a criança busque o caminho do dinheiro – mesmo que não tenha nada a ver com seus desejos pessoais.
Se a escola fizer caminhos parecidos, teremos não alunos com visão distorcida do ensino, pessoas que estudam para ganhar dinheiro e terem patrimônio. Assim, sem prazer em estudar, logo a muito longa caminhada do aluno se torna entediante e obrigatória.
A imposição do “lucro”, do enriquecimento, com o estudo, é uma tortura mental que não precisa acompanhar o estudante durante mais de uma década de bancos escolares. A criança cresce pensando quanto ela vai ganhar em dinheiro e não em conhecimento. O desenvolvimento pessoal prejudicado acaba formando profissionais frágeis, que se formam em áreas que não contemplam suas competências e gostos. Na prática, distorcem desde o começo o objetivo do ensino.
Muitas famílias já escolhem a escola do filho pelo fato desta ter um direcionamento ou uma preparação voltada para uma profissão específica, que melhor remunera e que o leve a realização do sonho de ser “rico”. O legado do pai para o filho neste sentido acaba sendo sua frustração com sua carreira e com os estudos. Alguns ainda impõem uma “agenda de vida” com um foco que a criança de fato não se interessaria por conta própria, e, no fim, aprendizado vira um castigo, uma obrigação com um prêmio distante, incompreendido, que virá daqui a uma década.
Deve se falar sim do lado financeiro da vida, mas este não deve ser o principal objetivo para se estudar e muito menos para se fazer a escolha profissional, a qual deve ser pautada pelo objetivo de conseguir se realizar como pessoa e de cumprir de forma eficiente o ofício escolhido. Afinal, ser feliz e sadio é mais importante do que ter dinheiro.
Por tudo que foi exposto, caberá à escola uma estratégia pedagógica mais focada em propiciar o desenvolvimento pessoal de cada aluno, respeitando as especificidades individuais e ajudando, através de orientação, os pais também a respeitá-las, utilizando como meio o diálogo, a reflexão e evitando o senso comum e as convenções sociais.
(Paulo Arcanjo, advogado e diretor do colégios Metropolitano e Metropolitano Jr. – metropolitano@metropolitano-go.com.br)