Opinião

Sonho, sonambulismo e êxtase

Diário da Manhã

Publicado em 14 de junho de 2016 às 02:24 | Atualizado há 9 anos

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Na luta entre o id e o superego contigo me identifico superegoisticamente. Na luta entre a carne e o espírito, por ti encarno o amor espirituatavicamente. Na luta entre a presença e a ausência teu corpo presenciamo, ausenciessencialmente. Na luta entre a poesia e a loucura, te abraço como poesia loucopoeticamente.

 

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Vultos vão e vêm de uma a outra margem rumo ao nosso encontro, ora espectadores ora personagens. Falam de si como outros, levam e trazem mensagens unindo o aquém e o além entre dois mundos flutuantes. E assim contemplamos o acontecer distante da vida, vista por baixo, mas revivida por cima, como depois e como antes.

 

Sonho, sonambulismo, segunda vista e êxtase são fenômenos naturais, em diferentes graus, e sempre existiram como extensão da potencialidade humana, apesar de explorados desde a mais remota antiguidade como fenômenos sobrenaturais.

Para Freud, pai da psicanalise, o sonho é a realização de um desejo frustrado. Então sonhar consistiria na manifestação do subconsciente que durante o sono nos traz uma lembrança daquilo que poderia ter sido e que não foi.

Há sonhos que são revelações mais que lembranças e figuram como um aviso, ou pressentimento de um acontecimento futuro. Não se confunde sonho com imaginação: esta é fruto da mente, aquele é libertação do espírito.

O espírito vaga enquanto o corpo dorme. O espírito não dorme. Durante o sono do corpo, o espírito se liberta pelo sonho. Revê o passado ou prevê o futuro. Sintoniza-se com outros espíritos ou visita outras paragens em momentos de outras vidas.

Muitos sonhos que quase sempre são esquecidos, interessam mais ao plano espiritual que ao corporal e não se traduzem em realidades vivenciadas.

O sonho é o repouso do corpo e a libertação do espírito. As visitas espirituais são espontâneas: o homem não pode provocá-las por sua própria vontade.

Espíritos encarnados podem reunir-se em assembleia, do que resultam certas ideias que nos são intuídas, mas ignoramos sua fonte. Muitas ideias nascem da intuição como revelação de sonhos não lembrados.

Muitos pensamentos que não se resolvem em nosso estado consciente, podem desenvolver-se e transmitir-se ocultamente na nossa condição de espírito.

Duas ou mais pessoas,mesmo estando despertas, podem comunicar-se espiritualmente, por exemplo, tendo uma mesma ideia por transmissão de pen-samento. Ora, se podem comunicar-se em estado de vigília, também o podem durante o sono, pela linguagem dos espíritos.

Há sonos profundos que simulam a morte, como nos estados de letargia e catalepsia, em que o corpo perde sua força vital, mas dele o espírito não se separa. Enquanto há vida o espírito não se separa do corpo. Se há vida é porque há espírito.

 

Sonambulismo e êxtase

Não se confunde sonho com sonambulismo. O sonho é um estado incompleto de sonambulismo.

Sonambulismo é afastamento momentâneo do espírito, que se serve do corpo apenas como instrumento para manifestar-se. No sonambulismo o espírito não se afasta do corpo, age por meio dele.

O sonâmbulo não lembra o que o espírito operou. Mas quem sonha lembra, ainda que vagamente, as revelações do espírito.

No êxtase o espírito se afasta momentaneamente do corpo e eleva-se em estado de contemplação do mundo sobrenatural. Quer em estado de sonho ou em sonambulismo, o espírito desenvolve uma segunda vista de realidades invisíveis em estado de vigília.

Segunda vista é a capacidade de ver-se, de ouvir e de sentir além dos limites dos nossos sentidos. Mas os adivinhos e videntes têm visões e premonições que prescindem dos estados de transe. Há quem vê com os olhos da alma como quem vê com os olhos do corpo.

Certas circunstâncias como a doença, a aproximação de um perigo ou uma grande comoção, podem provocar uma segunda vista, quando o espírito antevê realidades invisíveis a olho nu.

Para o sonâmbulo não há distância: ele vê as coisas como se estivesse no mesmo lugar em que elas estão. A lucidez sonambúlica não é indefinida, eis que o espírito está limitado em suas faculdades na ligação com o corpo. Ao manifestar-se em estado de hipnose, a presença de pessoas malévolas exerce sobre o espírito certa inibição.

As visões que se processam no fenômeno do sonambulismo, como o fato de ver-se a si mesmo em lugares distantes, não são mera abstração metafísica, mas prova inconteste da emancipação do espírito.

Não se confunde sonambulismo com morte aparente, que se dá na forma de letargia e de catalepsia. Os letárgicos e os catalépticos veem e ouvem normalmente.

O sonâmbulo se desdobra em dois e fala de si como outro, visto estar representando a si mesmo em dualidade, como ser corporal e como ser espiritual. Quando fala do seu ser espiritual que vem de outras vivências, o sonâmbulo mostra conhecimentos superiores aos de sua capacidade própria.

No sonho e no sonambulismo a alma erra sobre mundos terrestres. No êxtase, ela penetra mundos etéreos onde sente as vibrações da harmonia celestial.

 

(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: [email protected])

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