Triste fim de Lula da Silva
Diário da Manhã
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 00:33 | Atualizado há 8 anosNão exige muito raciocínio analisar qual será o fim do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, envolvido em inúmeras falcatruas praticadas durante anos e anos por ele e seus companheiros. O cardápio de acusações que pesam contra o ex-Presidente e sua historia de vida apresentam muitas semelhanças e várias divergências com o romance de Lima Barreto “Triste Fim de Policarpo Quaresma” pois, da mesma forma que o personagem principal do romance, também o ex-Presidente terá um triste fim.
Para os que curtem a literatura brasileira o livro de Lima Barreto, reconhecido como principal romance pré-modernista, tem como palco a infância da República, sob governo do “Marechal de Ferro” Floriano Peixoto. Policarpo Quaresma era um patriota apaixonado pelo Brasil, despertando muitas curiosidades entre os conhecidos por ser um estudioso, sendo respeitado por muitos ao mesmo que não era valorizado por não se envolver em política. Conhecido como Major Policarpo, sem ser militar, pode ser considerado um homem ingênuo.
Policarpo, mesmo não sendo letrado, por não ter cursado faculdade, tinha por hábito gastar grande parte de seu tempo lendo, o que na época não era visto com bons olhos pelos conhecidos. Hoje seria um autodidata. Ele possuía altos e nobres ideais, podendo ser descrito como um sonhador “salvador da pátria”, sentimentos de pouco valor em um mundo governado por interesses e proveitos pessoais desde então, assim como hoje. Além da leitura, Policarpo dedicou tempo considerável tentando aprender tocar violão, instrumento mal visto pela sociedade da época, considerado uma companhia típica do espírito popular do País. Policarpo foi ferrenho defensor do tupi-guarani como língua oficial brasileira, conduta que causou espanto em seus vizinhos e colegas de trabalho que não o compreendiam, vivendo fora da realidade e chegando a ser internado em hospício por algum tempo. Seus concidadãos não o compreendiam e ele não se fazia compreender, pois não buscava isso.
O patriota da recente Republica, desgostoso com a vida na cidade, procurando sossego vende sua casa e compra um sítio onde busca provar a decantada fertilidade do solo brasileiro, na vã tentativa de incentivar a iniciativa agrícola em outras pessoas e ajudar no crescimento econômico do Brasil e do mundo inteiro. Não alcança a tranqüilidade pretendida, pois continuava a lutar contra a opinião pública e as autoridades. O principal objetivo de Policarpo era repassar a cultura brasileira e exaltar o que de melhor havia no País. Ele acreditava em mudanças e melhoras do Brasil, mas acaba sendo acusado de traidor e, devido às suas criticas, é preso e condenado ao fuzilamento, por ordem do presidente Floriano Peixoto. Antes de sua morte, chega a conclusão que toda a sua vida, sua luta e todos seus sonhos foram em vão. A pátria brasileira, pela qual ele tanto sonhou e lutou, não existia.
A biografia de Lula da Silva é rica em detalhes que chamam a atenção, pois sua vida se confunde com a luta de todos brasileiros que desafiam a pobreza. Nascido no nordeste sofrido, mudou para escapar da miséria do sertão. Inicialmente foi para Santos, litoral paulista, e posteriormente para a capital. Ainda criança trabalhou como vendedor ambulante, engraxate e office-boy. Na adolescência tornou-se aprendiz de torneiro mecânico. Viúvo do primeiro casamento, dedicou-se inteiramente à atividade sindical. Casou pela segunda vez e continuou sua luta no sindicalismo. Liderando greves reprimidas pela ditadura, aprendeu que os trabalhadores precisavam também fazer política e ter seu próprio partido. Participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e integrou a frente suprapartidária pró-eleições diretas para a presidência da República juntamente com outros líderes políticos. Construiu o maior partido de massas do País, disputou e perdeu três eleições para Presidente da República. Não desistiu e desafiou preconceitos, os poderosos e os meios de comunicação para tornar-se o primeiro trabalhador eleito presidente do Brasil. Em oito anos de governo, pretendeu mudar o destino do País. Deixou a presidência como líder inconteste, conseguido eleger sucessora. Sem dar aviso prévio a economia brasileira entrou em queda. Descobriu-se participação de amigos e correligionários de Lula envolvidos em fraudes, iniciando a queda do líder.
Ao que se sabe, Lula não cursou nenhuma escola, ao menos mediana, e sempre detestou leitura, nada tendo de ingênuo e até pode ter sonhado em ser idolatrado como um salvador do Brasil e que pretendia ser um herói internacional dos esquerdistas. Apesar de detentor de sentimentos nobres, não conseguiu atingir seu objetivo final, um tanto nebuloso para muitos. É público e notório que o ex-Presidente Lula é chegado a uma “cachacinha”, bebida popular da plebe brasileira. Lula da Silva, um autodidata com a sabedoria adquirida no dia a dia da vida e nos embates do sindicalismo, a despeito do carisma, dos improvisos famosos e dos discursos inflamados, não era chegado ao domínio do português. Lula da Silva, negando ter adquirido um sitio e um apartamento de praia para os momentos de lazer, sente-se perseguido pelo Judiciário e pela imprensa.
Alegando a tentativa para criminalizar movimentos de esquerda em vários países do mundo, Lula da Silva demonstra desgosto com o avanço de setores conservadores procurando encerrar o ciclo de governos de esquerda na América Latina atingindo Chile, Argentina, Equador, Venezuela e Bolívia, com especial destaque para o Brasil. Ostentando crachá ideológico, reconhece que as bandeiras esquerdistas foram arriadas e fracassou o Foro de São Paulo, que pretendia juntar forças e trabalhar a possibilidade de criar um movimento para construir a ampliação da esquerda na America do Sul. Parece estar desiludido com tudo que aconteceu e está acontecendo, porquanto os partidos de esquerda funcionam melhor na oposição, vez que quando chegam ao poder ficam enfraquecidos, pois todos querem participar do governo.
Na análise entre as convergências e divergências do triste fim de Policarpo Quaresma e Lula da Silva sabe-se o que aconteceu com o primeiro e é possível prever o que acontecerá com o ultimo. Dois fins são previstos para Lula: ser preso ou buscar asilo político em outro país. Lula deixaria o Brasil de tal modo que pudesse se apresentar como vítima de uma perseguição política. Pode até ser que não aconteça nenhuma das duas hipóteses se o políticos conseguirem, como vêm tentando, frear as ações da Lava Jato. Todavia, a opinião pública e a mídia estão atentas para evitar que os políticos concretizem suas pretensões. Pelos desdobramentos da Lava Jato parece que estão deixando Lula por último. Existe forte opinião popular pedindo a prisão de Lula. Se ele não for preso a Justiça brasileira ficará desmoralizada. Com tantas figuras importantes já presas, quando chegar a vez de Lula já não haverá tanto impacto na opinião pública e ele não terá como fazer delação premiada, pois estará no final da fila. Mas Lula não terá condições psicológicas de ser preso, ficando cada vez mais distante a pregação de aliados no sentido de que sua prisão provocará convulsão nacional, criando um fato político de larga repercussão internacional em que ele sairá na condição de vitima.
Restaria a possibilidade de pedir asilo político em algum País. Sua defesa e conduta orientam nesse sentido, recorrendo à ONU, OEA e tentando processar as autoridades que o processam. Entrar em uma embaixada sediada no Brasil e se apresentar como um perseguido político não é difícil. O trajeto entre a embaixada e o avião em que partiria para o exterior, sem que haja prisão, também pode ser negociada sem maiores dificuldades. Difícil será escolher o país, porquanto devem ser analisadas as conseqüências para a família e ser aceito refugiado, escolhendo o país mais adequado para obter o pedido de asilo e evitar a possibilidade de extradição. Parece que Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina serão descartados pelo interessado, assim como Estados Unidos após a eleição de Donald Trump. Cuba é muito pequena. A Itália ainda não digeriu a negativa de extradição de Cesare Battisti. A maioria dos países europeus apresentam a dificuldade de línguas. Restaria, em uma análise um tanto apressada, Uruguai, Espanha e França. Os dois primeiros oferecem maior facilidade do português para o espanhol. Mas a França pesa na decisão em razão das liberdades políticas.
A ideologia dos sonhos de Lula da Silva entrou em colapso no Brasil e no mundo inteiro. Aconteça o que acontecer, tudo sinaliza para um triste fim de Lula da Silva.
(Ismar Estulano Garcia, advogado, ex-presidente da OAB-GO, professor universitário e escritor)