Turismo rural ainda está no forno no Brasil
Diário da Manhã
Publicado em 10 de junho de 2016 às 02:42 | Atualizado há 4 mesesCom o controle remoto à procura de alguma informação nos canais da televisão a transmissão da TV5 Monde chamou a minha atenção. A emissora franco-canadense transmitia um programa onde o turismo rural ocupava amplo espaço. Isto em pleno interior da França, onde Paris está na preferência dos turistas de todo o mundo. Apesar de certa cautela em função dos recentes ataques terroristas.
Assistindo ao programa da emissora pude verificar a importância do turismo rural francês. As famílias, na realidade, querem fugir da vida urbana, principalmente do seu trânsito, da carência de estacionamento público ou da múltipla forma de poluição ambiental. Os proprietários do pequeno sítio, por sua parte, recebiam felizes famílias urbanas para uma ceia à frente da casa numa verdadeira consagração.
Os turistas se derretiam com a refeição caseira e bebiam vinho da própria fazendinha e se deliciavam com os queijos e outras guloseimas servidas na ampla e tosca mesa. As videiras eram mostradas e alguns cachos de uvas tirados diretamente dos pés e avidamente consumidos. As crianças, então, se esbaldavam.
Esse cenário inesperado para mim atiçou-me a curiosidade de jornalista voltado para o rural. Por qual razão essa prática não é feita com tal intensidade no Brasil. E, mais ainda, em Goiás? Afinal, se a França, Portugal, a Espanha e outros países europeus têm muito que oferecer, os goianos também.
Em Goiás, há um monte de fazendas de todos os tamanhos. Casas grandes e pequenas. Muitas à beira do córrego. Gado pastando no campo. Hospitalidade não falta ao brasileiro de modo geral e aos goianos de modo particular. No horizonte, pode-se ver serras, matas, enfim um cenário de encher os olhos. Um hotel-fazenda, também, comporta e bem, constando dos equipamentos e serviços indispensáveis, voltados para recreações campestres e contato com a natureza.
O agroturismo também pode estar associado às atividades agroecológicas, ecoturismo ou de educação ambiental. Entendo que o turismo rural contribui para estabilizar a economia local. Ele pode incentivar o comércio, serviços auxiliares, construção civil, entre outras atividades e abrir oportunidades de negócios diretos. Entre os quais, hospedagem, lazer e recreação. Na área do agronegócio, pode agregar valor aos produtos agrícolas e às indústrias artesanais. Quem não quer um mel de abelhas extraído das colméias do local, queijo fresco, bolo de arroz, pamonha feita na hora e assim por diante? A criatividade responde pelo resto.
Participando de evento recente sobre turismo no Sebrae em Goiânia, percebi o interesse da entidade em fomentar essa prática no Estado. A instituição mostrou a disposição inclusive de “vender” o turismo da Chapada dos Veadeiros, no norte goiano, e de Pirenópolis, durante as Olimpíadas, no Rio de Janeiro. Sem dúvida, uma fórmula a mais de atrair contingentes de diferentes partes do mundo para Goiás.
Vejo com muita simpatia, também, os trabalhos do senador goiano Wilder Morais no segmento. Ele relatou e aprovou recentemente projeto no Congresso Nacional que estabelece 3% do Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) para promoção do agroturismo. Em sua justificativa, o parlamentar situa entre os predicados a aproximação da pessoa com a natureza e a agricultura.
“É um investimento que tem capacidade de despertar as tradições locais e inserir os próprios moradores neste mercado, que é crescente e importante para os estados e municípios. Daí ser necessária a modificação tributária”, resume o senador que viveu na roça, em Taquaral, interior de Goiás, e, portanto, conhece a vida do homem do campo e a necessidade de mudança para melhor.
Pelo visto, é hora de dar as mãos entre governo e iniciativa privada e fomentar o agroturismo tanto em Goiás quanto noutros Estados. O Sebrae e o senador Wilder Morais dão o sinal de partida. Orgulha-nos saber que iniciativa assim parte de Goiás, realmente um Estado empreendedor.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)