Opinião

Viagens: momentos inesquecíveis que pedem bis

Diário da Manhã

Publicado em 14 de junho de 2016 às 02:31 | Atualizado há 4 meses

Ao fazer uma abordagem recente sobre turismo no Sebrae em Goiânia, o presidente executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau, Toni Sando de Oliveira, evocou duas situações que me fizeram refletir. Toni, procurando mostrar a essência de uma viagem turística, resumiu duas características fundamentais. Na verdade, duas perguntas vitais: para onde se quer ir? Ou o que se quer sentir?

Vamos lá. A pessoa decide ir a Paris. Mas, fazer o quê? Percorrer a capital francesa sem destino? Ou ver a Torre Eiffel e nela tirar fotografias? Transmiti-las pelas redes sociais ou ainda formar pastas de fotos de viagens no computador. E, mais ainda, curtir sua panorâmica? Jantar no Bairro dos Artistas? Ou se contenta com a mera viagem num jato rompendo os cerca de 10 mil quilômetros entre os principais aeroportos brasileiros e o Charles De Gaulle?

Conheci Berlim dividida pelo Muro da Vergonha. A ostentação de um povo de um lado e o vazio de outro. Numa, um povo livre. Noutra, não podia nem tirar fotografias direito. Felizmente, o alemão juntou esforço e se unificou.

Quem vai a Itália, muitas vezes se desencanta com a Torre de Piza. O tempo suficiente para uma tomada de fotografia. E só. Em Roma, o Vaticano, ou mais particularmente a Basílica de São Pedro, oferece um passeio imperdível, no coração da cristandade, onde a excelência espiritual e artística é admirável em obras-primas de Michelangelo. É de cair o queixo. Coliseu, Fonte de Trevi são complementos. Além da rica gastronomia.

A Itália, no entanto, não é só isso. O País é fonte do Mundo Romano, do Direito Romano, da música romântica, e não para. O italiano tem profunda identificação com os brasileiros, tanto que as colônias se disseminam por São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pessoalmente, guardo recordações inesquecíveis das ilhas de Capri e Ana Capri, da recepção com a grapa, aguardente extraída da uva, e do cenário azul do céu e do mar Mediterrâneo.

Nas cidades espanholas e italianas, como é bom tomar um café nas calçadas ou nas próprias ruas em certos períodos do dia ou da noite. E contemplar a cidade e seu movimento. Museus e igrejas centenárias não faltam na Europa. Pode-se passar horas e dias e o que se vê é pouco ainda, mas o que se guarda na mente é muito. É um povo que respira cultura e tem o hábito da leitura. É comum nas cafeterias jornais e revistas para se lê enquanto se degusta um café acompanhado de um croissant.

Para os amantes da arquitetura, falar de Barcelona sem citar Gaudí é praticamente impossível. Antoni Gaudí viveu e morreu (1852 – 1926) em terras catalãs. Considerada a obra prima de Gaudí, o templo da Sagrada Família começou a ser construída em 1882 desenhada por Francesc de Paula Villar é centro de visitas. O Parque Guell é outra obra maravilhosa desse arquiteto. Todo o parque foi pensado para promover perfeita integração da arquitetura com a natureza, sendo que as construções imitam formas como rios de lava, cavernas e troncos de arvores, tudo com a inconfundível marca de Gaudí. Em 1984 a UNESCO levou o Parque Güell ao posto de Patrimônio da Humanidade.

Portugal é uma verdadeira lenda. Gastronomia rica. Arquitetura, seus casarões, jardins, monumentos e mosteiros. O português, com certeza, sabe fazer uma bacalhoada de dar água na boca anos depois de ser consumida com um bom vinho tinto. Uma noite de fado, música tradicional portuguesa, é imperdível. As várias cidades, destacando-se Lisboa, Coimbra e Porto. A Universidade de Coimbra e a Cidade dos Pequenitos sobressaem. Esta é praticamente uma miniatura apresentando solares, capelas e as províncias de ultramar da África, Brasil, Macau, Índia e Timor. A cidade de Fátima é assim como Trindade. Além do templo para as orações, praticamente nada mais em termos de turismo.

Em Jerusalém, Israel, as pessoas se deparam com as religiões, onde todas se respeitam mutuamente. No templo muçulmano há pedidos para não se entrar calçado nem sobraçando máquina fotográfica. Como não existe guarda para olhar seus pertences, o jeito para quem quer conhecer o interior da mesquita, é deixar tudo ao lado da porta. É confiar em Deus ou em Alá. Na volta da visita feita descalço, suas coisas estão intactas.

No Aeroporto Ben Gurion, de Tel Aviv, a preocupação é de outra natureza, com os atos de terror. Após descida cidade israelense, e providências burocráticas de praxe, fui recepcionado pelo funcionário da escola onde participaria de um curso. Como outro grupo de argentinos chegaria noutro voo, foi-me pedido para aguardar mais um pouco.

Curioso, poucas pessoas em trânsito, entendi por bem ver vitrines. E deixei minha maleta no corredor. Pra quê! O cara me gritou de longe: “Wandell, carregue sua maleta com você, não a deixe no saguão.” Somente depois entendi. Atos terroristas ocorrem em áreas estratégicas e incomodam Israel. Em Tel Aviv, por exemplo, o cidadão comum pode transitar altas madrugadas sem ser incomodado e sem sofrer nenhum risco de meliantes.

Se em Buenos Aires, o Piazzolla oferece noites de tangos acompanhadas de faustoso jantar, nas churrascarias, sem dúvida, o turista encontra uma das melhores carnes do mundo. O Puerto Madero sofreu profunda mudança. De um porto praticamente abandonado transformou-se num centro de rica gastronomia, escritórios de grandes empresas, bares e restaurantes famosos, universidade, hotéis de luxo, museus e um cassino flutuante.

No Chile, Viña del Mar sobressai para mim com um restaurante. Folheando o cardápio, detive-me nos chamados frutos do mar. O garçom me recomendou um salmão. A sugestão foi aceita. Um prato muito bem elaborado. Acompanhado de um vinho chileno tinto, sentindo o aroma da brisa oriunda do Pacífico e o sussurro das águas do oceano sobre os rochedos. É tudo o que se pede a Deus.

Sem dúvida, esses momentos tornaram-se um dos melhores de minha vida. Isso demonstra que o Toni Sando de Oliveira tem razão quando chama a atenção para os sentimentos numa viagem turística. Eis um lugar que me reservou grande surpresa e pretendo nele retornar.

A Califórnia, nos Estados Unidos, marcou-se pelas fazendas e pouco pelas cidades devido ao tempo que foi pouco. Acompanhava, então, como jornalista delegação de produtores ligados à Federação da Agricultura (Faeg), conduzidos pelo João Bosco Umbelino dos Santos e Macel Caixeta. Nos confinamentos, os animais estavam praticamente no atoleiro. Em Goiás, Otávio Lage fizera um confinamento todo sofisticado e se arrependera. Gasto imenso jogado fora. Reconhecera depois.

Nova Zelândia e Austrália chamam a atenção pelo seu povo empreendedor. Suas cidades são bem cuidadas e a limpeza impera. Sydney é uma das cidades mais lindas que vi. A Ópera de Sydney e a Ponte da Baía de Sydney são as construções mais conhecidas pelos visitantes internacionais. A Nova Zelândia chama a atenção especial por suas paisagens.

No Brasil, percorri a Amazônia de Catalina, um hidroavião da FAB. Desci nos principais rios. Vi em pleno regime militar a integração entre padres e freiras e os militares da Força Aérea Brasileira e soldados da fronteira. A sobrevivência de todos estava em jogo. E a comunicação era feita pela via aérea com os canais navegáveis dos rios Madeira, Mamoré, Solimões, servindo de “pista” dos aviões hidro-anfíbios construídos na década de 30 e que serviram na 2ª Grande Guerra.

Por falar em Amazonas, espetáculo bonito da natureza é o encontro das águas dos rios Amazonas e Negro. As águas não querem se misturar.

Wandell Seixas 1

Wandell Seixas 3

 

Wandell Seixas 4

Belém não é só Ver-o-Peso, cartão-postal, ou o mercado oferece os mais variados sabores e aromas do Pará. Seus sorvetes e picolés de frutos nativos da Amazônia é algo inigualável. O carimbó tem o seu lugar. Trata-se de um gênero musical de origem indígena, porém, como diversas outras manifestações culturais brasileiras. Miscigenou-se e recebeu outras influências. Lembra bastante a música caribenha, sobretudo no seu ritmo. Infelizmente, a rede hoteleira de Belém não sabe vender esse ritmo como em Buenos Aires se vende o tango para os turistas.

São Luis, capital do Maranhão, detém uma história fantástica da colonização francesa. Aliás, a cidade foi fundada pelos franceses. Claro, posteriormente tomada pelos portugueses. A influência portuguesa é muito forte na capital maranhense, tanto pela arquitetura quanto nos azulejos espalhados pelas construções antigas. A variedade de peças de cerâmica é tão grande que São Luís é considerado um verdadeiro museu a céu aberto.

Quanta história nas cidades nordestinas. Quanta cultura de raízes européias e africanas. Menino, fui criado em Araguatins, à margem do Araguaia, ouvindo as rádios de Belém, São Luís, Recife, tocando músicas de Luiz Gonzaga e outros ases da sanfona.

No Mato Grosso, a região do Pantanal é quem mais chama a atenção do turista brasileiro e estrangeiro. Afinal, a região detém um manancial hídrico de causar admiração em todo o mundo. A fauna e flora são de uma riqueza somente comparável à Amazônia. Em certas circunstâncias, só falta o jaburu posar ao seu lado para a fotografia. Os jacarés dominam as margens do rio Cuiabá, que banha a colônia do Sesc, uma das mais procuradas o ano inteiro pelo seu associado.

A capital mato-grossense detém museus impressionantes. Desde assuntos relacionados à imigração da raça humana ao continente americano (o ameríndio) até a história mais moderna, passando também pelos períodos colônias e imperiais. Muita história, contada por meio de objetos, armamentos, roupas, louças, recortes de jornais, quadros, fotos. É o ponto onde se cruzam vidas cuiabanas com grandes acontecimentos da história mundial, como a Guerra do Paraguai (1864 – 1870) e a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).

A Chapada dos Guimarães (MT) sobressai pela sua natureza ou mais particularmente por suas montanhas, quedas d’água e rios. O mesmo ocorre com a Chapada dos Veadeiros, norte de Goiás, acrescida pelas trilhas, rio encachoeirado e por uma acentuada espiritualidade.

Filho do Araguaia, e não podendo estar com freqüência em Araguatins onde nasci pela longa distância, tomei Barra do Garças (MT) como um dos berços. A cidade surpreende ao forasteiro pelas belezas que detêm. Em frente, os rios Garças e Araguaia se encontram estabelecendo uma harmonia, ao contrário dos rios Negro e Amazonas que se desentendem por quilômetros a fio. Os passeios de barco ou de jet-ski, as praias do lado de Aragarças (GO) e uma boa companhia complementam o cenário.

O barco flutuante, transformado em restaurante, é local de encontro tanto para os moradores da cidade quanto para os visitantes. Para quem está curtindo uma música de algum conjunto local, sorvendo uma cerveja bem gelada ou uma dose de uísque bem temperado, banzeiro batendo no barco. É outro momento de prazer e também inesquecível. Para surpresa geral: o imenso caudal de águas quentes que lembra Caldas Novas, em Goiás.

 

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuária pela Histradut, em Tel Aviv, Israel, e autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias