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‘Eu não vou cair. Isso é moleza, é luta política', afirma Dilma a jornal

Depois de fazer ontem uma série de reuniões para tentar conter o agravamento da crise política, a presidente Dilma Rousseff afirmou em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo" que não pretende deixar o cargo por manobra que considera um “tanto golpista” da oposição. Dilma diz que não vai cair e que isso é “moleza”.

“Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política”, disse a presidente . “Vão provar que algum dia peguei um tostão? Vão? Quero ver algum deles provar. Todo mundo neste país sabe que não. Quando eles corrompem, eles sabem quem é corrompido”.

Segundo a presidente, as doações recebidas por sua campanha foram regulares e não há motivos que levem a seu afastamento. Essas contribuições, segundo delatores que colaboram na investigação da Operação Lava-Jato, eram uma forma de disfarçar o pagamento de propinas. Na entrevista, Dilma repete inclusive que não respeita delatores, mesmo quando questionada se isso seria útil para elucidar um caso de corrupção.

Dilma disse que não há base para um pedido de impeachment e que não teme essa possibilidade.

“Não tem base para eu cair, e venha tentar. Se tem uma coisa que não tenho medo é disso”, afirmou.

A presidente afirma também que não tem culpa no cartório, "nem do ponto de vista moral, nem do ponto de vista político". Do contrário, afirma, se "sentiria muito mal". Nega qualquer relação com escândalo investigado na Lava-Jato, que apura principalmente corrupção envolvendo contratos da Petrobras. Segundo ela, "foi cem mil vezes pior" ser presa e torturada durante a ditadura militar do que o momento pelo qual passa hoje. Assim, não há possibilidade de renúncia nem de suicídio, boato que chegou a circular nas redes sociais recentemente.

Dilma foi questionada ainda sobre as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político. Conforme mostrou o GLOBO em junho. Na entrevista, Dilma diz que não se sente no volume morto, que o ex-presidente tem o direito de falar o que quiser e que não faria críticas a ele.

PRESIDENTE CRITICA OPERAÇÃO LAVA-JATO

A Operação Lava-Jato e o juiz federal Sérgio Moro, que conduz o processo, foram criticados por Dilma. Ela não chega a citar o nome de Moro, mas diz achar estranho a forma como estão sendo feitas as prisões preventivas e prega o respeito ao direito de defesa para não comprometer o Estado democrático de direito. Questionada sobre a prisão dos presidentes das duas maiores empreiteiras do Brasil - Odebrecht e Andrade Gutierrez -, ela criticou os fundamentos da decisão de Moro.

O juiz alegou que eles deveriam ser presos porque poderiam repetir os crimes dos quais são acusados no plano de concessões do governo federal, orçado em R$ 198,4 bilhões. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, já tinha criticado esse ponto da decisão, dizendo que não há nada que impeça a participação dessas empresas. Agora, a crítica partiu da própria Dilma. Ela disse não gostar desse trecho do despacho de Moro. Afinal, lembrou a presidente, o programa não tem sequer licitação ainda.

Questionado sobre o PMDB, principal legenda da base aliada, com a qual tem uma relação difícil, Dilma diz que o partido é ótimo. Ela nega que seja o PMDB que queira tirá-la do poder e diz que as derrotas sofridas no Congresso pelo governo ainda podem ser revertidas.

Dilma, que costuma chamar os interlocutores de querido ou querida quando está irritada, usou essa palavra pelo menos três vezes na entrevista, conforme é possível ver na transcrição feita pelo jornal.

AJUSTE FISCAL SERÁ AMPLIADO

A presidente afirmou que o governo prepara novas medidas para ampliar o ajuste fiscal, embora sem dizer exatamente que ações serão essas. Segundo ela, o projeto da redução da desoneração da folha de pagamento não deve gerar resultados significativos este ano, com uma economia de até R$ 2 bilhões na melhor das hipóteses. Assim, é preciso cobrir esse buraco.

Dilma disse também que nunca imaginou que o país teria uma retração acima de 1% este ano. Questionada sobre quanto seria exatamente a retração, ela disse que "vai fazer o diabo" para que seja a menor possível. Sobre o momento em que a economia vai se recuperar, Dilma afirmou que a previsão mais conservadora possível é em 2016, e a mais otimista é no fim deste ano.

Ela admitiu que o ajuste "gera um pouco de desemprego". Ainda assim, defendeu as medidas que está tomando, dizendo que não cortou salários - medida que chegou a ser adotada, por exemplo, na Grécia. Ela chamou de ruim o aumento dos servidores do Judiciário, aprovado pelo Congresso. Segundo a presidente, o país não suporta um reajuste de 70% (o texto prevê um reajuste médio de 56%), nem que "a gente faça mágica". Assim, argumenta a presidente, é preciso tomar medidas explícitas contra isso.

A presidente negou que seja bom ter um pouco de inflação, mas afirmou que é preciso ter cuidado para que as medidas anti-inflacionárias não levem justamente ao inverso: a deflação. Inspirada em uma frase do economista Mário Henrique Simonsen, ela disse que "a inflação aleija para todo sempre, mas a deflação mata para todo sempre".

PRESIDENTE COMENTOU ‘PEDALADAS FISCAIS’

Na entrevista, Dilma também defendeu as chamadas “pedaladas fiscais” - o adiamento de repasses para bancos públicos para tentar melhorar artificialmente as contas do governo -, afirmando que elas eram adotadas antes dos governos petistas. As pedaladas são investigadas no Tribunal de Contas da União (TCU) e podem levar inclusive à rejeição das contas de Dilma.

Ela diz não temer que o caso seja usado pela oposição para abrir um processo de impeachment. Dilma acha que vão tentar isso, mas que é necessário ter provas. Sobre a resposta que dará ao TCU sobre, a presidente afirma que será "uma resposta circunstanciada, item a item". Segundo ela, o julgamento do TCU não pode ser político, mas baseado em provas objetivas.

Dilma também reconheceu que cometeu erros enquanto presidente e disse não tem "o menor compromisso em não mudar".

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