STF aceita denúncia criminal contra presidente da Câmara por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Líderes no Congresso pedem seu afastamento imediato. É o primeiro parlamentar réu no Petrolão. O histórico de Eduardo Cunha é de ligações nebulosas com casos de corrupção
A maioria absoluta dos ministros do Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia criminal contra o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Com esse procedimento ele se tornou o primeiro parlamentar a ser réu na Operação Lava Jato e passará a responder criminalmente como acusado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O relator da ação, ministro Teori Zavascki, aceitou como fortes os indícios contidos da denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em agosto do ano passado. Segundo o PGR, Cunha seria o beneficiário do pagamento de propina no valor de US$ 5 milhões relativos a dois contratos de navios-sonda da Petrobras.
A base da denúncia do Procurador-Geral foi o longo depoimento prestado pelo doleiro Alberto Youssef que jogou luz primeiro sobre Eduardo Cunha. Youssef foi o principal operador dos desvios de dinheiro, distribuição de propinas e lavagem de dinheiro e com ele abriu-se a “Caixa de Pandora” da Lava Jato. Ele disse que o deputado foi o principal beneficiário das propinas oriundas dos contratos de locação de navios-sonda das empresas Samsung e Mitsui para fazer prospecção de petróleo para a Petrobras. No acordo de delação premiada ele listou os beneficiários das propinas, entre eles Cunha.
Ato contínuo o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, também aceitou o acordo de delação premiada e contou tudo o que sabia, incluindo as propinas pagas a Eduardo Cunha no exterior, como se deram as transferências e as ameaças que o deputado fazia a quem lhe representasse ameaça. Aliada à delação de Baiano e Youssef o Ministério Público da Suíça enviou para a Polícia Federal brasileira os relatórios resultantes da quebra do sigilo bancário de Eduardo Cunha de sua esposa, a jornalista Cláudia Cruz e de sua filha Danielle Cunha. As empresas off-shore registradas nos nomes dos três foram beneficiárias dos depósitos indicados por Fernando Baiano, o que pacificou a certeza de que Cunha realmente devia algo no cartório e garantiu aos ministros a necessidade de abrir a ação penal.
O cerco se apertou ainda mais quando o dossiê fornecido pelas autoridades suíças mostrou assinaturas de Eduardo Cunha na abertura das contas, cópia de seu passaporte e comprovante de endereço indicando que ele e sua família eram os verdadeiros beneficiários das contas.
O presidente da Câmara tentou se desvencilhar da imagem de corrupto e de quem ocultou bens no exterior dizendo que o dinheiro era oriundo da venda de carne enlatada para a África. A desculpa não colou e a denúncia prosseguiu sendo analisada no STF. Não bastasse isto Eduardo Cunha é acusado de mentir na CPI da Petrobras, onde compareceu voluntariamente para prestar depoimento e disse que não tinha contas no exterior. Por conta disso responde a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara.
Histórico
Eduardo Cosentino Cunha é natural do Rio de Janeiro, nascido em 1958. Economista e radialista é evangélico e pregador da igreja Sara Nossa Terra, de orientação neopentecostal. No início do governo Fernando Collor, em 1990, ele pertencia ao Partido da Reconstrução Nacional e foi presidente da Telecomunicações do Rio de Janeiro (Telerj), onde foi alvo da primeira denúncia de malversação de dinheiro público.
Em seguida, já no governo do ex-governador Anthony Garotinho e filiado ao Partido Progressista Brasileiro (PPB) ele presidiu a Companhia Estadual de Habitação, novamente alvo de denúncias de corrupção. Foi sua primeira experiência eleitoral e ele ficou como suplente de deputado estadual. Assumiu o cargo em 2001 e gostou da atividade parlamentar.
Em 2002 foi eleito a primeira vez deputado federal pelo Rio de Janeiro, já pelo PMDB e desde então foi reeleito outras vezes.
Articulador de primeira hora e muito agressivo na composição de seus grupos ele sempre despertou amor e ódio. Pretendia implodir a aliança PMDB e PT, mas acabou apanhado na malha da Lava Jato, que agora poderá lhe fulminar a carreira política.