- Prefeito eleito afirma que se a situação da Prefeitura de Goiânia fosse boa, não teria se candidatado, já que, em sua trajetória política, sempre submeteu-se a “obstáculos”
O prefeito eleito de Goiânia, Iris Rezende, afirmou esperar que a transição da administração atual, de Paulo Garcia (PT), à futura seja realizada com “respeito, sem conflitos”. E explica: “O relacionamento institucional é uma obrigação e não favor”. “Enquanto ele tiver a prefeitura nas mãos, eu o respeito como prefeito. Eu, como eleito, naturalmente já estou a merecer também o respeito”.
Após comparecer, por dois dias, ao seu escritório, quando recebeu lideranças políticas, vereadores eleitos, gente do povo e profissionais da imprensa, Iris Rezende vai descansar, por cinco dias, em sua fazenda, no município de Canarana (MT). Na segunda-feira deverá escolher os três integrantes para a comissão de transição, encarregada de fazer o levantamento completo do quadro administrativo da Prefeitura de Goiânia, ao lado dos indicados pelo prefeito Paulo Garcia(PT).
Em seu escritório, ontem de manhã, Iris Rezende atendeu a imprensa, quando tratou de diversos assuntos, entre eles o trabalho que vai realizar para construir maioria no Legislativo goianiense, já que sua base conta, atualmente, com apenas 10 dos 35 vereadores. “Se o Executivo toma medidas justas, com aprovação do povo, vereador não vota contra; quando o Executivo falha ou não toma atitudes necessárias, os vereadores começam a perder a confiança e tumultuam o relacionamento entre Câmara e prefeitura”. O peemedebista revela que manteve contatos com sete dos vereadores eleitos por outros partidos e coligações.
O prefeito eleito afirmou que o governador Marconi Perillo (PSDB) foi muito elegante com ele, ao telefonar para cumprimentar pela vitória, e, ao mesmo tempo, reafirmar a intenção de estabelecer parcerias em benefício do município de Goiânia. “Nunca tivemos atrito de ordem pessoal com Marconi. Eu era prefeito, ele governador, eu o respeitava e ele me respeitava quando era necessária a discussão dos problemas de Goiânia”.
Um dos assuntos que Iris Rezende pretende levar ao Palácio das Esmeraldas, logo após ser empossado, é a concessão dos serviços de água e esgoto de Goiânia, renovado à Saneago. “Eu vou convencê-lo de que essa questão do saneamento de Goiânia deve ser devolvida à prefeitura”.
Questionado sobre qual o rumo que o PMDB deve tomar em relação à sucessão estadual de 2018, o prefeito eleito de Goiânia se negou a tratar do assunto: “Estaria desrespeitando vocês da imprensa e a população de Goiânia, em um momento que estamos saindo de um pleito, se eu for tratar das eleições de 2018. Tenho que me preocupar é com os problemas de Goiânia”.
A íntegra da entrevista
Para ter êxito administrativo, o senhor precisa aprovar projetos na Câmara Municipal. O que o senhor vai fazer para construir maioria no Legislativo, já que sua coligação elegeu menos vereadores?
- Comecei minha carreira política como vereador em Goiânia. Se há um poder com o qual eu sei conviver é a Câmara Municipal. Entendi, logo cedo, que quando a pessoa se candidata, na quase totalidade, é movida pelo ideal. O Legislativo age segundo o comportamento do Executivo. Se o Executivo toma medidas justas, com aprovação do povo, vereador não vota contra; quando o Executivo falha ou não toma atitudes necessárias, os vereadores começam a perder a confiança e tumultuam o relacionamento entre Câmara e prefeitura. Na eleição de 2004, me candidatei na última hora a prefeito, sem tempo sequer para compor a chapa do PMDB para vereador. Disputei a eleição para prefeito com sete candidatos a vereador e fizemos dois. E nem por isso a Câmara de Goiânia falhou comigo. Todo projeto que enviava à Câmara, eu comparecia, explicava... Nunca foi rejeitado um projeto meu. Logo que começar a nova legislatura e, consequentemente, o meu mandato na prefeitura, a população vai notar que, se não a unanimidade, grande parte da Câmara estará apoiando as matérias que eu encaminhar para lá. Eu não envio ao Legislativo matérias que venham trazer benefícios escusos a esse ou aquele. Eu envio, muitas vezes, projetos difíceis, complexos, mas que têm fundamentos e, consequentemente, interesses públicos. Eu já tive a aprovação espontânea, sem a mínima exigência, de aproximadamente sete vereadores eleitos de outros partidos. Manifestaram interesse em participar dessa nova administração.
O PMDB levantou, durante a campanha, suspeitas sobre a legalidade na concessão à Saneago dos serviços de água e esgoto em Goiânia. Empossado, o senhor pretende rever o contrato entre a prefeitura e a estatal goiana?
- Eu mesmo levantei dúvidas a respeito. Quando eu disse que tenho ciúme de Goiânia não é conversa fiada não. Eu acompanho a vida dessa cidade em todas as áreas da atividade humana. Quando hoje comércio sofre, funcionários são dispensados, eu sofro com isso. A Saneago, hoje, por lei, já pertence à prefeitura, desde 2010. Acontece que ninguém tomou a providência de exigir o retorno desses serviços à prefeitura. Quando a prefeitura permitiu a concessão ao Estado, por trinta anos, constou que, concluído o prazo, todo o patrimônio da Saneago reverteria à Prefeitura de Goiânia. Quando eu soube que estaria sendo estudada a terceirização do sistema de água de Goiânia e que se encaminhava à Câmara uma autorização de mais trinta anos de concessão dos serviços, nesta hora eu chamei a atenção dos vereadores: “estudem, não façam isso, pois é um golpe que estão impondo à cidade de Goiânia e não podemos aceitar”. Eu não quis me intrometer, não fui atrás de ninguém para apurar negociações que estariam sendo feitas entre governo e empresa, até em respeito, já que eu não era autoridade nenhuma, não era deputado nem prefeito. Mas, empossado prefeito, vou tomar conhecimento dessa situação. Não vou aceitar nada que possa prejudicar Goiânia. E não vou mesmo. Se for necessário, eu levanto esse povo de Goiânia, vamos entupir essas praças aí, mas não vamos aceitar golpe nos interesses dessa cidade.
O governador Marconi Perillo declarou que o senhor vai encontrar, em relação à Saneago, um processo lícito e que não quer ter problemas com o senhor...
- O governador foi muito elegante comigo. Recebi um telefonema dele. Nunca tivemos atrito de ordem pessoal. Eu era prefeito, ele governador, eu o respeitava e ele me respeitava quando era necessária a discussão dos problemas de Goiânia. Eu vou convencê-lo de que essa questão do saneamento de Goiânia deve ser devolvida à prefeitura.
O governador vai se reunir com os prefeitos eleitos e reeleitos para estabelecer parcerias administrativas. Como ocorrerá a relação do senhor com o governo estadual?
- A nossa relação será a melhor possível. Vamos tratar de assuntos administrativos relacionados ao Estado e à prefeitura, consequentemente, interesses públicos. Eu não fujo disso e nunca fugi. O relacionamento institucional não é favor, mas um dever de toda autoridade.
O senhor já começou a compor o secretariado?
- A última coisa que vou fazer é compor o secretariado, pois temos dois meses para fazer isso. Eu estudo muito, avalio demais para formar a minha equipe de auxiliares. Foi um dos motivos do meu sucesso administrativo. Eu não negocio. Procuro prestigiar todas as forças políticas que atuam na campanha, mas escolhendo valores.
Como o senhor pretende administrar Goiânia com um orçamento menor em R$ 60 milhões em 2017?
- Empossado, temos que fazer uma avaliação criteriosa. Ver o que a prefeitura vai arrecadar e cortar gastos, sem trazer prejuízos à sociedade. É preciso colocar as finanças em ordem para regatarmos todos os compromissos firmados com a sociedade goianiense durante a campanha eleitoral. Aí é que está o mérito do administrador: saber economizar, cortar gastos e aplicar os recursos convenientemente. Tudo, na minha administração, custa metade. Por quê? Porque eu só compro à vista, compro quando tenho o dinheiro para pagar.
O senhor tem a expectativa de assumir, em 1º de janeiro, a prefeitura endividada ou saneada administrativamente?
- Tomei conhecimento de que a empresa que aluga carros para a prefeitura suspendeu a prestação de serviços por tem mais de 50 milhões de reais para receber. Tive a informação de que o Instituto Previdênciário do Município está com crédito de milhões e milhões porque a prefeitura, ao pagar a folha, desconta do salário do servidor a alíquota e não deposita no Imas o correspondente. Então, são situações sérias, graves, incalculáveis. Agora, quero confessar: me candidatei por causa da situação difícil que vive o município de Goiânia, porque se tivesse tudo regular, saúde, educação, segurança, limpeza pública, não justificava a minha candidatura. Me candidatei para enfrentar mais esse desafio de minha vida. Agora, vou repetir: vou ficar até o meu último dia de mandato, se Deus quiser, para realizar a mais bela administração da minha vida.
O senhor está preparado para enfrentar os desafios?
- Sim. Sempre, na minha vida pública, enfrentei desafios. Em 1965, assumi a prefeitura, recebi a folha de pessoal, fornecedores e prestadores de serviços com dez meses de atraso. Em 1983, os servidores dos três poderes estavam com seis meses sem receber os seus salários. Em 2005, a situação era de dificuldades. Nas três situações, em pouco tempo, a casa estava arrumada, as contas em dia e as máquinas roncando, com as obras sendo espalhadas por todos os cantos. Deus me deu o dom de administrar com eficiência e zelo.
A relação conflituosa com o prefeito Paulo Garcia (PT) poderá prejudicar o processo de transição nesses dois meses?
- O relacionamento institucional é uma obrigação e não favor. O respeito deve prevalecer, sem conflitos. Enquanto ele tiver a prefeitura nas mãos, eu o respeito como prefeito. Eu, como eleito, naturalmente já estou a merecer também o respeito. Autoridade não pode trazer descontentamento de ordem pessoal para o público, de forma que seja esse público prejudicado.
O senhor pretende realizar uma reforma administrativa na prefeitura?
- Eu procurei não botar bedelho em nada, mas, em pouco tempo, vou tomar conhecimento da real situação da prefeitura e tomar as medidas que forem necessárias.
As eleições de 2016 pertencem ao passado. A base do governador Marconi Perillo cogita lançar José Eliton e a oposição discute os nomes de Ronaldo Caiado e Daniel Vilela à sucessão estadual de 2018. Como o PMDB vai para a disputa de governador?
- Estaria desrespeitando vocês da imprensa e a população de Goiânia, em um momento que estamos saindo de um pleito, se eu for tratar das eleições de 2018. Tenho que me preocupar é com os problemas de Goiânia. Não vou discutir eleições de daqui a dois anos.
Mas o senhor reafirma a decisão de que não vai deixar o mandato de prefeito para concorrer ao governo de Goiás...
- Eu me reservo no direito de dizer que nunca ocorreu eu assumir um compromisso e não cumpri-lo. No momento em que eu falei, nesta campanha, que, eleito, cumpriria o mandato até o final, não poderia agora nem aceitar um questionamento desse.
“Se o Executivo toma medidas justas, com aprovação do povo, vereador não vota contra; quando o Executivo falha ou não toma atitudes necessárias, os vereadores começam a perder a confiança” “O relacionamento institucional é uma obrigação e não favor. O respeito deve prevalecer, sem conflitos. Enquanto Paulo Garcia tiver a prefeitura nas mãos, eu o respeito como prefeito. Eu, como eleito, naturalmente já estou a merecer também o respeito” “O governador Marconi Perillo foi muito elegante comigo. Recebi um telefonema dele. Nunca tivemos atrito de ordem pessoal. Eu era prefeito, ele governador, eu o respeitava e ele me respeitava” “A última coisa que vou fazer é compor o secretariado, pois temos dois meses para fazer isso. Eu estudo muito, avalio demais para formar a minha equipe de auxiliares”