Ex-ministro do Trabalho no governo do ex-presidente Lula, Luiz Marinho marcou sua passagem no governo com a política de valorização do salário mínimo. Deixou o ministério para ser eleito, por dois mandatos, prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde notabilizou-se pelo lobby que garantiu ao município a instalação da fábrica da empresa aeroespacial sueca Saab, que irá produzir no Brasil os jatos militares Grippen. Cotado para substituir Rui Falcão como presidente nacional do PT, Marinho defende um grande pacto de unidade nacional e diz que o PT está disposto a conversar com todas as forças políticas. Ele denuncia tentativa de golpe contra o presidente Michel Temer (PMDB-SP) e diz que o Brasil precisa resolver a crise dentro da institucionalidade.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Marinho criticou as articulações de setores do PSDB para cassar a chapa DilmaTemer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele afirma que cassar o mandato do presidente Michel Temer (PMDB-SP) será incorrer noutro erro tão grande ou maior quanto foi o impeachment sem provas da presidente Dilma Roussef (PT-MG). Seu entendimento é que a cassação seria um golpe dentro do golpe. “O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] cassar a chapa Dilma-Temer é um erro. Novo impeachment, outro erro. Sangrará a economia, como já sangrou no impeachment da Dilma. O impeachment da Dilma já foi um erro. O impeachment do Temer seria o erro dois”.
Luiz Marinho avalia que o país precisa se reconciliar através de um novo pacto político que inclua a antecipação das eleições presidenciais para 2017. Ele acredita que só um presidente legitimado pelo voto popular pode apaziguar os humores da política e sinalizar para os investidores nacionais e do exterior que o Brasil recuperou a normalidade democrática e a confiança em suas instituições.
Para executar este plano, o ex-ministro propõe que o Congresso Nacional vote uma emenda constitucional antecipando as eleições. “Pode ser para agosto de 2017, setembro. Faz um mandato excepcional, de cinco anos. A partir de 2022, 2020, voltaria a normalidade dos mandatos”, sugere.
Marinho reconhece que esta não será uma tarefa fácil, pois o Parlamento teria que encurtar os próprios mandatos, e também o mesmo ocorreria em relação aos governadores e deputados estaduais. Mas, na sua opinião, este debate é possível, pois faz parte da necessidade de uma nova pactuação política entre partidos políticos e lideranças políticas, empresariais e da sociedade civil. “Seria uma mesquinharia falar no próprio mandato. Estamos falando do Brasil, de desemprego, da ausência de emprego para jovens, de não enxergarmos saída. Suportar a situação até as eleições de 2018 é sangrar demais a economia”, adverte.
Questionado se esta levaria a uma eventual candidatura de Lula, o ex-ministro ressalta que não há outra alternativa ao ex-presidente “nas circunstância de ataque, de agressão, de busca de destruição do legado do Lula, ele não tem saída a não ser sair candidato. Lula tem consciência disso”.
Enfático, Luiz Marinho diz que, em nome de um pacto de união nacional, o Partido dos Trabalhadores não vai se furtar ao diálogo com nenhuma força política, nem mesmo com o presidente Michel Temer. “O PT não vai se recusar a discutir uma saída para o país. O governo Temer está mostrando que não tem capacidade. Temos que lançar mão dos elementos constitucionais para a saída da crise. Então, quem está trabalhando a partir da prestação de contas, forçando a barra da prestação de contas da campanha Dilma-Temer para afastar o Temer, condenar a chapa Dilma-Temer para viabilizar uma eleição indireta, esse é outro grande golpe. Golpe dois”, denuncia.
Para Luiz Marinho, há no Congresso líderes capazes de conduzir esse processo, pois os políticos precisam recuperar sua imagem. “Quando se está mais lascado, tem que ser mais ousado. Evidente que Temer tem responsabilidade, e as lideranças partidárias também. Se o Congresso estiver imbuído da busca de uma solução, a tendência é que as lideranças possam apoiar”, vaticina.
Segundo Luiz Marinho, por mais traumático que tenha sido para o PT o impeachment da presidente Dilma Roussef, o partido não deve se lançar num processo de revanchismo: “porque a Dilma foi cassada, querer cassar Temer. Precisamos de uma saída. Aguentar o governo Temer até 2018 é muito sacrifício para o povo”, alerta.