O que parecia impossível aconteceu. O histórico líder emedebista Derval de Paiva aliou-se ao seu histórico adversário, Siqueira Campos, ex-governador do Estado do Tocantins.
Em geral, todos os que um dia combateram Siqueira Campos acabaram, de um modo ou de outro, unindo-se a ele. O atual governador do Tocantins, Marcelo Miranda, uma vez abandonou o antigo PMDB par se candidatar ao governo do Estado do Tocantins com o apoio enjangado de Siqueira Campos. Depois rompeu com Siqueira. Foi muito perseguido pelo siqueirismo. Agora volta às boas com seu antigo verdugo. Marcelo anunciou esta semana, em Palmas, que será candidato à reeleição. O velho Siqueira, já passado dos 90 anos, será um dos candidatos ao Senado na chapa encabeçada por Marcelo. Siqueira está filiado – de novo! – ao DEM.
LUCRO
Ninguém sabe o que o MDB tem a ganhar com esta aliança espúria. Mas para o siqueirismo, o lucro político é incalculável. A corrente siqueirista estava virtualmente morta. O herdeiro político de Siqueira, o deputado estadual Eduardo Siqueira Campos, nunca foi levado muito a sério. Já o velho Siqueira, sim.
Siqueira Campos tem história, tem uma vasta folha de serviços prestados ao Tocantins. Seus seguidores afirmam que ele foi o “fundador” do Estado, do qual foi governador por quatro oportunidades.
Mas ele nunca foi exemplo de líder democrático. Siqueira é autoritário e não dá refresco aos inimigos. É astucioso e, ao mesmo tempo, brutal. Em virtude da idade avançada, e em razão das últimas derrotas que sofreu, para o próprio Marcelo, os meios políticos tocantinenses já o davam por acabado, do ponto de vista político. Agora, Derval de Paiva vai ressuscitá-lo.
A opção por Siqueira resulta da falência da aliança que levou Marcelo ao poder em 2014, uma aliança que incluía até o PT tocantinense, e elegeu Katia Abreu, então filiada ao DEM, ao Senado da República.
Kátia e Marcelo estão rompidos. Kátia seria escolhida ministra da Agricultura por Dilma Rousseff, tendo realizado um trabalho elogiado por todos, à direita e à esquerda. Quando o PMDB – agora MDB – resolveu aliar-se aos inimigos de Dilma e dar o golpe que a destituiu, Kátia ficou ao lado da ex-presidente Dilma.
De volta ao Senado, Kátia entrou em linha de oposição ao presidente Temer. O PMDB do Tocantins, então, resolveu expulsá-la. Desde então, Kátia vem fazendo oposição cerrada ao governador Marcelo Miranda.
Especula-se em Palmas que Kátia poderá ser candidata a governadora. Ela, neste caso, estaria no Palanque de Lula, ou de quem suas vezes fizer. É de se lembrar que, nas eleições passadas, Marcelo Miranda esteve nos palanques de Dilma e de Lula, presidentes que prestigiaram o governo dele, ajudando-o com generosos recursos federais. Mas os tempos são outros. Gratidão é palavra que não consta no dicionário dos políticos tocantinenses. E o MDB, de resto, aprendeu com o velho PFL a não segurar em alça de caixão.
Enquanto a senadora, que ainda nem se filiou a partido político, aguarda os acontecimentos para manifestar-se sobre ser ou não candidata ao governo do Estado, o prefeito reeleito de Palmas, Carlos Amastha, já se declarou candidato e se posicionou em franca oposição a Marcelo Miranda. Amastha diz que não quer diálogo com Marcelo nem com Siqueira, por ele chamados de “representantes da velha política”.
Outro nome de peso que deverá entrar na corrida é o prefeito de Araguaína, a segunda maior cidade do Tocantins. Ronaldo Dimas foi reeleito com expressiva votação. É líder empresarial, que já foi deputado federal e, embora não esteja em oposição radical a Marcelo, também não se mostra inclinado a aliar-se com ele. E o próprio Marcelo, de resto, já declarou que não tem interesse em conversar com Dimas.
Com sua opção preferencial por Siqueira, Marcelo acabou criando condições objetivas para a formação de uma poderosa frente antiemedebista. Uma frente que, por enquanto, é mera possibilidade teórica. Kátia, Amastha, Dimas e os petistas terão, primeiro, que chegar a um entendimento sobre formação de chapa.