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POLÍTICA

‘Crise é ofensiva mundial do capital’

  •  Doutor em Economia [SP] ataca conciliação de classes promovida de 2003 a 2016
  •  Pesquisador aponta restrição de liberdades e revela que a prisão de Lula é ilegal
  •  Jornalista ataca Roberto Freire e diz que PPS é neoliberal, aliado de DEM e do PSDB

Nascido em Pedreiras, em 8 de abril de 1950, ano do ‘Marcanazo’, com o curso de Jornalismo concluído, em São Luís, Capital do ‘caliente’ Maranhão, ele decidiu transferir-se para São Paulo. Sem saber que o DOI-CO­DI, com um cachorro infiltrado, desmontava, com torturas, exe­cuções extrajudiciais e ocultações de cadáveres, o Comitê Central do PCB. A sua organização clandesti­na à época da ditadura civil e militar [1964-1985]. Davi Capistrano, um deles, teria tido o corpo esquarte­jado e incinerado. Vladimir Herzog, jornalista da TV Cultura, acabou morto em 25 de outubro de 1975. Sob tortura. A versão oficial da ca­serna: suicídio. Para os prantos de Clarice Herzog e Paulo Markun. Já em janeiro de 1976 cai Manoel Fiel Filho, operário. O ‘periodista’ comu­nista começou a trabalhar no Diá­rio do Grande ABC, Santo André. É a história do atual secretário-geral nacional, o cargo máximo, do PCB, Edmilson Costa. A legenda da foice e do martelo foi fundada em 25 de março de 1922. Por nove operários. Em Niterói, Rio de Janeiro. Na co­mitiva de criação encontravam-se Astrojildo Pereira e João da Costa Pimenta, que tempos depois viraria trotskista. Um dissidente à esquer­da do stalinismo.

- De 1975 a 1979 exerci o cargo no jornal de Editor de Internacio­nal. Com a greve daquele ano, era de João Baptista Figueiredo, acabei demitido. Motivo: liderar piquete na porta do veículo de comunicação.

Com longas madeixas escorren­do pelos ombros, o marxista-leni­nista redigia publicações econômi­cas para o Banco Itaú, ao mesmo tempo em que cerrara fileiras com Giocondo Dias. O sucessor de Luiz Carlos Prestes, no PCB. O Cavaleiro da Esperança formulara novas táti­cas e estratégias e se encostou em Leonel de Moura Brizola, o ex-car­bonário de 1961. Da Cadeia da Lega­lidade, que se elegeu governador do Estado do Rio de Janeiro. Os comu­nistas, com o retorno dos homens de farda e coturno para os quartéis, lançaram o hoje neoliberal Rober­to Freire à Presidência da Repúbli­ca. Com votação anêmica, o PCB subiu no palanque do ex-operário metalúrgico, que defendera o Soli­darnosc, da Polônia, de Lech Wale­sa, contra a burocracia stalinista de Varsóvia, Luiz Inácio Lula da Silva, ícone do Partido dos Trabalhado­res. A sigla da estrela vermelha ha­via sido fundada em 10 de fevereiro de 1980. No Colégio Sion. São Paulo, Capital. Com Mário Pedrosa, Apo­lônio de Carvalho, Sérgio Buarque de Hollanda. O Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989. A Re­volução de Veludo, na Tchecoslo­váquia, liderada por Vaclav Havel, desmonta o socialismo real. Nico­lau Ceausescu é fuzilado, em 25 de novembro do mesmo ano. Ao lado de Elena Ceausescu. A URSS des­morona:25 de dezembro de 1991.

- Roberto Freire dissolve o PCB e funda o PPS. Ano: 1992. O PPS é, hoje, aliado incondicional do DEM e do PSDB, siglas neoliberais. De direita. O PCB é refundado. Em São Paulo. Os comunistas ganham maior ca­pilaridade social a partir de 2006.

O ativista político & revolucio­nário migrou para a Academia. Ele concluiu o doutorado em Econo­mia. Na Universidade Estadual de Campinas [Unicamp]. Um centro de referência em Ciências Econô­micas. Com Maria da Conceição Tavares, Luciano Coutinho, João Manuel, Luiz Gonzaga Beluzzo nos quadros dos professores da institui­ção de ensino superior. Ele fez ain­da estágios pós-doutorais. Área de concentração: o Processo de Globa­lização Excludente. O pesquisador, com linhagem materialista e dialé­tica, adepto das ideias do velho bar­budo Karl Marx [1818-1883], autor do seminal O Capital, analisa que o capitalismo, com a globalização, deu um salto de qualidade, promo­veu a internacionalização da pro­dução. Os países centrais transfe­rem unidades industriais para a periferia, abundante em mão-de­-obra barata e em recursos naturais, commodities, a preços de banana, explica, de forma pausada. O modo de produção hegemônico no mun­do, hoje, é permeado por crises cícli­cas, observa. Como a de 2008, que afeta até hoje a Europa, como Itá­lia, Espanha, Irlanda, França, Gré­cia, assim como a América do Nor­te, com os Estados Unidos, e a América Latina, como o Brasil, a Argentina, o Chile, explica o pro­fessor de Economia aposentado. Um crí­tico radical da aven­tura capitalista.

CRISE NO BRASIL

Edmilson Costa afirma que um gol­pe parlamentar, frio, líquido, deflagrado pelo Palácio do Jabu­ru, com o apoio do Congresso Nacional, os suportes dos aparatos poli­cial e jurídico do Estado e dos gran­des conglomera­dos de comunica­ção, monopólios de mídias, depôs, sem crime de responsabili­dade, a presidente da Repúbli­ca, reeleita em outubro de 2014, com 54,5 milhões de votos válidos, Dilma Rousseff. Como em Hon­duras, 2009, Paraguai, 2012, apon­ta. O jornalista & economista ava­lia que existem, hoje, restrições às liberdades no Brasil, individuais e coletivas. Uma quadrilha che­gou ao poder, vocifera. Michel Te­mer, acusado pela Polícia Federal e Ministério Público Federal, Geddel Vieira Lima, flagrado com R$ 51 mi­lhões, Eduardo Cunha, na cadeia, em execução de sua pena, atira o ‘enfat terrible vermelho’. A burgue­sia quer implementar uma agenda ultraliberal, denuncia. Um ajuste rá­pido e profundo, sublinha. Trata-se de um fenômeno mundial, dispara. Ocorre na Grécia, Espanha, Fran­ça, Argentina, destaca. Uma ofensi­va mundial do capital pós-crise sis­têmica global de 2008, fuzila. Uma crise aguda que já possui uma du­ração de dez anos, analisa. A saída passa também, aos olhos do capital mundial, pelas guerras, como Afe­ganistão, Iraque, Líbia, Síria, metra­lha o intelectual gauche.

- O desenvolvimento científico e tecnológico muda, hoje, o perfil do proletariado.

Apesar disso, os conceitos-cha­ve de Karl Marx continuam válidos, insiste. Edmilson Costa faz alusão à crítica da economia política do capitalismo, às ideias de crises cí­clicas, à Mais-Valia, origem do lu­cro do capital, além da noção de luta de classes e de Estado. Cáus­tico, o secretário-geral do PCB for­mula críticas ácidas à coalizão he­gemonizada por PT, PC do B e PDT, que ocupou por quase 14 anos, de 2003 a 2016, o Palácio do Planalto, sob Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. A crise atual, no Brasil, é a síntese da conciliação de classes promovida, recla­ma. O PT e seus aliados poderiam ter executa­do programas como o da Reforma Agrá­ria, a Reforma Urbana, a regulação social da mídia, como a de Cris­tina Kirchner, que impe­de a propriedade cruzada dos meios de comunica­ção, permite a livre con­corrência e o pluralismo de opinião e de co­berturas jornalís­ticas, desabafa. O que ocorreu te­ria sido a coopta­ção dos movimen­tos sociais, urbanos e rurais, medida que produziu a apatia so­cial e o esvaziamento das ruas, lamenta. Mes­mo assim, os comunistas clas­sificam a prisão do ex-presiden­te da República por dois mandatos consecutivos [2003-2006 e 2007- 2010] Luiz Inácio Lula da Silva como ‘ilegal’. Seletividade da justiça, de­nuncia. Não existem provas robus­tas contra ele, frisa.

- Direito investiga supostos cri­mes, apura fatos e não julga por meras convicções.

 

 Desenvolvimento científico e tecnológico muda, hoje, o perfil do proletariado Edmilson Costa Direito investiga supostos crimes, apura fatos e não julga por meras convicções Edmilson Costa A crise atual, no Brasil, é a síntese da conciliação de classes promovida por Lula & Dilma Edmilson Costa

Cronologia

1917 Revolução Russa

1922 Fundação do PCB

1935 Putsch fracassado

1937 É o Estado Novo

1947 PCB é cassado

1954 Getúlio Vargas suicida-se

1964 Golpe de Estado

1979 Anistia no Brasil

1985 PCB é legalizado

1992 Nascem PPS e PCB

2016 Golpe parlamentar

2018 PCB com o Psol

Fonte: Arquivos de Renato Dias

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