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POLÍTICA

O último adeus a Joaquim Roriz

Após mais de 17 horas de ve­lório, o corpo do ex-gover­nador Joaquim Roriz, 82 anos, foi levado, por volta das 10h50 de ontem, do Memorial JK por cade­tes dos Bombeiros. Eles posiciona­ram o caixão em cima de um carro da corporação, que seguiu em carro aberto pelo centro da capital rumo ao Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul. Segundo a Polícia Militar, 5 mil pessoas foram na despedida.

O corpo de Roriz foi enterrado na ala dos pioneiros. E foi recebido com aplausos de populares que estavam munidos de balões azuis, bandeiras, objetos que lembram o ex-governa­dor. A comoção tomou conta do ce­mitério. Muitas pessoas choravam como se tivessem perdido alguém da família. “Era como um pai”, dis­se uma senhora, muito emocionada.

Houve uma pequena confusão, por volta das 11h45. Os admirado­res do político romperam as faixas de isolamento para autoridades e familiares. Liliane, uma das filhas do ex-governador, disse que “Roriz sempre ficou perto do povo e que era assim que ele gostaria de perma­necer”. O caixão foi fechado.

Para não perder nenhum detalhe, teve gente que subiu até em cima de árvore. Os populares soltaram uma fumaça azul, a cor característica das campanhas de Roriz. Pétalas de rosas foram jogadas de helicópteros da Po­lícia Civil, dos Bombeiros e do Depar­tamento de Trânsito (Detran).

Dona Weslian Roriz chorou bas­tante e precisou ser consolada du­rante o sepultamento. Joaquim Ro­riz Neto, que é candidato a federal, recebeu o carinho dos populares. Eles pediram para que dê continui­dade ao legado do avô.

Quatro pessoas foram atendidos pelos bombeiros. Entre elas, Maria do Socorro, 71 anos, moradora de Sa­mambaia. Ela estava perto do túmu­lo e se desequilibrou em um arranjo de flores. Sofreu uma queda, mas não quebrou nenhuma parte do corpo. Se queixou de dores na cabeça e nas costas. Foi transportada ao Instituto Hospital de Base consciente e estável.

Muitos populares chegaram cedo ao cemitério para prestar a última homenagem ao político que mais vezes comandou o Palácio do Buri­ti. Ana Cristina Cunha, 45 anos, mo­radora de Luziânia (GO), no Entor­no do Distrito Federal, por exemplo, saiu de casa às 4h para se despedir do político. “Nasci com o Roriz na mi­nha vida. Toda a minha família sem­pre admirou a história dele. Ele nos ajudou muito, principalmente dan­do lotes. Trabalhei muito como vo­luntária nos projetos dele. Distribuía leite, pão, cobertor”, destacou.

Mais cedo, no velório, além de familiares, como a filha Jaqueline, teve gente que não arredou o pé do Memorial JK desde o começo da despedida. É o caso de Eliane Pereira da Silva, 55 anos. Moradora do Riacho Fundo I desde 1953, ela chegou ao monumento às 14h30 de quinta-feira e disse que só iria embora quando enterrarem o cor­po. “Ele era padrinho do meu filho. Foi tudo na minha vida. Morava na rua com um bebê nos braços. Me deu um lugar para morar, um tra­balho e dignidade. Foi ele quem pediu para batizar meu filho. Tão carinhoso”, disse Eliane.

MISSA

Por volta das 8h, o memorial esta­va sendo preparado para uma mis­sa que foi celebrada pelo arcebispo emérito de Brasília, Dom José Frei­re Falcão, às 9h. Só puderam ficar no espaço a imprensa e 60 pessoas. Depois, o corpo seguiu em carro aberto dos Bombeiros. Dona Wes­lian estava presente na missa. Mui­to emocionada, chorou bastante durante a celebração.

Moradora de Samambaia há 30 anos, uma das cidades criadas por Roriz, Maria Rocha da Silva, 62, tam­bém foi ao Memorial se despedir do ex-governador,“Meupaitrabalhou na roça com o pai do Roriz, lá no Goiás. Sempre acompanhei a carreira dele deperto. Atéhojemelembrodecomo era ser abraçada por ele”, contou.

Josimar Galdin da Silva, 63, também reside na mesma cidade há três décadas. “Ele que me deu um lugar para morar e essa é uma lembrança que a gente não esque­ce jamais. Trabalhei a noite toda e vim direto. Mas só vou embora de­pois do enterro. Por ele, a gente faz qualquer coisa”, decretou.

Jaqueline, uma das três filhas de Roriz, passou a noite no velório. Mui­to emocionada, disse ter recebido muito amor e conforto da população. “A noite toda essas pessoas ofertando esse carinho para mim. Foi acalenta­dor. Até deu para diminuir um pou­quinho a dor”, ressaltou.

Muitas coroas de flores chegaram ao memorial desde o começo do ve­lório, às 15h30 de quinta-feira. En­tre elas, as de muitos políticos como José Sarney, Fernando Collor e Mar­coni Perillo, ex-governador de Goiás e candidato ao Senado pelo estado.

Sebastiana dos Santos Ferreira, a Tiana, foi babá de Joaquim Roriz Neto e também esteve no memorial. Ela conta que trabalhou a vida inteira com o ex-governador e que, quando ainda era funcionária dele, recebeu uma casa construída do próprio Ro­riz. “O governador foi meu pai. O Ro­riz me deu a chave. A casa pronta em Samambaia. Nunca se comportou como uma autoridade. Ele era uma pessoa maravilhosa. Quando perdi meus sobrinhos, ele era governador e foi na minha casa com toda a família. Ele era o pai dos pobres”, disse Tiana.

Após o culto, o cortejo fúnebre saiu do Memorial JK e seguiu pela Via S1. De lá, passou pelo Palácio do Planalto e, depois, pela L4 Sul. Na altura da Embaixada do Iraque, o comboio acessou o Setor Policial Militar até o cemitério.

Segundo a PM, mais de 3 mil pessoas passaram pelo monumen­to para se despedir do ex-governa­dor desde as 15h30 dessa quinta (27). E o público pôde tocar, beijar e cho­rar sobre o caixão de Roriz. Por deter­minação de dona Weslian, esposa do patriarca do clã, as cordas que sepa­ravam o corpo dos simpatizantes fo­ram retiradas. Assim, vários cidadãos puderam estar mais perto de Roriz.

A matriarca revelou a pessoas do círculo familiar que “Roriz sempre foi um homem do povo e que não poderia ter atitude diferente nes­te momento”. Weslian, aliás, preci­sou ser amparada pelo menos duas vezes no fim da tarde dessa quin­ta (27). Ao lado das filhas e dos ne­tos, chorou o tempo todo. Cansa­da, ela deixou o Memorial JK por volta das 20h45, acompanhada de Marilda, a enfermeira que cuidou de Joaquim Roriz nos últimos anos.

Quatro bandeiras foram coloca­das sobre o caixão, cada uma delas ligada à história de Joaquim Roriz. Entre elas: a do Brasil; a do estado de Goiás, onde Roriz nasceu e ini­ciou a carreira na política; a do Dis­trito Federal; e, por fim, do Divino Espírito Santo. Esta última tem re­lação com a devoção católica da fa­mília e a tradicional festa do Divino Espírito Santo, na qual o ex-gover­nador costumava marcar presença.

Ao longo do dia, sete dos 11 can­didatos ao Governo do Distrito Fe­deral (GDF) compareceram ao Memorial JK. Apenas Renan Rosa (PCO), Guillen (PSTU), Júlio Mira­gaya (PT) e Fátima Sousa (PSol) não apareceram na cerimônia.

Ex-funcionários de Roriz dos mais variados escalões também presta­ram a última deferência ao ex-chefe. Lá, estavam ex-motoristas, ex-secre­tários de Estado e outras pessoas que um dia trabalharam para a família.

O calor e a comoção fizeram duas mulheres desmaiar. Entre os presen­tes, muitos carregavam objetos em homenagem ao líder político. Du­rante o velório, muitos simpatizan­tes empunhavam orgulhosamente quadros, bandeiras e santinhos com o rosto de Roriz. Um deles, inclusi­ve, improvisou, em folhas de cader­no, um abaixo-assinado a fim de re­colher assinaturas e pedir ao GDF a construção de um memorial de Ro­riz em Samambaia, a primeira das 11 cidades fundadas pelo ex-governa­dor do Distrito Federal.

AS ÚLTIMAS SEMANAS

Joaquim Roriz estava internado no Hospital Brasília, no Lago Sul, desde 24 de agosto, quando deu en­trada com febre alta. Os médicos confirmaram a morte na manhã de quinta-feira (27), por choque sépti­co decorrente das complicações da infecção pulmonar, que resultou em falência múltipla dos órgãos.

Nas últimas semanas, o patriar­ca do clã Roriz estava na unidade de terapia intensiva (UTI) e chegou a apresentar melhora, quando foi transferido para um quarto no úl­timo dia 10. Contudo, voltou a ser internado na UTI dois dias depois, onde permaneceu até o momen­to de sua morte. Algumas horas antes do óbito, Roriz sofreu uma parada cardíaca e foi submetido a traqueostomia. A cirurgia abriu um pequeno orifício na traqueia, onde uma cânula foi instalada para a passagem de ar. Depois, sofreu mais duas paradas cardiorrespi­ratórias e não resistiu.

REPERCUSSÃO DA MORTE DO EX-GOVERNADOR

Presidente da República, Michel Temer (MDB)

Nas redes sociais: “Lamento a morte do ex-governador Joa­quim Roriz, que dirigiu o gover­no do Distrito Federal por qua­tro vezes e que marcou a vida política da Capital com muitas obras e realizações. Meus senti­mentos à sua família.”

Governador de Goiás José Eliton (PSDB)

“Meu grande pesar a todos amigos e familiares do ex-gover­nador Joaquim Roriz, especial­mente à sua mulher, Weslian e as filhas Wesliane, Liliane e Ja­queline. Roriz deixou nas suas gestões as suas marcas como um gestor público preocupa­do com os mais humildes, além das obras impactantes, como a Ponte JK, até hoje um dos car­tões-postais de Brasília.”

Prefeito de Goiânia, Iris Rezende (MDB)

“Sempre preocupado com o seu semelhante, Roriz, como era mais conhecido, prestou gran­des serviços a Goiás, onde ini­ciou sua carreira política, in­clusive à frente da Prefeitura de Goiânia. Por isso, recebo consternado essa notícia so­bre o meu amigo que deixará saudade e peço a Deus que con­forte o coração dos familiares, amigos e admiradores”.

Governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB)

“Roriz foi o governador mais importante de Brasília desde Jus­celino Kubitscheck, teve uma sen­sibilidade muito grande com os mais pobres, especialmente em relação à habitação, e também em obras estratégicas para Bra­sília, como o metrô e a barragem de Corumbá 4, que foram reali­zadas por Roriz, mostrando uma visão de futuro. Todos nós, nes­te momento, temos que nos so­lidarizar à sua família, aos seus amigos, aos milhões de brasilien­ses que apreciam, apreciavam e têm muito respeito por Roriz. Nós vamos decretar luto oficial e ao mesmo tempo vamos nos co­locar à disposição da família. Roriz merece todas as homena­gens da população brasiliense.”

Liliane Roriz, filha de Joaquim Roriz

“Muito difícil perder o pai que eu tive, um homem tão impor­tante para essa cidade. Brasília perdeu um grande homem, um homem que cuidou dessa cida­de como ninguém. Acho que não teve um político nessa cidade que amasse tanto Brasília quanto meu pai. Ele cuidou de tudo, cui­dou dos pobres, de tudo aquilo que ele pudesse alcançar e aju­dar. Pensou na água, pensou no transporte, pensou em moradia, pensou na fome das pessoas. Meu pai foi um homem feliz. Hoje é um dia especial pra gente, o pa­pai falece no dia de São Vicente de Paulo, que era o guardião dos pobres. Nós vamos prestar uma grande homenagem para ele no Memorial JK. Eu quero convidar Brasília para se despedir do Joa­quim Roriz, um homem públi­co bom, um homem público que merece aplausos, um pai ma­ravilhoso, um avô muito bom. Convido toda cidade a partici­par junto com a gente da despe­dida desse homem que amava tanto essa cidade.”

Joaquim Roriz Neto, neto de Joaquim Roriz

Nas redes sociais: “Brasília está órfã, meu avô partiu. Deus ordenou que tudo na vida tives­se um inicio e um fim. E tudo que nos acontece, é através da von­tade de Deus. Estou profunda­mente desolado. Já percebo o va­zio de sua ausência. Mas tudo que ele fez, pelo distrito federal, e por Brasília, continuará sem­pre presente. Eu sabia que esse dia iria chegar. Mas não pensei que seria de forma tão rápida. É como se tivessem puxado o ta­pete debaixo dos meus pés. Joa­quim Roriz é a grande referencia que eu tenho, porque sua dispo­sição para fazer o bem era imba­tível. Ele fez uma vida toda pau­tada pela política. E eu nunca sabia onde terminava o políti­co, e onde começava o meu avô.”

Agnelo Queiroz (PT), ex-governador do DF

“O Distrito Federal amanhe­ceu com uma profunda triste­za pela morte do ex-governador Joaquim Roriz, que sem dúvida alguma é uma das mais impor­tantes referências políticas que temos na nossa cidade. Roriz foi especial para Brasília e realizou obras importantes para o povo do DF. Estivemos em campos opostos ideológica e politicamente, mas sempre nos tratamos de manei­ra respeitosa. Tivemos uma rela­ção institucional muito saudá­vel. Seu legado será lembrado com apreço e respeito.”

Cristovam Buarque (PPS), senador e ex-governador do DF

Por assessoria de imprensa:”O senador Cristovam Buarque aca­ba de suspender temporariamen­te sua agenda de campanha, em respeito a Joaquim Roriz, que fa­leceu nesta manhã. Cristovam Buarque afirmou que o ex-go­vernador ‘foi o político mais em­blemático de Brasília e que, para ele, será sempre uma honra ter tido um opositor da estatura de Joaquim Roriz’.”

Maria de Lourdes Abadia (PSB), ex-governadora do DF

“Nós acompanhamos a via­-sacra da doença dele. Por mais que a gente estivesse ciente do es­tado de saúde, recebi a notícia com muita tristeza. Tive o privi­légio de ser a vice dele. Roriz an­tecipou o futuro. O legado que ele deixa é o amor incondicional pe­los pobres. Brasília e o meu co­ração estão de luto. Perdemos um gigante.”

Alberto Fraga (DEM), candidato ao governo do DF

“A gente perde um grande líder no mundo da política e não tem nada nessa cidade que a gente não lembre do Roriz. As grandes obras sempre foram do governo dele, nossas cidades que hoje se transformaram numa realida­de foram obra dele. É um nome inesquecível que todos nós va­mos sentir muito a ausência dele e digo mais: hoje, a gente vive no momento conturbado, de divisão política. Se tivesse a presença ati­va do Roriz, isso não teria acon­tecido, porque ele nunca deixou o grupo se dividir. Infelizmen­te, ele nos deixa numa época de eleição, onde todos nós lamenta­mos muito a perda dele. A gente tem que fazer o máximo de ho­menagens a essa pessoa pública que foi tão importante na vida de cada brasiliense.”

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