O deputado federal e médico Zacharias Calil (DEM-GO) ressalta que seu posicionamento quanto ao tratamento precoce de pacientes diagnosticados com a Covid-19 nada mais é do que o cumprimento do ofício da medicina, que no caso de falta de tratamento conhecido e comprovado cientificamente, delega ao profissional médico intervir e aplicar o procedimento que entender, de acordo com seus conhecimentos, mais adequado contra a doença.
“O que está acontecendo neste período de luta contra a Covid-19 é semelhante ao que nós, médicos, vivenciamos em várias situações. Só que agora de forma mais acentuada, devido ao grande número de casos de uma doença que ainda não tem tratamento específico. Então, cabe ao médico que atender o paciente recomendar e usar o tratamento mais adequado para combater os sintomas que esse paciente apresenta, já que não existe um medicamento contra a doença em si”, explica Zacharias.
Ele defendeu o tratamento precoce, inclusive em reunião técnica da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, da qual ele faz parte na Câmara dos Deputados, para que se possa evitar a falta de leitos de UTIs para pacientes em estado grave, como acontece em todo o país, inclusive em Goiás.
Zacharias ressalta e concorda com a Associação Médica Brasileira (AMB), que nno domingo, 19/07, veio a público, por meio de nota, defender a autonomia dos médicos na prescrição de medicamentos a pacientes enfermos em casos da não existência de tratamento comprovado cientificamente para a doença da qual esse paciente foi acometido, como por exemplo a Covid-19. “É bastante provável que cheguemos ao final da pandemia sem evidências consistentes sobre tratamentos”, diz a nota, sobre a Covid-19.
Contra politização
Da mesma forma que a AMB, Zacharias critica as intervenções nas medidas tomadas pela comunidade médica e a politização de mais esse tema relativo ao tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. “Os holofotes da sociedade voltados para a pandemia, e em especial para a classe médica, por vezes acabam alimentando vaidades e ofuscando a percepção sobre a tênue fronteira entre o campo técnico-científico e o campo político/ideológico/partidário”, diz a nota.
Assim como a questão dos cuidados que muitas entidades e governos dizem ter sem também haver comprovação e estudo científico ao defender que não se faça o uso de alguns medicamentos — o que o deputado Zacharias Calil tem criticado, pois isso desconsidera a opinião do médico que conhece o diagnóstico do paciente — a AMB reforçou que não se pode permitir que “ideologias e vaidades, de forma intempestiva, alimentadas pelos holofotes, nos façam regredir em práticas já tão respeitadas. Não se pode clamar por ciência e adotar posicionamentos embasados em ideologia ou partidarismo, ignorando práticas consolidadas na medicina.”
A AMB tratou da questão citando a hidroxicloroquina. Já o deputado Zacharias Calil defendeu na semana passa a utilização da ivermectina no tratamento precoce. “Fiz o uso de ivermectina e familiares meus, também”, disse ele, durante coletiva realizada no dia 13 para assinatura do novo decreto do governo de Goiás que regulamentou a abertura do comércio. “Se houver alteração na oximetria e na tomografia do paciente que apresente sintomas, entra com o tratamento. Isso pode evitar que o paciente vá para a UTI. É tratar de maneira preventiva e com melhor resultado”, defendeu Zacharias.
Em sua nota, a AMB lamentou o que ela chama de derby político em torno da hidroxicloroquina. “Deixará um legado sombrio para a medicina brasileira, caso a autonomia do médico seja restringida, como querem os que pregam a proibição da prescrição da hidroxicloroquina. Essa restrição vai contra a própria Declaração de Helsinque.”
A AMB reforçou que é signatária da Declaração de Helsinque, da WMA, juntamente com associações médicas de centenas de países, e que tem o compromisso de defender a preservação da autonomia do médico, ao afirmar que também defenderá o Parecer 4/2020 do Conselho Federal de Medicina, que disciplina o assunto.
A Declaração de Helsinque defende que “no tratamento de um paciente individual, em que não existem intervenções comprovadas ou outras intervenções conhecidas foram ineficazes, o médico, após procurar aconselhamento especializado, com consentimento informado do paciente ou de um representante legal, pode usar uma intervenção não comprovada se, no julgamento do médico, oferecer esperança de salvar vidas, restabelecer a saúde ou aliviar o sofrimento. Essa intervenção deve ser posteriormente objeto de pesquisa, destinada a avaliar sua segurança e eficácia. Em todos os casos, novas informações devem ser registradas e, quando apropriado, disponibilizadas ao público.”
Comprovando a importância da defesa de Zacharias, a nota da AMB diz ser “importante lembrar que o uso off label de medicamentos é consagrado na medicina, desde que haja clara concordância do paciente. E que, sem a prática do off label, diversas doenças ainda estariam sem tratamento. Não se trata de apologia a este ou àquele fármaco. Trata-se de respeito aos padrões éticos e científicos construídos ao longo dos séculos.”