O Ministério Público do Rio apontou que a mulher do ex-assessor Fabrício Queiroz ajudou a desviar R$ 1,1 milhão da Assembleia Legislativa do Rio, por meio do esquema de "rachadinhas" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). A denúncia apresentada à Justiça, estima que deste valor, pelo menos R$ 868 mil tenham abastecido a suposta organição criminosa, liderada pelo filho do presidente Jair Bolsonaro.
Márcia Aguiar, foi alvo de prisão preventiva em julho, mas, diferente do marido, não foi encontrada pela polícia. Ela ficou foragida por 22 dias, até que uma liminar concedida por João Otávio de Noronha, então presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deu o direito de prisão domiciliar ao casal, que está em um apartamento na zona oeste do Rio.
Nas contas de Márcia, a investigação ainda descobriu que ela havia depositados seis cheques em favor da primeira-dama Michelle Bolsonaro. As transações ocorreram em 2011, em que o valor totalizava R$ 17 mil. No entanto, a denúncia oferecida contra Márcia, não menciona os repasses à mulher do presidente.
O Ministério Público, classifica Márcia como integrante do chamado "núcleo executivo" do esquema, composto por servidores "fantasmas" do gabinete de Flávio que recebiam o salário sem bater ponto na Assembleia do Rio. Os investigadores afirmam que ao todo esses grupo teria desviado R$ 6,1 milhões da Assembleia Legislativa, dos quais R$ 2,079 milhões foram repassados diretamente a Queiroz.
Ainda de acordo com a investigação, o dinheiro foi desviado por meio de 268 pagamentos feitos pela Assembleia ao longo dos 127 meses que Márcia atuou como "assessora fantasma" de Flávio Bolsonaro, no decorrer de abril de 2007 a dezembro de 2017.
Conforme o MP, assim que Márcia recebia o salário, ela repassava a maior parte dos rendimentos ao marido. Mesmo tentando despistar o caminho" do dinheiro, a investigação localizou repasses que saíram da conta de Márcia e entraram no saldo de Queiroz no mesmo dia e com os mesmos valores, como afirma a promotoria.
"O cruzamento de dados entre os débitos na conta de Márcia Aguiar e os créditos na conta de Fabrício Queiroz possibilitou identificar ao menos 63 operações em que os valores sacados pela 'assessora fantasma' foram acolhidos na conta do operador da organização criminosa", disse o Ministério Público.
Defesas
Por nota, os advogados Rodrigo Roca, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que defendem Flávio Bolsonaro, classificaram as acusações do Ministério Público como uma "crônica macabra e mal engendrada influenciada por grupos que têm claros interesses políticos".
Quanto a defesa de Queiroz, o advogado Paulo Emílio Catta Preta, disse que pretende fazer a "impugnação das provas acusatórias e produção de contraprovas que demonstrarão a improcedência das acusações e, logo, a sua inocência".
Reunião de Bolsonaro com o desembargador do caso
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro conversou por cerca de duas horas com o corregedor-geral do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), desembargador Bernardo Moreira Garcez Neto, que também imtegra o Órgão Especial do tribunal.
O magistrado deve decidir se aceita ou não a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) no caso das "rachadinhas".
Ao deixar o tribunal por volta das 16h, o desembargador não atendeu à imprensa e chegou a se esconder atrás de uma pilastra para não ser abordado por jornalistas. Por nota, o TJ informou que "não foram tratados assuntos relacionados a processos judiciais". Na versão oficial, Garcez foi chamado ao Planalto para participar de discussões sobre "registros de propriedades".