Em discurso rápido na Avenida Paulista, ontem, 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar o Poder Judiciário, como já havia feito pela manhã, e a criticar prefeitos e governadores pela condução durante a pandemia de covid-19.
Aos milhares de apoiadores que lotaram a via, no entanto, o recado foi eleitoral. "Quero dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília que só Deus me tira de lá", disse. E completou na sequência: "Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."
Ao lado de ministros, Bolsonaro subiu em um carro de som pouco antes das 16h. Começou o discurso citando Deus, agradecendo pela sua vida e pelo apoio de "quase 60 milhões de brasileiros" que o elegeram. Sem citar qualquer um dos problemas que assolam a população - como desemprego, inflação e demora no processo de vacinação -, o presidente mais uma vez defendeu o voto auditável como condição para a eleição de 2022 ao dizer que não "vai aceitar" o resultado de um pleito "sem voto impresso e contagem pública de votos".
Em seguida, fez o primeiro ataque à Justiça. Sem mencionar nominalmente o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou que "não participará de uma farsa patrocinada pelo presidente do TSE". O tom, no entanto, subiu quando o citado passou a ser o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro deu a entender que quer a saída de Moraes da Corte a todo custo. “Ou esse ministro de enquadra ou pede para sair”, disse Bolsonaro.
Depois, disse que a partir de agora desobedecerá ordens de Moraes. "Quero dizer que qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes este presidente não cumprirá", declarou. No mesmo momento, um carro de som passou a pedir “intervenção” ao microfone com o apoio dos manifestantes.
Ao destacar a importância da manifestação de apoio a seu governo - e não necessariamente à data que celebra a Independência do Brasil - , o presidente disse que seus apoiadores obtiveram sucesso na organização de uma "foto para o mundo". Segundo avaliação de Bolsonaro, os atos desta terça são sinal de que “daqui para frente vai ser diferente”, frase que arrancou gritos e aplausos de uma plateia vestida de camisetas verde e amarela.
Já no fim de seu discurso, Bolsonaro voltou a falar de reeleição e disse que só deixa o cargo se for a vontade de Deus. Aos apoiadores, afirmou: "Nesse momento, eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus, pela minha vida e pela missão, e dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília que só Deus me tira de lá." Em seguida, o presidente afirma que há três opções para o seu futuro político. Disse que pode ser preso, morto ou sair com a vitória''. E completou na sequência: "Quero dizer aos canalhas que eu nunca serei preso."
Presidente faz discurso em Brasília com ataques ao Congresso e Judiciário
O presidente Jair Bolsonaro fez um discurso em tom de ameaça ao Judiciário e ao Congresso para manifestantes que se aglomeram na Esplanada dos Ministérios nesta terça-feira, 7. Sem citar diretamente a quem se referia, o presidente disse que "ou o chefe desse poder enquadra o seu ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos". Ele afirmou que vai convocar o Conselho da República e levar aos presidentes do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, a "foto" do povo nos atos.
O presidente disse que começa um novo momento no País ao fazer um ultimato para os outros poderes. "A partir de hoje, uma nova história começa a ser escrita aqui no Brasil. Peço a Deus mais que sabedoria, força e coragem para bem decidir. Não são fáceis as decisões. Não escolham o lado do confronto. Sempre estarei ao lado do povo brasileiro”, afirmou o presidente, em cima de um carro de som, ao lado de alguns de seus ministros. O discurso não foi transmitido ao vivo, mas divulgado no Facebook do presidente pouco tempo depois.
O Conselho da República citado pelo presidente é um órgão superior de consulta do presidente da República, criado pela Lei 8.041 de 1990 para se pronunciar sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas.
O órgão é dirigido pelo presidente da República e composto também pelo vice- -presidente da República, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, os líderes da maioria e da minoria nas duas Casas, o ministro da Justiça e seis cidadãos brasileiros com idade superior a 35 anos. De acordo com a legislação, o Conselho da República se reunirá por convocação do presidente da República e suas audiências serão realizadas com o comparecimento da maioria dos conselheiros.
Atos do “Fora Bolsonaro” e Grito dos Excluídos em mais de 200 cidades
As manifestações contra o governo de Jair Bolsonaro e a 27ª edição do Grito dos Excluídos ocuparam as ruas de mais de 200 cidades do Brasil e do exterior nesta terça-feira (7). Realizadas desde 1995, em contraponto às manifestações oficiais que marcam o feriado da Independência data, o Grito dos Excluídos soma-se novamente às manifestações da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, ao lado de centrais sindicais e movimentos populares.
As manifestações do Fora Bolsonaro, o chamado #7SForaBolsonaro, foram programadas para ocorrer em todos os estados, no Distrito Federal e em oito países. Na cidade de São Paulo, a jornada de luta do Grito dos Excluídos começou com uma ação de solidariedade, organizada pela Pastoral do Povo de Rua, coordenada pelo padre Júlio Lancellotti.
O pároco e movimentos em defesa da população em situação de rua realizaram na Praça da Sé, região central, às 10h, um café da manhã para cerca de 2 mil pessoas sem teto. Do local, eles seguiram em um ato político com caminhada até a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu, distante pouco mais de um quilômetro.
Às 14h, o Grito dos Excluídos sesomou às manifestações e pelo Fora Bolsonaro no Vale do Anhangabaú, também no centro histórico. O objetivo, segundo os movimentos, é disseminar o lema “Vida em Primeiro Lugar” e denunciar o aumento do desemprego, da fome, da carestia, do preço das tarifas de energia e da falta de comida no prato. E também defender a democracia”.
A ação de solidariedade se repetiu em Brasília, onde o protesto ocorreu na Torre da TV e teve arrecadação de alimentos. Na região se somaram aos protestos os milhares de indígenas que aguardam, há mais de uma semana, o julgamento da tese do marco temporal no Acampamento Luta Pela Vida.
Em São Paulo ainda, o ato antidemocrático esteve a pouco mais de 4 quilômetro, na Avenida Paulista, e, por conta da proximidade, os organizadores pediram que manifestantes não respondessem às provocações de grupos bolsonaristas.