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O polêmico adeus ao “guru” do bolsonarismo

A morte do escritor e ideólogo da direita brasileira Olavo de Carvalho mexe com o povo brasileiro. É verdade que as reações não estão sendo apenas de comoção. Se por um lado o presidente da República, Jair Bolsonaro, emitiu nota lamentando a perda de um “grande pensador” e decretou luto oficial, nas redes sociais explodiram citações críticas sobre o posicionamento negacionista de Carvalho e mesmo celebrações de sua morte. Ele era considerado o “guru” do bolsonarismo.

O escritor morreu na noite de segunda-feira (24), aos 74 anos, em um hospital na região de Richmond, na Virgínia, Estados Unidos, onde morava. O anúncio da morte foi feito pela família do escritor nas redes sociais na madrugada de ontem. A causa não foi divulgada, porém o escritor já havia informado que havia se contaminado pelo coronavírus há 16 dias. É sabido que ano passado sofreu diversos problemas de saúde, que o levou a se internar em São Paulo e nos Estados Unidos.

Não há informações oficiais se Olavo foi vacinado. Em publicações no Facebook fez críticas à Coronavac e chamou-a de “vacina chinesa”. Em outro post no Twitter, disse: “o medo do vírus mortal não passa de uma historinha de terror para acovardar a população de fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel”.

Repercussão
Olavo reforçava outros valores conservadores, como a defesa da família tradicional, amplo direito ao uso de armas e era contra “ideias comunistas”. Tais ideologias são associadas à chamada nova direita e ganharam força com a vitória de Bolsonaro em 2018. Mas Olavo, atualmente, acreditava que o governo estava deixando de lado estes posicionamentos, após a união com o Centrão e fazia diversas críticas a Bolsonaro.

Mesmo assim, já havia declarado voto para ele nas eleições desse ano. O presidente, inclusive, foi um dos primeiros a lamentar a morte. “Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplos e ensinamentos nos marcarão para sempre”, escreveu em suas redes sociais.

Os filhos do presidente, o deputado Eduardo e o vereador Carlos Bolsonaro, fizeram o mesmo em suas redes sociais. "Grande foi sua influência em nossas vidas, não apenas em política, mas também através de ensinamentos valorosos", disse Carlos Bolsonaro.

Também prestaram homenagens os ministros Onyx Lorenzoni (Trabalho), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Gilson Machado (Turismo), e os deputados federais Carlos Jordy (PSL-RJ) e Bia Kicis (PSL-DF).
Enquanto os políticos e pessoas próximas ao governo manifestavam pesar, boa parte da internet lembrava as frases polêmicas de Olavo, principalmente em relação à pandemia, que já matou mais de 5,5 milhões pessoas em todo mundo. Em inúmeros casos, ocorreram literalmente comemorações e desabafos pela morte do bolsonarista, com a expressão “CPF cancelado”, usada por defensores da intolerância zero contra criminosos, tornando-se trend nas redes.

“É um personagem inteiramente negativo no nosso cenário intelectual. Seu legado foi ter trazido uma cultura de insultos no nosso debate público, ou seja, agiu no sentido de degradar e inviabilizar qualquer diálogo”, analisou um internauta nas redes sociais.

“O que escrevia horóscopo e depois vai copilando trechos de filósofos, famosos e aí torna-se o guru da ultra-direita, um facistinha de m*” disse o popular professor Pantaleão, de Goiânia, ex-candidato de partidos de esquerda, em suas redes sociais.

“…Além do mal-finado Olavo, a extrema direita brasileira não tem intelectuais. Neste aspecto, perde até para o Integralismo, que teve, ao menos em seu começo, intelectuais favoráveis. Este niilismo intelectual gera um deserto de ideias, uma paisagem árida e rarefeita, onde, no limite, o próprio niilista morre sozinho vítima do próprio mundo que criou”, comentou outro internauta.

Nem triste, nem feliz
Ao comentar a morte do pai nas redes sociais, a filha de Olavo de Carvalho, Heloísa de Carvalho, que era filiada ao PT e rompeu com o pai em 2017, teceu comentários sobre a seriedade da covid-19 e disse não estar feliz nem triste.

"No dia que o Olavo postou que não tinha uma morte por COVID, perdi uma amiga querida, que era viúva e deixou 3 crianças com menos de 10 anos órfãs. Olavo morreu de COVID, não tem como eu sentir grande tristeza pela morte dele, mas também não estou feliz. Sendo sincera comigo e meus sentimentos"

Perfil
Embora tenha se autoproclamado filósofo, Olavo não tinha formação acadêmica e ganhou popularidade na década de 1980 como articulista conservador ao escrever em grandes veículos brasileiros, como os jornais “Folha de S.Paulo” e “O Globo”.

Após se mudar para os Estados Unidos, alcançou grande público por meio de cursos online e venda de livros com forte retórica conservadora e anticomunista. Seu canal no YouTube, criado em 2007, tem mais de um milhão de inscritos e acumula mais de 68 milhões de visualizações.

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