Por Lauriberto Pompeu
Pelo menos 14 ex-governadores querem disputar vagas de deputado federal em outubro, o que cientistas políticos analisam como um fator relevante para melhorar o debate no Congresso Nacional. Em 2018, apenas três ex-governadores foram eleitos para a Câmara, enquanto vários novatos sem conexão com a política desbancaram líderes experientes e com grande desenvoltura no processo parlamentar.
Entre os ex-chefes do Executivo que agora disputam vaga na Câmara estão o tucano José Serra, que foi governador de São Paulo e prefeito da capital paulista, além de candidato três vezes à Presidência da República. Serra se destaca no debate econômico e foi o único voto contra a PEC Kamikaze no Senado. A disputa para deputado federal também está atraindo a ex-candidata à presidência Marina Silva (Rede).
O Distrito Federal é o caso mais emblemático. Nada menos do que cinco ex-governadores vão tentar uma vaga de deputado federal. Se todos forem eleitos, mais da metade da bancada do DF será formada por políticos com passagem pelo Executivo. Entre os pré-candidatos está José Roberto Arruda, ex-governador e ex-líder do governo Fernando Henrique Cardoso. Após ser convencido pelo PL e visitar o presidente Jair Bolsonaro, Arruda bateu o martelo nesta terça, 19, de que esse seria o caminho mais fácil para voltar à política, após ser condenado por corrupção.
Outros dois pré-candidatos no DF, além de governadores, também acumulam a experiência como ministro: Agnelo Queiroz (PT), dos Esportes, e Cristovam Buarque (Cidadania), da Educação. Estão ainda na disputa Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (Progressistas).
Em alguns casos, políticos optam pela Câmara para serem puxadores de votos. Em outros, protagonistas de escândalos de corrupção visam a sobrevivência política ao tentar um caminho mais fácil de voltar a ter um mandato.
O ex-governadores Germano Rigotto (MDB-RS), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN), Roseana Sarney (MDB-MA), Wilson Martins (PT-PI), Mendonça Filho (União-PE), Beto Richa (PSDB-PR) e Anthony Garotinho (União-RJ) são outros exemplos de políticos que podem disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.
Hoje, apenas Aécio Neves (PSDB-MG), Benedita da Silva (PT-RJ) e Alcides Rodrigues (Patriota-GO) são ex-governadores que exercem mandato de deputados.
Dinâmica
No diagnóstico do professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) Marcelo Weick, a chegada de ex-governadores na Câmara "pode vir a alterar a dinâmica" da Casa e impactar a sucessão de Arthur Lira (Progressistas-AL) na presidência. "Pode contribuir para uma nova morfologia na disputa da Mesa Diretora e na relação entre os principais expoentes do Congresso", observou Weick.
O ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) admite que escolheu buscar um mandato de deputado federal porque teria mais chances de ser eleito. Ele foi preso três vezes, o que o tornaria numa eleição majoritária alvo de ataques. "Sair para deputado federal era o mais apropriado no momento. Mano a mano vem muita maldade. Eu até encaro, não tenho receio, mas não queria submeter a minha família a isso, relembrando o sofrimento", afirmou Richa.
Bancadas
Outra razão que explica a escolha de ex-governadores para concorrer a deputado federal é a estratégia dos partidos em formarem grandes bancadas na Câmara. Como a eleição para deputado federal é proporcional, vale a soma dos votos recebidos pelo partido. É o tamanho da bancada eleita que define a parte dos fundos eleitoral e partidário que o partido tem direito, além do tempo de TV no horário eleitoral.
Pensando justamente nisso, o MDB escalou os ex-governadores Garibaldi Alves Filho (RN), Roseana Sarney (MA) e Germano Rigotto (RS) para disputarem vagas de deputados federais em seus Estados. Os três políticos foram malsucedidos nas últimas tentativas de voltar ao Executivo estadual ou ao Senado, mas são conhecidos do eleitor local e são considerados bons cabos eleitorais para a Câmara.
As pesquisas apontam que, em geral, as pessoas escolhem o deputado federal pelo nome, e não pela filiação partidária.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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