
Ao visitar o Museu Pedro Ludovico Teixeira, na rua dona Gercina Borges, no Centro de Goiânia, o turista ou goiano tem o prazer de voltar ao passado que pavimenta a construção da Capital.
Também realiza uma imersão na vida social e política de Goiás.
O museu abre durante os dias de semana - fora segunda-feira - e no sábado.
O visitante entra dentro da casa particular do ex-governador de Goiás e adentra também nas décadas de 1930, 40, 50, 60, 70, em uma digressão que remete aos fatos que marcam nosso processo de socialização e memória.
O DM visitou a casa em um sábado. O monitor participou de toda permanência, guiando o visitante pelas salas, depois cozinha, quartos, banheiros e área externa.
De fora, é possível ver a piscina desativada, que Pedro fez para os filhos, mas que depois aposentou devido a profundidade ameaçadora.
Nas paredes, fotos históricas, menções a Getúlio Vargas e a grande quantidade de referências familiares.
Dentro, aparelhos de época, como geladeiras, aspirador de pó, equipamento de som, mesas e cadeiras.
No quarto, uma mancha na cabeceira sugere que Pedro lia muito e a irregularidade entrega o descanso que ele fazia exatamente naquele lugar.
A máscara mortuária feita pelo escultor grego-goiano Angelos Ktenas revela em 3D o rosto magro e longo de Pedro.
Construída a partir de projeto de Atílio Corrêa Lima, entre 1934 e 1937, a residência sediou muitos diálogos públicos-políticos, mas também guarda a vida privada de Pedro e da esposa Gercina, que ali educaram seus filhos - incluindo o ex-governador Mauro Borges, cuja permanência na vida pública também marcou Goiás.

Criado em 1987, o museu é gerido pelo Governo de Goiás, que adquiriu a casa e se comprometeu a cuidar de seu acervo.
Ideologicamente, é evidente que o museu contribui com o fortalecimento de Pedro como mito político - algo já amplamente questionado em estudos acadêmicos, mas que não diminui a estatura do líder.
A narrativa - ao entrar na casa - é de que Pedro agiu com determinação e estadismo ao romper de Rio Verde e enfrentar as forças políticas da época, notadamente a família Caiado, que governava Goiás até a tomada de poder protagonizada por Pedro, apadrinhado por Getúlio Vargas.
Objetos
É exatamente neste capítulo que se construiu a mitologia em torno de Pedro. Ao visitar sua casa é possível comprovar várias teses sustentadas ao longo do tempo, como a erudição do médico que se transformou em político ou na consolidação de sua estrutura familiar.
Visitar o museu é ter contato com objetos de uma época - como a primeira tevê colorida de Goiás ou, como já dito antes, a primeira piscina particular.
As implicações de Pedro na estrutura de poder e seu sucesso - cujo monumemto é justamente sua história corporificada em um museu - acendem outras reflexões.
Afinal, já temos suficientemente o nome de Pedro em quase tudo - bairro, palácio, estádio, escolas, avenidas. Talvez seja a hora de batizarmos com outros nomes os monumentos e praças, dando maior relevância a narrativas diversas das inúmeras políticas de Goiás. Assim, o próprio ex-senador Totó Caiado (Antônio Ramos Caiado), ex-ministro Alfredo Nasser, ex-governador José Xavier de Almeida, ex-ministro Guimarães Natal ( que integrou o Supremo Tribunal Federal) e ex-ministro Leopoldo de Bulhões deveriam ter alguma forma ou mecanismo para serem lembrados com modelos tão eficazes quanto os sistemas utilizados pelos adeptos do ludoviquismo. É um desafio para os gestores atuais, cujo legado dos administradores anteriores é sinônimo de esquecimento.
Serviço
Endereço: Rua Dona Gercina Borges Teixeira, nº 133, Setor Central
Telefone: (62) 3201-4678
Horário: De terça-feira a sábado, das 8 às 12h, e das 13h às 17h
E-mail: [email protected]

Política de Goiás exige museus que preservem a diversidade
Historicamente, a política em Goiás se estrutura em dois blocos principais: situação e oposição. Diga-se: quase sempre a situação foi oposição em algum momento e, de repente, conquistou o poder.
Mais forte do que partidos, as famílias guardam as memórias políticas do Estado.
O Museu Pedro Ludovico Teixeira registra e protege apenas parte desta história. Ou uma única versão.
Ao longo das eleições, não existiu em Goiás espaço significativo para uma terceira via ou para o desenvolvimento de correntes ideológicas socialistas, por exemplo. Mas existem outras famílias, oligarquias e lideranças carismáticas.
Desta forma, o pensamento político goiano mantém um caráter conservador, influenciado principalmente por laços familiares ou por líderes que conquistaram a opinião pública nas décadas finais do século passado.
No início do século 20, a disputa política no estado era protagonizada por Xavier de Almeida (1871-1956), do Partido Republicano Federal (PRF), e seguidores e indicados de Totó Caiado (1874-1967), do Partido Democrata. Essas duas famílias, originárias de Morrinhos e Goiás, competiam pelo controle político do estado. Em 1909, com a chamada Revolução de Goiás, os Caiados reassumiram o poder, afastando definitivamente os aliados de Xavier de Almeida. Esse evento gerou uma ruptura política que perdurou até 1930, quando outro movimento revolucionário retirou os Caiados da administração estadual.
A ascensão de Getúlio Vargas trouxe uma nova configuração política ao estado: a era de Pedro Ludovico. Estabelecendo uma rivalidade entre os Caiados-Bulhões e Pedro Ludovico, a nova ordem federalizou a disputa política, desequilibrando as forças que aqui se antagonizavam. Décadas mais tarde, o ludoviquismo se fortaleceu novamente com Mauro Borges, filho de Pedro Ludovico, que enfrentou os herdeiros do caiadismo ou seus admiradores, cujo maior exemplo era Alfredo Nasser - jornalista de importância política nacional que transcende até mesmo a de Pedro Ludovico, que teve importância política provinciana.

O antagonismo Ludovicos-Caiados, ainda que descaracterizado após a forte pressão do getulismo em Goiás, manteve em jogo as forças antagônicas acesas. Estas, por sua vez, aderiram à União Democrática Nacional (UDN) e herdeiros do PSD. Daí que nunca é difícil voltar ao tempo e reconstituir nossa história em museus cuja métrica seja a diversidade.